sábado, 26 de outubro de 2019

Homilia: XXX Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Cipriano
Tratado sobre o Pai nosso
A oração deve brotar de um coração humilde

As palavras daquele que ora devem ser comedidas, cheias de tranquilidade e respeito. Pensemos que estamos na presença de Deus. Devemos agradar a Deus com a atitude corporal e com a moderação de nossa voz. Porque, assim como é próprio do irreverente falar aos gritos, assim, pelo contrário, é próprio do homem respeitoso orar com um tom de voz moderado.
O Senhor, quando nos ensina a respeito da oração, nos manda fazê-la em segredo, em lugares escondidos e afastados, em nosso próprio quarto, o que concorda com a nossa fé quando nos ensina que Deus está presente em todas as partes, que ouve e enxerga a todos nós, e que, com a plenitude de sua majestade, penetra até mesmo nos lugares mais ocultos, tal como está escrito: Sou Deus somente quando estou perto, e não o sou também quando de longe? Poderá um homem se ocultar de tal modo que Eu não o veja? Porventura não enche minha presença o céu e a terra? E também: Em todo lugar os olhos de Deus estão vigiando os maus e os bons.
E quando nos reunimos com os irmãos para celebrar os sagrados mistérios, presididos pelo sacerdote de Deus, não devemos esquecer este respeito e moderação nem apresentar continuamente nossas petições sem tom nem som, desatando-nos em uma torrente de palavras, sem encomendá-las humildemente a Deus, já que Ele não escuta as palavras, mas o coração, nem devemos convencer aos gritos Aquele que penetra os nossos pensamentos, como o demonstram aquelas suas palavras: Por que pensais mal? E em outro lugar: Assim saberão todas as igrejas que Eu sou aquele que perscruta os corações e as mentes.
Assim orava Ana, como lemos no Primeiro Livro de Samuel, visto que ela não rogava a Deus aos gritos, mas de um modo silencioso e respeitoso, no segredo de seu coração. Sua oração era oculta, mas manifestava a sua fé; não falava com a boca, mas com o coração, porque sabia que assim o Senhor a escutava, e, deste modo, alcançou o que pedia, porque o pedia com fé. Isto nos recorda a Escritura, quando diz: Falava para si e não se ouvia a sua voz, mesmo que movesse os lábios, e o Senhor a escutou. Também lemos nos Salmos: Meditai no silêncio de vosso leito. O mesmo nos sugere e ensina o Espírito Santo pela boca de Jeremias, com aquelas palavras: Devemos adorar-te em espírito, Senhor.
Aquele que ora, irmãos muito amados, não deve ignorar como o fariseu e o publicano oraram no templo. Este último, sem atrever-se a levantar os seus olhos ao céu, sem ousar levantar as suas mãos, tanta era a sua humildade, golpeava-se no peito e confessava os pecados ocultos em seu interior, implorando o auxílio da divina misericórdia; enquanto que o fariseu orava satisfeito consigo mesmo, e foi justificado o publicano, porque, ao orar, não colocou a esperança da salvação na convicção de sua própria inocência, já que ninguém é inocente, mas orou confessando humildemente os seus pecados, e Aquele que perdoa aos humildes escutou a sua oração.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 744-745. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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