Vésperas para o início do Mês Missionário
Homilia
do Papa Francisco
Basílica Vaticana
Terça-feira, 01 de outubro de 2019
Terça-feira, 01 de outubro de 2019
Na parábola que ouvimos (Mt 25,14-30),
o Senhor apresenta-Se como um homem que, antes de partir, chama os
servos para lhes entregar os seus bens (cf. v. 14). Deus confiou-nos os seus bens maiores: a nossa vida, a
vida dos outros, tantos dons diferentes a cada um. E estes bens, estes talentos
não representam algo que se deve guardar no cofre, representam uma chamada: o
Senhor chama-nos a fazer render os talentos com ousadia e criatividade. Deus
perguntar-nos-á se entramos em jogo, arriscando e acabando talvez mal vistos.
Este Mês Missionário extraordinário quer ser uma sacudidela que nos provoca a
ser ativos no bem. Não notários da fé e guardiões da graça, mas
missionários.
Torna-se missionário, vivendo como
testemunha: testemunhando com a vida que se conhece Jesus. É a vida que fala.
Testemunha é a palavra-chave; uma palavra que tem a mesma raiz e significado de
mártir. E os mártires são as primeiras testemunhas da fé: não por palavras, mas
com a vida. Sabem que a fé não é propaganda nem proselitismo, mas um respeitoso
dom de vida. Vivem espalhando paz e alegria, amando a todos, incluindo os
inimigos, por amor de Jesus. Deste modo nós, que descobrimos ser filhos do Pai
celeste, como podemos ocultar a alegria de ser amados, a certeza de ser sempre
preciosos aos olhos de Deus? É o anúncio que muitas pessoas aguardam. E é nossa
responsabilidade levá-lo. Neste mês, perguntemo-nos: Como é o meu testemunho?
No final da parábola, o Senhor chama
«bom e fiel» quem foi empreendedor; e, ao contrário, «mau e preguiçoso» o servo
que se colocou na defensiva (cf. vv. 21.23.26). Por que razão Deus é tão severo
com este servo que teve medo? Que mal fez ele? O seu mal foi não ter
feito bem, pecou por omissão. Santo Alberto Hurtado dizia: «É
bem não fazer mal. Mas é mal não fazer bem». Tal é o pecado de omissão. E isto
pode ser o pecado duma vida inteira, porque recebemos a vida, não para
enterrá-la, mas para a colocar em jogo; não para retê-la, mas para a dar. Quem
está com Jesus sabe que tem aquilo que se dá, possui aquilo que se
doa; e o segredo para possuir a vida é doá-la. Viver de omissões é renegar a
nossa vocação: a omissão é o contrário da missão.
Pecamos por omissão, isto é, contra a
missão, quando, em vez de espalhar a alegria, nos fechamos numa triste
vitimização, pensando que ninguém nos ama nem compreende. Pecamos contra a
missão, quando cedemos à resignação: «Não consigo fazer isto, não sou capaz».
Mas como é possível? Deus deu-te talentos, e tu consideras-te assim tão pobre
que não podes enriquecer ninguém? Pecamos contra a missão, quando, num lamento
sem fim, continuamos a dizer que está tudo mal, no mundo e na Igreja. Pecamos
contra a missão, quando caímos escravos dos medos que imobilizam, e nos
deixamos paralisar pelo «sempre se fez assim». E pecamos contra a missão,
quando vivemos a vida como um peso e não como um dom; quando, no centro,
estamos nós com as nossas fadigas, não os irmãos e irmãs que esperam ser
amados.
«Deus ama quem dá com alegria» (2Cor 9,7).
Ama uma Igreja que vive em saída. Mas estejamos atentos: se não vive em saída,
não é Igreja. A Igreja está feita para a estrada, a Igreja caminha. Uma Igreja
em saída, missionária é uma Igreja que não perde tempo a lamentar-se pelas
coisas que não funcionam, pelos fiéis que diminuem, pelos valores de outrora
que já não existem. Uma Igreja que não procura oásis protegidos para estar
tranquila; deseja apenas ser sal da terra e fermento para o mundo.
Esta Igreja sabe que a sua força é a mesma de Jesus: não a relevância social ou
institucional, mas o amor humilde e gratuito.
Hoje entramos no Outubro Missionário
acompanhados por três «servos» que ostentaram muito fruto. Mostra-nos o caminho
Santa Teresa do Menino Jesus, que fez da oração o combustível da ação
missionária no mundo. Este é também o mês do Rosário: Quanto rezamos nós pela
difusão do Evangelho, para nos convertermos da omissão à missão? Temos depois
São Francisco Xavier, um dos grandes missionários da Igreja. Também ele nos
sacode: Saímos da nossa concha, somos capazes de deixar as nossas comodidades
pelo Evangelho? E há a Venerável Paulina Jaricot, uma operária que apoia as
missões com o seu trabalho diário: com as parcelas que deduzia do salário, deu
início às Obras Missionárias Pontifícias. E nós, fazemos de cada dia um dom
para superar a fratura entre Evangelho e vida? Por favor, não vivamos uma fé
«de sacristia».
Acompanham-nos uma religiosa, um
sacerdote e uma leiga. Dizem-nos que ninguém está excluído da missão da Igreja.
Sim, neste mês, o Senhor chama-te também a ti. Chama a ti, pai e mãe de
família; a ti, jovem que sonhas com grandes coisas; a ti, que trabalhas numa
fábrica, numa loja, num banco, num restaurante; a ti, que estás sem trabalho; a
ti, que estás numa cama de hospital... O Senhor pede que te faças dom no lugar
onde estás, assim como estás, com quem está ao teu lado; que não te limites a
sofrer a vida, mas a dês; que não te limites a chorar os teus infortúnios, mas
deixa-te levar pelas lágrimas de quem sofre. Coragem! O Senhor espera muito de
ti. Espera também que alguém tenha a coragem de partir, ir aonde há mais falta
de esperança e dignidade, aonde tantas pessoas vivem ainda sem a alegria do
Evangelho. «Mas tenho de ir sozinho?» Não! Isso é errado. Se temos em mente
fazer a missão com organizações empresariais, com planos de trabalho, é errado.
O protagonista da missão é o Espírito Santo. Ele é o protagonista da missão. Tu
vais com o Espírito Santo. Vai! O Senhor não te deixará sozinho; dando
testemunho, descobrirás que o Espírito Santo chegou antes de ti para te
preparar o caminho. Coragem, irmãos e irmãs! Coragem, Mãe Igreja: reencontra a
tua fecundidade na alegria da missão!
Fonte: Santa Sé
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