São Gregório Magno
Sermão sobre os Evangelhos
“Neste
mundo dois corações, porém acima um só examinador”
Havia certo homem rico; e em seguida
acrescenta: e havia certo mendigo chamado
Lázaro. É uma verdade que, entre o povo, conhecem-se mais os nomes dos
ricos que dos pobres. Por que, pois, o Senhor ao ocupar-se do rico e do pobre
nos diz o nome do segundo e passa no silêncio o nome do rico, senão para demonstrar-nos
que Deus exalta aos humildes e, pelo contrário, desconhece aos orgulhosos?
Então, aqueles que se ensoberbeceram pelo dom de fazer milagres, lhes será dito
no dia do juízo: Nunca vos conheci.
Apartai-vos, obradores da iniquidade. Pelo contrário, a Moisés se diz: te conheci pelo nome. E, portanto, do rico
se diz certo homem, e do pobre: um pobre, chamado Lázaro, que é como se
dissesse: conheço ao pobre humilde e desconheço ao rico orgulhoso; àquele lhe
conheço pela aprovação, porém a este não o conheço, em virtude do juízo da
reprovação.
Devemos ter
presente, ademais, caríssimos irmãos, quanta consideração nos dispensa o
Criador. Às vezes se faz uma coisa com mais de um objeto, ou seja, com vários
fins. Considerai ao pobre Lázaro coberto de feridas, estendido frente à porta
do rico. O Senhor com este
único fato formou dois juízos: talvez o rico tivesse tido alguma desculpa se
Lázaro, pobre e enfermo, não tivesse se encontrado frente a sua porta, se
tivesse estado longe dela, se não tivesse tido conhecimento de sua miséria.
Por outro lado,
se o rico não tivesse se apresentado ante os olhos do pobre enfermo, este
talvez sofresse muito menos, porque não teria sido tentado pelas riquezas
daquele. Mas, ao colocar o pobre coberto de chagas frente à porta daquele que
estava cercado de riquezas e prazeres, impôs o máximo de condenação ao rico que
não se compadeceu frente à presença do pobre coberto de chagas; e, por outro
lado, provou ao pobre, tentando-lhe continuamente com as riquezas do primeiro.
De quantas
tentações não se veria acometido este pobre enfermo, ao ver-se necessitado,
carecendo de pão, mal de saúde e considerando por outro lado o rico gozando de
boa saúde e desfrutando de todo tipo de satisfações; ao ver-se fatigado pela
dor e pelo frio, enquanto aquele gozava e vestia a púrpura e outros tecidos
preciosos; ao considerar-se consumido pelas chagas enquanto o rico dissipava os
bens que recebera; ao ver-se sem nada, enquanto o outro não queria
socorrer-lhe?
Julgamos que
deve ter sido muito grande o número de tentações que sofreu o pobre Lázaro, em
quem somente a pobreza já era uma pena grandíssima, mesmo que tivesse gozado de
saúde; ou lhe tivesse bastado a enfermidade para o sofrimento, mesmo que
tivesse disposto de imensos bens de fortuna. Porém, para que o pobre fosse mais
bem provado, ao mesmo tempo se juntaram nele a pobreza e as enfermidades; e
também via o rico sempre acompanhado por muitos servos, ao passo que ele, no
meio de sua pobreza e de suas indisposições, por ninguém era visitado. E que
não era visitado por ninguém o atestam os cachorros, os quais livremente lhe
lambiam as chagas.
Então, Deus
onipotente, ao permitir que Lázaro permanecesse frente à porta do rico, formou
dois juízos, isto é, que o rico ímpio e avaro aumentasse a si mesmo o castigo
de sua condenação; e o pobre Lázaro, atacado por multidão de tentações,
adquirisse maiores méritos. Continuamente estava vendo aquele em quem não havia
caridade, e via também a este a quem estava provando. Neste mundo dois
corações, porém acima um só examinador, o qual, provando um, lhe preparava para
a glória, e tolerando outro lhe dispunha para a pena.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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uma coisa interessante se um dia voce tiver interesse e tempo para fazer e postar a pronuncia das principais oracoes em latim,assim como a bencao apostolica,muitas pessoas gostariam de participar das partes das celebracoes e das oracoes em latim,proclamadas pelo papa,mais falta material para tal,pax rt bonum!!
ResponderExcluirObrigado pela sugestão. Podemos tratar deste tema no futuro.
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