sexta-feira, 25 de outubro de 2019

XIII Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 23 de outubro de 2019
Atos dos Apóstolos (13)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O livro dos Atos dos Apóstolos narra que São Paulo, depois daquele encontro transformador com Jesus, é acolhido pela Igreja de Jerusalém graças à mediação de Barnabé e começa anunciar a Cristo. No entanto, devido à hostilidade de alguns, ele é forçado a se mudar para Tarso, sua cidade natal, onde Barnabé o alcança e o envolve na longa jornada da Palavra de Deus. O livro dos Atos dos Apóstolos, que estamos comentando nestas catequeses, pode-se dizer que é o livro da longa jornada da Palavra de Deus: a Palavra de Deus deve ser anunciada e anunciada em todos os lugares. Essa jornada começa após uma forte perseguição (cf. At 11,19); mas isso, em vez de provocar uma interrupção para a evangelização, torna-se uma oportunidade de ampliar o campo onde se deve espalhar a boa semente da Palavra. Os cristãos não têm medo. Eles devem fugir, mas fogem com a Palavra, e espalham a Palavra um pouco por toda parte.
Paulo e Barnabé chegam pela primeira vez a Antioquia da Síria, onde ficam um ano inteiro para ensinar e ajudar a comunidade a criar raízes (cf. At 11,26). Eles anunciavam à comunidade judaica, aos judeus. Assim, Antioquia se torna o centro da propulsão missionária, graças à pregação com a qual os dois evangelizadores - Paulo e Barnabé -afetam o coração dos crentes, que aqui em Antioquia são chamados “cristãos” pela primeira vez (cf. At 11,26).
Emerge do livro de Atos a natureza da Igreja, que não é uma fortaleza, mas uma tenda capaz de ampliar seu espaço (cf. Is 54,2) e dar acesso a todos. A Igreja é “em saída” ou não é Igreja, ou está sempre a caminho, ampliando seu espaço para que todos possam entrar, ou não é Igreja. “Uma igreja com portas abertas” (Exort. Ap. Evangelii gaudium, n. 46), sempre com as portas abertas. Quando vejo alguma igreja aqui, nesta cidade, ou quando a via na outra diocese de onde eu venho, com as portas fechadas, isso é um sinal ruim. As igrejas devem sempre ter as portas abertas, porque este é o símbolo do que é uma igreja: sempre aberta. A Igreja é “chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. […] Assim, se alguém quer seguir uma moção do Espírito e se aproxima buscando a Deus, não encontrará a frieza de uma porta fechada” (ibid., n. 04).
Mas essa novidade das portas abertas: se abre para quem? Para os pagãos, porque os Apóstolos pregaram aos judeus, mas os pagãos também vieram bater à porta da Igreja; e essa novidade das portas abertas aos pagãos desencadeia uma controvérsia muito animada. Alguns judeus afirmam a necessidade de se tornarem judeus através da circuncisão para se salvarem e depois receberem o Batismo. Eles dizem: “Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos” (At 15,1), isto é, você não pode receber o Batismo agora. Primeiro o rito judeu e depois o Batismo: essa era a posição deles. E para resolver a questão, Paulo e Barnabé consultam o conselho dos Apóstolos e anciãos em Jerusalém, e acontece aquele que é considerado o primeiro Concílio na história da Igreja, o concílio ou assembleia de Jerusalém, a que Paulo se refere na Carta aos Gálatas (2,1-10).
É então afrontada uma questão teológica, espiritual e disciplinar muito delicada: isto é, a relação entre a fé em Cristo e a observância da Lei de Moisés. Decisivos durante a assembleia são os discursos de Pedro e Tiago, “colunas” da Igreja-mãe (cf. At 15,7-21; Gl 2,9). Eles convidam a não impor a circuncisão aos pagãos, mas apenas pedir que rejeitem a idolatria e todas as suas expressões. Da discussão vem o caminho comum, e esta decisão é ratificada com a chamada carta apostólica enviada a Antioquia.
A assembleia de Jerusalém nos oferece uma luz importante sobre como lidar com as diferenças e buscar a “verdade na caridade” (Ef 4,15). Lembra-nos que o método eclesial para a resolução de conflitos se baseia em um diálogo feito de escuta atenta e paciente e no discernimento realizado à luz do Espírito. É o Espírito, de fato, que ajuda a superar fechamentos e tensões e trabalha nos corações, para que alcancem, na verdade e no bem, a unidade. Este texto nos ajuda a entender a sinodalidade. É interessante como escrevem na carta: os Apóstolos começam dizendo: “O Espírito Santo e nós pensamos isso...”. É própria da sinodalidade a presença do Espírito Santo, caso contrário não é sinodalidade, é locutório, parlamento, outra coisa...
Peçamos ao Senhor para fortalecer em todos os cristãos, especialmente nos Bispos e nos presbíteros, o desejo e a responsabilidade da comunhão. Ajude-nos a viver o diálogo, a escuta e o encontro com os irmãos na fé e com os que estão longe, para provar e manifestar a fecundidade da Igreja, chamada a ser sempre a “mãe alegre” de muitos filhos (Sl 113,9).


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