Um
dos momentos mais significativos do Grande Jubileu foi a Celebração
do Perdão presidida pelo Papa João Paulo II na Basílica de São Pedro no I Domingo
da Quaresma, no dia 12 de março do ano 2000.
Já
nos documentos preparatórios, a Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente e a Bula Incarnationis Mysterium, o Papa havia destacado a dimensão de
“purificação da memória” do Ano Santo. Por isso, na celebração do I Domingo da
Quaresma o Sucessor de Pedro pediu perdão ao Senhor pelos pecados passados e
presentes dos filhos da Igreja.
A
celebração também foi precedida de um estudo da Pontifícia Comissão Teológica
Internacional, intitulado “Memória e reconciliação: A Igreja e as culpas do passado”, que fundamentou teologicamente o gesto do Papa, o qual gerou algumas
controvérsias na época.
A celebração
A
Celebração do Perdão teve lugar dentro da Missa do I Domingo da Quaresma
presidida pelo Papa João Paulo II na Basílica de São Pedro, na forma de uma
pequena “estação quaresmal”: houve um momento inicial de oração junto à Porta Santa, a procissão com o canto da Ladainha de Todos os Santos e a Celebração
Eucarística.
Junto
do altar foi colocado o crucifixo da igreja romana de San Marcello al Corso, um crucifixo de madeira do século XIV tradicionalmente venerado durante os
Jubileus, gesto repetido pelo Santo Padre no final do rito penitencial.
A
estação inicial teve lugar junto à Porta Santa da Basílica, diante da imagem da
Pietà, de onde o Papa iniciou a celebração com o sinal da cruz, a saudação e
uma oração inicial. Seguiu-se a procissão com o canto da Ladainha de Todos os
Santos até o altar central.
Chegando
ao altar, o Pontífice recitou a oração do dia e a celebração prosseguiu como de
costume. Após a homilia teve lugar o rito penitencial, na forma de uma Oração
Universal, como na Sexta-feira Santa:
Depois
de uma monição introdutória e alguns instantes de oração silenciosa, segiuu-se o mesmo rito por sete vezes: um
dos Cardeais da Cúria Romana recitava um convite à oração, seguido de um
instante de silêncio e concluído com a oração do Santo Padre. Em seguida,
enquanto o coro e a assembleia entoavam o refrão “Kyrie eleison” (Senhor, tende
piedade), o Cardeal acendia uma lâmpada diante do crucifixo.
Após os sete pedidos de perdão, João Paulo II recitou uma oração
conclusiva e beijou o crucifixo tanto como sinal de veneração quanto como de pedido de perdão. A partir deste momento, a Missa do I Domingo da Quaresma prosseguiu como de
costume.
Segue
abaixo o texto utilizado no rito penitencial, em uma tradução livre feita pelo
nosso blog:
Oração
Universal
Confissão
das culpas e pedido de perdão
Monição inicial
Santo
Padre: Irmãos e irmãs, supliquemos com confiança a
Deus nosso Pai, misericordioso e compassivo, lento na ira, grande no amor
e na fidelidade, para que acolha o arrependimento do seu povo, que
confessa humildemente as próprias culpas,
e lhe conceda a sua misericórdia.
e lhe conceda a sua misericórdia.
Todos
rezam por alguns instantes em silêncio.
I.
Confissão dos pecados em geral
Cardeal
Bernardin Gantin, Decano do Colégio dos Cardeais:
Oremos
para que a nossa confissão e o nosso arrependimento sejam inspirados pelo
Espírito Santo, a nossa dor seja consciente e profunda, e para que,
considerando com humildade as culpas do passado, em uma autêntica «purificação
da memória», nos empenhemos em um caminho de verdadeira conversão.
Santo
Padre: Senhor Deus, a tua Igreja peregrina, sempre por ti
santificada no sangue do teu Filho, em todo o tempo conta no seu seio com
membros que refulgem pela santidade e outros que na desobediência a ti
contradizem a fé professada e o santo Evangelho. Tu, que permaneces fiel mesmo
quando nós nos tornamos infiéis, perdoa as nossas culpas e concede-nos sermos
tuas autênticas testemunhas entre os homens. Por Cristo, nosso Senhor. R. Amém.
Cantor: Kyrie, eleison; Kyrie, eleison;
Kyrie, eleison.
Assembleia: Kyrie, eleison; Kyrie, eleison;
Kyrie, eleison.
É
acesa uma lâmpada diante do Crucifixo.
II.
Confissão das culpas no serviço da verdade
Cardeal
Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé:
Oremos
para que cada um de nós, reconhecendo que também homens da Igreja, em nome da
fé e da moral, recorreram por vezes a métodos não evangélicos no solene empenho
da defesa da verdade, saiba imitar o Senhor Jesus, manso e humilde de coração.
Oração
em silêncio.
Santo
Padre: Senhor, Deus de todos os
homens, em certas épocas da história os cristãos às vezes cederam a métodos de
intolerância e não seguiram o grande mandamento do amor, deturpando assim o
rosto da Igreja, tua Esposa. Tem misericórdia dos teus filhos pecadores e
acolha o nosso propósito de buscar e promover a verdade na doçura da caridade,
bem sabendo que a verdade não se impõe senão em virtude da própria verdade. Por
Cristo, nosso Senhor. R. Amém.
R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie,
eleison.
É
acesa uma lâmpada diante do Crucifixo.
III.
Confissão dos pecados que comprometeram a unidade do Corpo de Cristo
Cardeal
Roger Etchegaray, Presidente do Comitê Central para o Jubileu:
Oremos
para que o reconhecimento dos pecados, que laceraram a unidade do Corpo de
Cristo e feriram a caridade fraterna, aplaine a estrada rumo à reconciliação e
a comunhão de todos os cristãos.
Oração
em silêncio.
Santo
Padre: Pai misericordioso, na
vigília da sua Paixão teu Filho rezou pela unidade dos crentes n’Ele: esses
porém, contradizendo a sua vontade, se opuseram e se dividiram, se condenaram e
combateram entre si. Invocamos com força o teu perdão e te pedimos o dom de um
coração penitente, para que todos os cristãos, reconciliados com ti e entre si
em um só corpo e um só espírito, possam reviver a experiência alegre da plena
comunhão. Por Cristo, nosso Senhor. R. Amém.
R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie,
eleison.
É
acesa uma lâmpada diante do Crucifixo.
IV.
Confissão das culpas nas relações com Israel
Cardeal
Edward Cassidy, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade
dos Cristãos:
Oremos
para que, na recordação dos sofrimentos suportados pelo povo de Israel na
história, os cristãos saibam reconhecer os pecados cometidos por não poucos
deles contra o povo da aliança e das bênçãos, e assim purificar os seus
corações.
Oração
em silêncio.
Santo
Padre: Deus de nossos pais, tu
escolheste Abraão e a sua descendência para que o teu Nome fosse portado às
nações: nós estamos profundamente tristes pelo comportamento de quantos no
curso da história fizeram sofrer estes teus filhos, e pedindo-te perdão
queremos empenhar-nos em uma autêntica fraternidade com o povo da aliança. Por
Cristo nosso Senhor. R. Amém.
R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison, Kyrie,
eleison.
É
acesa uma lâmpada diante do Crucifixo.
V.
Confissão das culpas cometidas com comportamentos contra o amor, a paz, os
direitos dos povos, o respeito às culturas e às religiões
Dom
Stephen Fumio Hamao, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos
Migrantes e Itinerantes:
Oremos
para que na contemplação de Jesus, nosso Senhor e nossa Paz, os cristãos saibam
arrepender-se das palavras e dos comportamentos que às vezes lhes foram
sugeridos pelo orgulho, pelo ódio, pela vontade de domínio sobre os outros,
pela inimizade para com os adeptos de outras religiões e grupos sociais mais
débeis, como aqueles dos imigrantes e dos ciganos.
Oração
em silêncio.
Santo
Padre: Senhor do mundo, Pai de
todos os homens, através do teu Filho tu nos pediste para amar o inimigo, para
fazer o bem àqueles que nos odeiam e para rezar pelos nossos perseguidores.
Muitas vezes, porém, os cristãos negaram o Evangelho e, cedendo à lógica da
força, violaram os direitos de etnias e de povos, desprezando as suas culturas
e suas tradições religiosas: mostra-te paciente e misericordioso conosco e
perdoa-nos! Por Cristo nosso Senhor. R. Amém.
R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie,
eleison.
É
acesa uma lâmpada diante do Crucifixo.
VI.
Confissão dos pecados que feriram a dignidade da mulher e a unidade do gênero
humano
Cardeal
Francis Arinze, Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo
Inter-religioso:
Oremos
por todos aqueles que foram ofendidos na sua dignidade humana e cujos direitos
foram pisoteados; oremos pelas mulheres muitas vezes humilhadas e
marginalizadas, e reconheçamos as formas de conivência das quais também os
cristãos são culpados.
Oração
em silêncio.
Santo
Padre: Senhor Deus, nosso Pai,
tu criaste o ser humano, o homem e a mulher, à tua imagem e semelhança e
quiseste a diversidade dos povos na unidade da família humana; às vezes,
todavia, a igualdade dos teus filhos não foi reconhecida, e os cristãos se
tornaram culpados de atitudes de marginalização e de exclusão, consentindo com
discriminações por motivo de raça e de etnia diversa. Perdoa-nos e conceda-nos
a graça de curar as feridas ainda presentes na tua comunidade por causa do
pecado, de modo que todos se sintam teus filhos. Por Cristo, nosso Senhor.
R. Amém.
R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie,
eleison.
É
acesa uma lâmpada diante do Crucifixo.
VII.
Confissão dos pecados no campo dos direitos fundamentais da pessoa
Dom
François-Xavier Nguyen Van Thuan, Presidente do Pontifício Conselho Justiça e
Paz:
Oremos
por todos os seres humanos do mundo, especialmente pelos menores vítimas de
abusos, pelos pobres, os marginalizados, os últimos; oremos pelos mais
indefesos, os não-nascidos abortados no seio materno, ou mesmo utilizados para
fins experimentais por quantos têm abusado das possibilidades oferecidas pela
bio-tecnologia, distorcendo os propósitos da ciência.
Oração
em silêncio.
Santo
Padre: Deus, nosso Pai, que
sempre escutas o grito dos pobres, quantas vezes os cristãos não te
reconheceram em quem tem fome, em quem tem sede, em quem está nu, em quem é
perseguido, em quem está preso, em quem está privado de toda possibilidade de
autodefesa, sobretudo nos estágios iniciais da existência. Por todos aqueles
que cometeram injustiças confiando na riqueza e no poder, e desprezando os «pequenos», particularmente
queridos a ti, nós te pedimos perdão: tende piedade de nós e acolhe o nosso
arrependimento. Por Cristo nosso Senhor. R.
Amém.
R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie,
eleison.
É
acesa uma lâmpada diante do Crucifixo.
Oração
conclusiva
Santo
Padre: Ó Pai misericordioso,
teu Filho Jesus Cristo, juiz dos vivos e dos mortos, na humildade da primeira
vinda resgatou a humanidade do pecado, e no seu glorioso retorno pedirá contas
de toda culpa: aos nossos pais, aos nossos irmãos e a nós teus servos, que
movidos pelo Espírito Santo retornamos a ti arrependidos de todo o coração,
concede a tua misericórdia e a remissão dos pecados. Por Cristo nosso Senhor.
R.
Amém.
O
Santo Padre em sinal de penitência e de veneração abraça e beija o Crucifixo.
Fonte: Giornata del perdono - Presentazione / Preghiera Universale.
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