São Gregório de Nissa
Sobre o Pai nosso
“Afasta-se
de Deus quem não se une a Ele na oração”
A Palavra de
Deus nos legou uma metodologia da oração, mediante a qual expõe aos seus dignos
discípulos que, com empenho e seriedade, buscam a ciência da oração, a forma de
se conciliar a atenção de Deus através das palavras da oração.
Afasta-se de
Deus quem não se une a Ele na oração. Portanto, o primeiro que deveis aprender
sobre a oração é isto: que se deve orar sempre sem desanimar-se. Pois mediante
a oração conseguimos estar com Deus. E aquele que com Deus está, longe do
inimigo está. A oração é a base e o escudo da honestidade, o freio da ira, o
sedativo e o controle da soberba. A oração é o selo da virgindade, garantia da
fidelidade conjugal, esperança dos que vigiam, fertilidade dos agricultores,
salvação dos navegantes. E penso que mesmo que nós passássemos toda a vida
conversando com Deus, orando e dando-lhe graças, estaríamos tão longe de
recompensá-lo como merece, como se em nenhum momento tivéssemos abrigado o
propósito de recompensar ao nosso benfeitor.
O tempo extenso
se divide em três partes: passado, presente e futuro. Em cada um destes três
tempos se descobrem os benefícios do Senhor. Se consideras o presente, por Ele
vives; se o futuro, Ele é para ti a esperança do que esperas; se o passado, tu
não existirias se Ele previamente não te tivesse criado. Teu próprio nascimento
é um dom divino. E uma vez nascido te vês cercado de bens, já que, como diz o
Apóstolo: n’Ele tens a vida e o movimento.
A esperança dos bens futuros depende da mesma eficácia. Tu és unicamente senhor
do presente. Por isso, ainda que passes a vida inteira dando graças a Deus,
apenas se cobrirá de graça o tempo presente, já que neste meio tempo és incapaz
de meditar a maneira de compensar as dívidas do tempo futuro.
E nós, que tão
longe estamos de poder oferecer uma adequada ação de graças, não demonstramos
nem sequer a gratidão de alma que nos é possível, pois não dedicamos para a
invocação de Deus, não digo já o dia inteiro, mas sequer uma mínima parte do
dia. Quem devolveu o esplendor original à imagem de Deus ofuscada em mim pelo
pecado? Quem me conduz para a primitiva felicidade, eu que fui expulso do
paraíso, privado da árvore da vida e precipitado ao abismo de uma vida
material? Não há ninguém sensato, diz
a Escritura. Porque se realmente refletíssemos sobre estas realidades,
renderíamos a Deus, ao longo de nossa vida, uma ação de graças permanente e
assídua. Porém, agora, uma grande maioria do gênero humano está totalmente
absorvida por preocupações exclusivamente materiais.
Mas chegou o
momento de considerar a sentença relativa à quantidade de palavras que, na
medida do possível, devem integrar a oração. Pois é evidente que, se encontrarmos
a fórmula adequada de apresentar a petição, nos seria concedido o que
quiséssemos. E qual é a normativa a este respeito? Quando rezardes, diz, não
useis de muitas palavras, como os pagãos que imaginam que serão ouvidos à força
das palavras.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 737-738. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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