sábado, 19 de outubro de 2019

Homilia: XXIX Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Gregório de Nissa
Sobre o Pai nosso
Afasta-se de Deus quem não se une a Ele na oração

A Palavra de Deus nos legou uma metodologia da oração, mediante a qual expõe aos seus dignos discípulos que, com empenho e seriedade, buscam a ciência da oração, a forma de se conciliar a atenção de Deus através das palavras da oração.
Afasta-se de Deus quem não se une a Ele na oração. Portanto, o primeiro que deveis aprender sobre a oração é isto: que se deve orar sempre sem desanimar-se. Pois mediante a oração conseguimos estar com Deus. E aquele que com Deus está, longe do inimigo está. A oração é a base e o escudo da honestidade, o freio da ira, o sedativo e o controle da soberba. A oração é o selo da virgindade, garantia da fidelidade conjugal, esperança dos que vigiam, fertilidade dos agricultores, salvação dos navegantes. E penso que mesmo que nós passássemos toda a vida conversando com Deus, orando e dando-lhe graças, estaríamos tão longe de recompensá-lo como merece, como se em nenhum momento tivéssemos abrigado o propósito de recompensar ao nosso benfeitor.
O tempo extenso se divide em três partes: passado, presente e futuro. Em cada um destes três tempos se descobrem os benefícios do Senhor. Se consideras o presente, por Ele vives; se o futuro, Ele é para ti a esperança do que esperas; se o passado, tu não existirias se Ele previamente não te tivesse criado. Teu próprio nascimento é um dom divino. E uma vez nascido te vês cercado de bens, já que, como diz o Apóstolo: n’Ele tens a vida e o movimento. A esperança dos bens futuros depende da mesma eficácia. Tu és unicamente senhor do presente. Por isso, ainda que passes a vida inteira dando graças a Deus, apenas se cobrirá de graça o tempo presente, já que neste meio tempo és incapaz de meditar a maneira de compensar as dívidas do tempo futuro.
E nós, que tão longe estamos de poder oferecer uma adequada ação de graças, não demonstramos nem sequer a gratidão de alma que nos é possível, pois não dedicamos para a invocação de Deus, não digo já o dia inteiro, mas sequer uma mínima parte do dia. Quem devolveu o esplendor original à imagem de Deus ofuscada em mim pelo pecado? Quem me conduz para a primitiva felicidade, eu que fui expulso do paraíso, privado da árvore da vida e precipitado ao abismo de uma vida material? Não há ninguém sensato, diz a Escritura. Porque se realmente refletíssemos sobre estas realidades, renderíamos a Deus, ao longo de nossa vida, uma ação de graças permanente e assídua. Porém, agora, uma grande maioria do gênero humano está totalmente absorvida por preocupações exclusivamente materiais.
Mas chegou o momento de considerar a sentença relativa à quantidade de palavras que, na medida do possível, devem integrar a oração. Pois é evidente que, se encontrarmos a fórmula adequada de apresentar a petição, nos seria concedido o que quiséssemos. E qual é a normativa a este respeito? Quando rezardes, diz, não useis de muitas palavras, como os pagãos que imaginam que serão ouvidos à força das palavras.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 737-738. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Basílio Magno para este domingo clicando aqui.

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