Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 15 de março de 2020
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O trecho evangélico deste terceiro
domingo da Quaresma apresenta o encontro de Jesus com uma Samaritana (cf. Jo 4,5-42).
Ele está a caminho com os seus discípulos e param perto de um poço em Samaria.
Os samaritanos eram considerados hereges pelos judeus, e muito desprezados,
como cidadãos de segunda categoria. Jesus está cansado, tem sede. Uma mulher
vem buscar água e ele pede-lhe: «Dá-me de beber» (v. 7). Assim, rompendo
todas as barreiras, começa um diálogo em que revela àquela mulher o
mistério da água viva, isto é, do Espírito Santo, dom de Deus. Com efeito,
à reação de surpresa da mulher, Jesus responde: «Se conhecesses o dom de Deus e
quem é que te diz: “Dá-me de beber”, tu mesma pedir-lhe-ias e Ele dar-te-ia a
água viva» (v. 10).
No centro deste diálogo está a água.
Por um lado, a água como elemento essencial para viver, que sacia a
sede do corpo e sustenta a vida. Por outro, a água como símbolo da graça
divina, que dá a vida eterna. Na tradição bíblica, Deus é a fonte da água viva
– assim se diz nos Salmos, nos profetas – e afastar-se de Deus, fonte de água
viva, e da sua Lei causa a pior seca. Tal é a experiência do povo de Israel no
deserto. No longo caminho rumo à liberdade, abrasado pela sede, ele protesta
contra Moisés e contra Deus, porque não há água. Então, pela vontade de
Deus, Moisés faz brotar água de uma rocha, como sinal da providência de Deus
que acompanha o seu povo e lhe dá vida (cf. Ex 17,1-7).
E o Apóstolo Paulo interpreta aquela
rocha como símbolo de Cristo. Assim dirá: «E a rocha é Cristo» (cf. 1Cor 10,4).
É a figura misteriosa da sua presença no meio do povo de Deus a caminho. Com
efeito, Cristo é o Templo do qual, segundo a visão dos profetas, brota o
Espírito Santo, ou seja, a água viva que purifica e dá vida. Quem tem sede de
salvação pode haurir gratuitamente de Jesus, e n'Ele o Espírito Santo
tornar-se-á uma nascente de vida plena e eterna. A promessa da água viva que
Jesus fez à Samaritana tornou-se realidade na sua Páscoa: do seu lado
trespassado saiu «sangue e água» (Jo 19,34). Cristo, Cordeiro
imolado e ressuscitado, é a fonte da qual brota o Espírito Santo, que perdoa os
pecados e regenera para a vida nova.
Este dom é também a fonte do
testemunho. Assim como a Samaritana, quem encontrar Jesus vivo sente a
necessidade de contá-lo aos outros, para que todos cheguem a confessar que
Jesus «é verdadeiramente o Salvador do mundo» (Jo 4,42), como
disseram mais tarde os conterrâneos daquela mulher. Também nós, gerados para
uma nova vida através do Batismo, somos chamados a dar testemunho da vida e da
esperança que há em nós. Se a nossa busca e sede encontrarem plena satisfação
em Cristo, manifestaremos que a salvação não está nas “coisas” deste mundo, as
quais no final produzem a seca, mas n'Aquele que nos amou e nos ama sempre:
Jesus, nosso Salvador, na água viva que Ele nos oferece.
Que Maria Santíssima nos ajude a
cultivar o desejo de Cristo, fonte de água viva, o único que pode saciar a sede
de vida e de amor que sentimos no nosso coração.
Fonte: Santa Sé
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