Santo Ambrósio
Tratado sobre o Evangelho de São Lucas
“Não
existem dois senhores, mas um só Senhor”
Ninguém pode servir a dois senhores; é
que, na realidade, não existem dois senhores, mas um só Senhor. Porque, ainda
que exista quem sirva às riquezas, contudo, não lhes é reconhecido nenhum
direito de domínio, mas eles se impõem a si mesmos o jugo da escravidão; e isso
não é um poder justo, mas uma injusta escravidão.
E disse assim: Usai o dinheiro injusto para fazer amigos,
e isso com esta finalidade: para que, dando esmola aos pobres, estes
busquem-nos o favor dos anjos e dos outros santos. Não é que se repreenda ao
ecônomo, pois com seu exemplo aprendemos que nós não somos donos, mas sim
ecônomos das riquezas dos outros. E por isso, apesar de ter pecado, contudo, é
elogiado porque, para o futuro, tratou de buscar para si o necessário pela
indulgência de seu Senhor. E com toda razão falou das riquezas injustas, visto
que a avareza tenta o nosso coração com diversos atrativos de dinheiro, com a
finalidade de que desejemos servir as riquezas.
Este é o motivo
por que diz: se vós não sois fieis no uso
do dinheiro injusto, quem vos confiará o que é vosso? As riquezas não são
nossas, visto que elas estão fora de nossa natureza e, certamente, não nasceram
nem perecerão conosco; pelo contrário, Cristo sim é nosso, porque ele é a vida;
ainda que veio para os seus, e os seus
não o receberam. Por isso ninguém vos dará o que é vosso, porque não
crestes nesse bem que é vosso nem o recebestes.
E,
consequentemente, parece que os judeus são acusados de engano e de avareza e,
portanto, não tendo sido fieis no que se refere às riquezas, que na realidade
não eram suas – pois os bens da terra são concedidos por Deus nosso Senhor a
todos para o bem comum – e das que certamente fariam partícipes os pobres, não
mereceram receber a esse Cristo a quem Zaqueu aceitou com um desejo tão
intenso, que lhe levou a repartir a metade de seus bens.
Portanto, não
queiramos ser escravos daquilo que não é nosso, porque não devemos ter mais
senhores que Cristo; pois, não há mais
que um Pai, de quem procede todas as coisas, e em quem nós existimos, e um só
Senhor Jesus, por quem são todas as coisas. Mas, o quê? Acaso não é Senhor
o Pai e Deus o Filho? Não existe dúvida de que o Pai é Senhor, já que pela palavra do Senhor foram feitos os céus,
e o Filho é também esse Deus, que está
acima de todas as coisas, Deus bendito para sempre. Assim sendo, como se
entende isso de que ninguém pode servir a
dois senhores?
É que, visto que
só há um Deus, também tem de haver um só Senhor; e por isso: Adorarás ao Senhor teu Deus e só a ele
servirás. De onde claramente se deduz que o Pai e o Filho têm o mesmo
poder. Pois, não podemos dividi-lo, quem disser que está tudo no Pai e
igualmente tudo no Filho. Assim, ao afirmar que na divindade se dá unidade e
uma identidade de poder na Trindade, confessamos que existe um só Deus e um só
Senhor. E, pelo contrário, os que sustentam que o Pai, o Filho e o Espírito
Santo possuem um poder distinto, deixando-se levar pelo erro nefasto dos
gentios, introduzem na Igreja muitos deuses e muitos senhores.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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