Em novembro de
2010, o jornal italiano Avvenire entrevistou Monsenhor Guido Marini, Mestre das
Celebrações Litúrgicas do Santo Padre, sobre o sentido do tempo do Advento. Segue nossa tradução do original italiano, publicado no site da Santa Sé:
Qual
é o significado do Advento?
O Advento é o
tempo da espera. Da espera que faz referência a uma vinda, que é a vinda do
Senhor Jesus, o Filho de Deus, o único Salvador do mundo. O povo cristão, neste
tempo forte do ano litúrgico, vive a própria fé renovando a consciência alegre de
uma tríplice vinda do Senhor, aquela de que falaram também os Padres da Igreja.
Uma primeira
vinda, da qual fazemos grata memória, é aquela do Filho de Deus na história dos
homens, no momento da Encarnação. Uma segunda vinda é aquela que se realiza no
hoje da vida, e que é incessante. Esta toma forma em uma multiplicidade de modos,
a começar da Eucaristia, presença real do Senhor em meio aos seus, e
continuando com os sacramentos, a Palavra da Divina Escritura, os irmãos,
especialmente se pequenos e necessitados. Uma terceira vinda, a aguardar na
esperança, é aquela que se realizará no fim dos tempos, quando o Senhor
retornará na glória e tudo será renovado n’Ele.
Igualmente, no
tempo do Advento o povo cristão é chamado a renovar a consciência que a sua
vida é toda contida no mistério de Cristo, Aquele que era, que é e que vem.
Também por isto, o Advento é um tempo marcadamente “mariano”. A Santíssima
Virgem é aquela que de modo único e irrepetível viveu na espera do Filho de
Deus, é aquela que de modo singular é toda contida no mistério de Cristo.
De
que modo os simples fiéis e as comunidades cristãs podem ajudar-se a viver
melhor este momento forte do tempo litúrgico da Igreja?
Entrando neste
tempo com uma atitude interior de quem se prepara para viver um período de
conversão e de renovação, orientando decididamente a própria vida ao Senhor
Jesus.
A Igreja, com o
ano litúrgico, oferece periodicamente a graça de viver momentos espiritualmente
fortes, ocasiões propícias para retornar com entusiasmo ao caminho para a
santidade. No Advento tal entusiasmo possui um sentido singular, que é aquele
da alegria. A alegria ao pensar que o Senhor já se mostrou no seu rosto de amor
misericordioso e inimaginável. A alegria ao pensar que o Senhor é nosso
contemporâneo e está próximo a nós hoje, no presente da nossa existência, no
cotidiano simples das nossas jornadas. A alegria ao pensar que o futuro não
está envolto na obscuridade, mas resplandece da luz do Céu de Deus em Cristo.
Todo isto
transforma a experiência de vida em virtude de um caminho pessoal e comunitário
de conversão, realizado por uma mais intensa e prolongada oração, de alguma
forma penitencial e do distanciamento da mentalidade do século presente, de uma
caridade mais generosa e autenticamente cristã.
Quais
são as características das celebrações neste período?
A liturgia,
através dos ritos e das orações, conduz à participação ativa do mistério
celebrado. Portanto, nas celebrações do tempo do Advento, deve transmitir o
senso da espera típico do Advento. Deve fazê-lo com suas orações, com seu
canto, com seu silêncio, com suas cores e com suas luzes. Em tudo deve fazer
presente o mistério do Senhor que vem, Ele que é o Princípio e o Fim da
história; em tudo deve-se perceber de algum modo tocável a alegria verdadeira e
sóbria da fé; em tudo deve transparecer o empenho para a mudança do coração e
da mente a uma pertença mais radical a Deus.
E
quais as particularidades da liturgia pontifícia?
Ainda que em um
contexto específico, aquele devido à presença do Santo Padre, as liturgias pontifícias
não podem deixar de apresentar as características típicas deste tempo do ano.
Com uma nota a mais: a exemplaridade. Porque não se pode esquecer que as
celebrações presididas pelo Papa são chamadas a ser ponto de referência para a
Igreja inteira. É o Papa o Sumo Pontífice, o grande liturgo na Igreja, aquele
que, também através das celebrações, exercita um verdadeiro e próprio
magistério litúrgico ao qual todos devem convergir.
Este
ano em particular a liturgia das Primeiras Vésperas do Advento foi inserida em
uma “Vigília pela vida nascente”. Qual é o significado desta particular
“combinação”?
Trata-se de uma
combinação que está se revelando feliz. A iniciativa de uma “Vigília pela vida
nascente”, promovida pelo Pontifício Conselho para a Família, vem desta forma
inserir-se na celebração do início do Advento, um tempo muito propício para
recordar o tema da vida. O Advento é o tempo da espera de Maria, que trazia no
seio o Verbo de Deus feito carne. O Advento é a espera da verdadeira Vida,
aquela que se manifestou no Filho de Deus feito homem, plenitude e cumprimento
do desígnio de Deus para a humanidade. Naquela Vida, surgida em Belém, encontrou-se
um significado novo e definitivo à dignidade de cada vida humana encontrou
significado novo e definitivo. Assim, verdadeiramente, rezar pela vida
nascente, no contexto das Primeiras Vésperas do início do ano litúrgico,
resulta significativo e providencial.
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