sábado, 17 de setembro de 2016

Homilia: XXV Domingo do Tempo Comum - Ano C

 Santo Ambrósio
Tratado sobre o Evangelho de São Lucas
Não existem dois senhores, mas um só Senhor

Ninguém pode servir a dois senhores; é que, na realidade, não existem dois senhores, mas um só Senhor. Porque, ainda que exista quem sirva às riquezas, contudo, não lhes é reconhecido nenhum direito de domínio, mas eles se impõem a si mesmos o jugo da escravidão; e isso não é um poder justo, mas uma injusta escravidão.
E disse assim: Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, e isso com esta finalidade: para que, dando esmola aos pobres, estes busquem-nos o favor dos anjos e dos outros santos. Não é que se repreenda ao ecônomo, pois com seu exemplo aprendemos que nós não somos donos, mas sim ecônomos das riquezas dos outros. E por isso, apesar de ter pecado, contudo, é elogiado porque, para o futuro, tratou de buscar para si o necessário pela indulgência de seu Senhor. E com toda razão falou das riquezas injustas, visto que a avareza tenta o nosso coração com diversos atrativos de dinheiro, com a finalidade de que desejemos servir as riquezas.
Este é o motivo por que diz: se vós não sois fieis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o que é vosso? As riquezas não são nossas, visto que elas estão fora de nossa natureza e, certamente, não nasceram nem perecerão conosco; pelo contrário, Cristo sim é nosso, porque ele é a vida; ainda que veio para os seus, e os seus não o receberam. Por isso ninguém vos dará o que é vosso, porque não crestes nesse bem que é vosso nem o recebestes.
E, consequentemente, parece que os judeus são acusados de engano e de avareza e, portanto, não tendo sido fieis no que se refere às riquezas, que na realidade não eram suas – pois os bens da terra são concedidos por Deus nosso Senhor a todos para o bem comum – e das que certamente fariam partícipes os pobres, não mereceram receber a esse Cristo a quem Zaqueu aceitou com um desejo tão intenso, que lhe levou a repartir a metade de seus bens.
Portanto, não queiramos ser escravos daquilo que não é nosso, porque não devemos ter mais senhores que Cristo; pois, não há mais que um Pai, de quem procede todas as coisas, e em quem nós existimos, e um só Senhor Jesus, por quem são todas as coisas. Mas, o quê? Acaso não é Senhor o Pai e Deus o Filho? Não existe dúvida de que o Pai é Senhor, já que pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e o Filho é também esse Deus, que está acima de todas as coisas, Deus bendito para sempre. Assim sendo, como se entende isso de que ninguém pode servir a dois senhores?
É que, visto que só há um Deus, também tem de haver um só Senhor; e por isso: Adorarás ao Senhor teu Deus e só a ele servirás. De onde claramente se deduz que o Pai e o Filho têm o mesmo poder. Pois, não podemos dividi-lo, quem disser que está tudo no Pai e igualmente tudo no Filho. Assim, ao afirmar que na divindade se dá unidade e uma identidade de poder na Trindade, confessamos que existe um só Deus e um só Senhor. E, pelo contrário, os que sustentam que o Pai, o Filho e o Espírito Santo possuem um poder distinto, deixando-se levar pelo erro nefasto dos gentios, introduzem na Igreja muitos deuses e muitos senhores.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 720-721. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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