No último dia 14 de fevereiro o Papa Francisco recebeu os participantes da Assembleia Plenária da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, que refletiram o tema "A formação litúrgica do
Povo de Deus". O site Vatican News publicou recentemente as impressões dos
Bispos de língua portuguesa presentes no encontro:
02 de abril de 2019
No nosso espaço “Memória Histórica, 50 anos do Concílio
Vaticano II”, propomos hoje o tema “Igreja nos ajuda a descobrir em conjunto o
passo a seguir e as expressões mais adequadas no nosso tempo”.
No programa passado, falamos sobre a necessidade de
encontrar um ponto de equilíbrio entre “os dois extremos do pêndulo na Liturgia”. Recordamos na ocasião que não há um juízo unânime sobre as reformas
efetivamente realizadas com a Constituição Sacrosanctum
Concilium. No que tange aos novos livros litúrgicos elaborados, por
exemplo, muitos consideram que estes refletem demasiado o espírito da nova
teologia sem levar suficientemente em consideração a tradição. Outro grupo, por
sua vez, lamenta de que ainda não se tenha ampliado o quadro estreito da visão
rubricista e que se tenha assim fixado definitivamente nos novos livros
litúrgicos, elementos que ainda não tinham sido provados e que por esta causa
pareciam até duvidosos.
Ao encontrar os participantes da Assembleia Plenária da
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos na quinta-feira,
14 de fevereiro, o Papa Francisco alertou para o risco de acabar – quer na
Liturgia como em outros âmbitos da vida - em “estéreis polarizações
ideológicas”. “Começando quem sabe pelo desejo de reagir a algumas inseguranças
do contexto atual – advertiu, referindo-se à Liturgia - corre-se o risco de voltar-se a um passado
que não existe mais ou de fugir para um
futuro presumido como tal”.
O Cardeal caboverdiano Dom Arlindo Gomes Furtado, presente
no encontro com o Santo Padre, falou-nos sobre a importância desta busca de
equilíbrio:
“O Papa insistiu e nós também aprofundamos este aspecto, de
que a Liturgia não depende, digamos, do gosto pessoal de cada um, não se sente
no ‘eu’, mas no ‘nós’ da Igreja. Liturgia é uma expressão de Igreja, é uma
vivência de Igreja, da sua relação com Deus, e naturalmente tem a sua
repercussão na relação com tudo o que fazemos, toda a nossa vida deve exprimir
isto. Por isso, a Igreja procura falar uma linguagem comum, uma linguagem
partilhada. E digo... a centralidade de Jesus Cristo. Mas é o ‘nós’ com Jesus
Cristo, não é o ‘eu’ com Jesus, o ‘eu’ com Deus. Isso não exprime o espírito e
a realidade da Liturgia. Por isso, aquilo que a Igreja no seu todo, no seu
Magistério, reflete, partilha, como eco também do conjunto da Igreja e dá orientações
para a Liturgia, deve ser acatado como o caminho a seguir, porque é o caminho
da Igreja. E nós fazemos o nosso caminho em Igreja, para reforçar a Igreja,
sempre seguindo a cabeça que é Jesus Cristo que deu à Igreja um serviço para o
bem de todos. Portanto, o não exagero na questão de nos fixarmos numa
metodologia, numa modalidade, ou numa expressão litúrgica, mas a Igreja nos
ajuda a descobrir em conjunto o passo a seguir e as expressões mais adequadas
no nosso tempo, para exprimir e aprofundar e revigorar a nossa vivência comum
Jesus Cristo”.
03 de abril de 2019
No nosso espaço “Memória Histórica, 50 anos do Concílio
Vaticano II”, vamos falar no programa de hoje sobre o tema: “Com a Liturgia construir
a unidade na diversidade”.
A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos realizou de 12 a 15 de fevereiro em Roma sua Assembleia Plenária,
que teve por tema, “Formação Litúrgica do Povo de Deus”. O ponto alto foi o
encontro com o Papa Francisco no Vaticano, que na ocasião ressaltou que o ponto
de partida “é reconhecer a realidade da sagrada liturgia, tesouro vivo que não
pode ser reduzido a gostos, receitas e correntes, mas deve ser acolhido com
docilidade e promovido com amor, enquanto alimento insubstituível para o
crescimento orgânico do Povo de Deus”.
Passados 50 anos da Constituição Sacrosanctum Concilium, ainda há um longo caminho a ser percorrido
e uma tensão a ser superada entre o desejo de “voltar-se a um passado que não existe
mais ou de fugir para um futuro presumido como tal”, como disse o Papa.
Ao final da Assembleia Plenária, conversamos com Dom José
Manuel Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda (Portugal), que destacou a
importância de que todos assumam os princípios fundamentais da reforma
litúrgica, assim como a formação permanente, antes de tudo dos sacerdotes, mas
também de todo o Povo de Deus:
“O caminho se faz
caminhando, e é próprio da Igreja, tão alargada, e por isso é católica e
universal, nas várias expressões, que haja os vários ritmos da recepção de um
Concílio, e concordamos nisso que acabavas de dizer citando o Papa Francisco,
então estamos neste caminho. Mas o importante, é aquilo que são os princípios
fundamentais da reforma litúrgica, sejam assumidos por todos, porque há
depósito da fé, não é uma coisa pessoal, nem desta comunidade, nem deste país,
nem sequer deste continente. É toda a Igreja, porque a liturgia é uma obra da
Trindade, nós rezamos ao Pai pelo Filho, no Espirito Santo. E nesses princípios
fundamentais às vezes há esse cansaço, ou um certo saudosismo, ou querer
avançar demais, mas o valor e a dignidade
da Palavra de Deus na Assembleia, a presença de Cristo nas ações
litúrgicas, todo este espírito da liturgia, requer uma profunda formação, e o
caminho é mesmo este, o da formação, e poderia ser um refrão: formação,
formação, formação. E o Papa repetiu várias vezes, que é uma formação
permanente. Não pode ser pontual, nem circunstancial, e chegou mesmo a afirmar
- e isso é motivador para nós - que deve ser dado primeiro lugar à formação
permanente à Liturgia ao clero, antes de mais nada, mas a todo o povo santo de
Deus. Mas todo o povo é guiado na oração, por aqueles que Deus escolhe, a
Igreja confirma na sua mediação, como pastores, como os primeiros responsáveis,
não como donos, mas como servidores da Palavra, servidores do mistério,
servidores da Liturgia, que é patrimônio de todos. E então encontrar esta
harmonia e este equilíbrio para toda a Igreja é o desafio destes tempos. E o
Papa também com o Motu Proprio Magnum
principium, vai ao encontro disto, e o transferir maiores competências e
mais competências para as Conferências Episcopais, a ajudar a que na
diversidade nós continuemos a construir a unidade e a Liturgia também pede
isso, de modo especial na celebração da Eucaristia nós rezamos sempre pela
unidade, pela paz, a começar por aqueles que partilham a mesma presença do
mistério de Cristo na celebração da Eucaristia, para sermos esta presença
credível no mundo em que vivemos. E às vezes estas tendências, e às vezes
alguns extremismos, então se devem ao fato de perceber que existe mais mundo na
Igreja do que Igreja no mundo. Nós temos que ser fermento no mundo, e não
sermos levedados, fermentados pelo mundanismo espiritual, como também diz o
Papa Francisco. E por isso que a
Liturgia é um lugar decisivo neste encontro pessoal e comunitário, vivido na
alegria, na simplicidade, na autenticidade, na beleza da ação litúrgica”.
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