segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Ângelus do Papa: IV Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 30 de janeiro de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Na Liturgia de hoje, o Evangelho narra a primeira pregação de Jesus na sua cidade, Nazaré. O êxito é amargo: em vez de receber aprovação, Jesus encontra incompreensão e até hostilidade (cf. Lc 4,21-30). Os seus concidadãos, mais do que uma palavra de verdade, queriam milagres, sinais prodigiosos. O Senhor não os realiza e eles rejeitam-no, pois dizem que já o conheciam desde criança, que é o filho de José (v. 22) e outras coisas mais. Então, Jesus pronunciou uma frase que se tornou proverbial: «Nenhum profeta é bem aceito na sua pátria» (v. 24).
Estas palavras revelam que o fracasso para Jesus não foi totalmente inesperado. Conhecia o seu povo, conhecia o coração do seu povo, conhecia o risco que estava a correr e previa a rejeição. Então podemos perguntar-nos: se é assim, se previa o fracasso, por que foi à sua cidade? Por que fazer o bem a pessoas que não estão dispostas a aceitá-lo? É uma pergunta que nos fazemos com frequência. Contudo, é uma questão que nos ajuda a compreender melhor a Deus. Face aos nossos fechamentos, Ele não retrocede: não põe limites ao seu amor. Perante os nossos fechamentos, Ele vai em frente. Vemos um reflexo disto nos pais que estão conscientes da ingratidão dos filhos, mas não deixam de amá-los e de fazer-lhes o bem. Deus é assim, mas a um nível muito mais elevado. E hoje também nos convida a acreditar no bem, a nunca deixar de procurar fazer o bem.
Mas no que aconteceu em Nazaré, encontramos outro aspecto: a hostilidade para com Jesus por parte dos “seus” provoca-nos: eles não foram acolhedores, e nós? Para verificar isto, vejamos os modelos de acolhimento que Jesus propõe hoje, aos seus concidadãos e a nós. São dois estrangeiros: uma viúva de Sarepta, na Sidônia, e Naamã, o sírio. Ambos acolheram profetas: a primeira acolheu Elias, o segundo Eliseu. Mas não foi uma recepção fácil, passou através de experiências. A viúva hospedou Elias, apesar da carestia e embora o profeta fosse perseguido (cf. 1Rs 17,7-16), era um perseguido político-religioso. Naamã, por sua vez, não obstante fosse uma pessoa de nível muito elevado, aceitou o pedido do profeta Eliseu, que o levou a humilhar-se, a banhar-se sete vezes num rio (cf. 2Rs 5,1-14), como se fosse uma criança ignorante. A viúva e Naamã, em suma, acolheram através da disponibilidade e da humildade. O modo de acolher Deus é estar sempre disponível, acolhê-lo e ser humilde. A fé passa por isto: disponibilidade e humildade. A viúva e Naamã não rejeitaram os caminhos de Deus e dos seus profetas; foram dóceis, não rígidos nem fechados.
Irmãos e irmãs, Jesus também segue o caminho dos profetas: apresenta-se como não o esperaríamos. Aqueles que procuram milagres não O encontrarão - se procurarmos milagres não encontraremos Jesus - aqueles que procuram novas sensações, experiências íntimas, coisas estranhas; aqueles que procuram uma fé feita de poder e de sinais exteriores não O encontrarão. Não, eles não O encontrarão. Apenas aqueles que aceitam os seus caminhos e desafios, sem queixas, sem suspeitas, sem críticas nem caras feias, O encontrarão. Jesus, por outras palavras, pede-nos que O acolhamos na realidade quotidiana que vivemos; na Igreja de hoje, como ela é; naqueles que estão próximos todos os dias; na vida concreta dos necessitados, nos problemas das nossas famílias, nos pais, nos filhos, nos avós, ali acolhemos Deus. Ali está ele, convidando-nos a purificar-nos no rio da disponibilidade e em muitos banhos saudáveis de humildade. Precisamos de humildade para encontrar Deus, para nos deixarmos encontrar por Ele.
E nós, somos acolhedores ou parecidos com os seus concidadãos, que pensavam saber tudo sobre ele? “Estudei teologia, fiz o curso de catequese... Sei tudo sobre Jesus!”. Sim, como um estulto! Não sejas estúpido, não conheces Jesus. Talvez, após tantos anos de fé, pensamos que conhecemos bem o Senhor, muitas vezes com as nossas ideias e julgamentos. O risco é acostumarmo-nos, acostumarmo-nos a Jesus. E como nos habituamos? Fechando-nos, fechando-nos à sua novidade, ao momento em que Ele bate à porta e nos diz algo novo, Ele quer entrar em nós. Devemos sair deste permanecer fixados nas nossas posições. O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples. E quando uma pessoa tem uma mente aberta, um coração simples, tem a capacidade de se surpreender, de se maravilhar. O Senhor surpreende-nos sempre, esta é a beleza do encontro com Jesus. Que Nossa Senhora, modelo de humildade e disponibilidade, nos mostre o caminho para acolher Jesus.

A rejeição a Jesus na sinagoga de Nazaré - Nikolay Ge (esboço)

Fonte: Santa Sé.

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