10 de abril de 2019
No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio
Vaticano II, vamos tratar no programa de hoje do tema: “O Bispo local como
guardião da Liturgia”.
Damos sequência aos programas dedicados à sagrada Liturgia.
“A formação litúrgica do Povo de Deus” foi o tema da Assembleia Plenária da
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, realizada de 12
a 15 de fevereiro, em Roma. Ao encontrar os participantes do encontro, o Papa Francisco,
entre outros, disse “que não basta mudar os livros litúrgicos para melhorar a
qualidade da Liturgia. Somente isto seria um engano. Para que a vida seja
verdadeiramente um louvor agradável a Deus, é preciso de fato mudar o coração”,
e para esta conversão que “é orientada a celebração cristã, que é um encontro
da vida com o 'Deus dos vivos”.
Neste sentido, destaca que “a Santa Sé (...) não substitui
os Bispos, mas colabora com eles para servir, na riqueza das várias línguas e
culturas, a vocação orante da Igreja no mundo”, linha na qual se insere o Motu proprio Magnum principium, com o
qual o Santo Padre quis favorecer, entre outras coisas, a necessidade de uma
“constante cooperação, plena de confiança recíproca, vigilante e criativa,
entre as Conferências Episcopais e o Dicastério da Sé Apostólica que exerce a
missão de promover a sagrada Liturgia”.
A Constituição
Sacrosanctum Concilium (SC) foi aprovada em dezembro de 1963. Em janeiro de
1964 foi publicado o Motu Próprio Sacram
Liturgiam, que consistia em algumas disposições a respeito da reforma.
Nesse Motu proprio, Paulo VI
recordada a SC, n.22, que no parágrafo 3º diz assim: “Portanto, ninguém mais,
absolutamente, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar,
suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica” (SC, 22, §3). Já durante
o Concilio havia esse temor, pois se sentia que, nesse avanço e novidade que
trazia a SC, os sacerdotes pudessem atuar de forma arbitrária [1], deturpando o
caráter genuíno da Liturgia. Esses temores antecipados não eram por menos, pois
se começou a celebrar de qualquer jeito, até mesmo sem as devidos paramentos ou
até, em alguns extremos, sem o uso as matérias de pão e vinho para a Santa
Missa, usando outros elementos. Houve essa preocupação que no Ocidente se
esquecesse a linguagem original da Liturgia e os sinais litúrgicos. Antes de
tudo, há o temor, nestes tempos de mudança, os sacerdotes inovadores não
tardariam a perder toda a ideia sobre os fundamentos da Liturgia e se
contentariam com organizar, em função de necessidades práticas, umas
celebrações que não permitiriam a subida à experiência da transcendência de
Deus.
A Sagrada Congregação para o Culto Divino - organismo que
sucedeu à Sagrada Congregação dos Ritos e ao “Consilium” (conselho para nortear a renovação litúrgica) publicou 5
instruções que norteavam as mudanças na aplicação da reforma da liturgia.
A terceira instrução do Conselho, dessa Comissão encarregada
pelo zelo da liturgia – intitulada “Liturgicae
instauraones”, de 5 de dezembro de 1970, pedia urgentemente o fim de todas
as experiências depois da conclusão dos trabalhos sobre o novo Missal,
publicado naquele ano de 70.
No início se deixou mais livre para as inovações se
aplicassem na Liturgia. Mas era inevitável haverem alguns exageros. Já se tinha
pedido ao Papa Paulo VI que desse um fim as inovações litúrgicas, por vezes
impróprias e exageradas.
Interpelado nesse sentido, o Papa foi sapiente e deu a
resposta com a parábola do joio e do trigo, dizendo que não era conveniente tirar
ainda o joio, porque poderia se arrancar também o trigo, que eram também as
iniciativas bonitas que aconteciam da Reforma da Liturgia.
Essa terceira Instrução Liturgicae
instaurationis fornecia em primeiro lugar diretrizes acerca do papel
central do Bispo na renovação da Liturgia em toda a diocese. Nas reformas da
Liturgia é dever de cada bispo em sua diocese zelar para que não haja abusos,
desvios e exageros, omissões ou aditamentos ilícitos que possam falsear a
natureza própria da Liturgia. Por isso, a autoridade competente cuide que se
preserve a autêntica essência litúrgica. É o que aponta a Instrução Inter Oecumenici, primeiro documento
fruto da comissão encarregada para normatizar e regular a reforma litúrgica a
partir da SC. Diz assim no número 22 dessa instrução: “O bispo tem a autoridade
de regulamentar a liturgia dentro de sua própria diocese, guardando as normas e
o espírito da Constituição sobre a Liturgia, os decretos da Santa Sé, e a
autoridade territorial competente” [2].
[1] Helmut Hoping. A Constituição Sacrosanctum Concilium. in:
As constituições do Vaticano II, Ontem e Hoje. Geraldo B. Hackmann e Miguel de
Salis Amaral [org.], Edições CNBB, 2015, p.121.
[2] Consilium ad
Exsequandam Constitutionem de Sacra Liturgia. Instrução Inter Oecumenici para a reta aplicação da Constituição sobre a
Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, 26/09/1964, n.22.
17 de abril de 2019
No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II”, vamos falar no programa de hoje sobre “a importância da formação
litúrgica e o papel do Bispo”.
Em nosso último programa, falamos sobre “O Bispo local como
guardião da Liturgia”, destacando como na terceira instrução da Comissão
encarregada pelo zelo da Liturgia, intitulada “Liturgicae instaurationes” (05 de dezembro de 1970), eram dadas as
diretrizes acerca do papel central do Bispo na renovação da Liturgia em toda a
diocese. Nas reformas da Liturgia é dever de cada Bispo em sua diocese zelar
para que não haja abusos, desvios e exageros, omissões ou aditamentos ilícitos
que possam falsear a natureza própria da Liturgia. Por isso, a autoridade
competente cuide que se preserve a autêntica essência litúrgica. Já a Instrução
Inter Oecumenici diz no número 22,
que “o bispo tem a autoridade de regulamentar a liturgia dentro de sua própria
diocese, guardando as normas e o espírito da Constituição sobre a Liturgia, os
decretos da Santa Sé, e a autoridade territorial competente”.
Em seu discurso aos participantes da Assembleia Plenária da
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, realizada de 12
a 15 de fevereiro do corrente em Roma, o Papa falou sobre o desafio da
formação. “Falar da formação litúrgica do Povo de Deus - disse Francisco -
significa antes de tudo tomar consciência do papel insubstituível que a
liturgia desempenha na Igreja e para a Igreja”. E insistiu na necessidade da
formação permanente do clero e dos leigos, especialmente aqueles envolvidos nos
ministérios ao serviço da Liturgia.
O bispo de Bragança-Miranda (Portugal), Dom José Manuel
Cordeiro, que participou da Assembleia Plenária e do encontro com o Papa
Francisco, destaca que “o desafio da Liturgia é fazer ver o invisível, e até de
ver a própria Palavra. Parece algo impossível, mas a Liturgia tem também esta
força de tornar possível o impossível”:
“O Concílio Vaticano II, em alguns documentos, apresentou
até o próprio ensino da sagrada Liturgia como das principais disciplinas a ter
em conta na formação dos seminários e nas casas de formação, nas faculdades de
teologia. E este também foi um dos pontos tratados nos Círculos Menores e
também no apontamento final das proposições, porque não basta um semestre no
âmbito de seis anos, ou até dois semestres, mas nem sequer está em questão a
quantidade de horas dedicadas à Liturgia, mas também isso é revelador. Mas
sobretudo a interdisciplinaridade que deve existir. A Liturgia tem que ser
transversal a todas as disciplinas, a todas as dimensões do saber teológico e
filosófico, porque se ela, como nós acreditamos e temos como orientação do
Concílio Vaticano II deste renovamento e aprofundamento da Liturgia, é fonte e
o cume de toda a vida da Igreja, é claro que entre a vida e o cume há um grande
caminho a fazer, por isto que não é exclusiva, mas é decisiva, a Liturgia é
decisiva na vida da Igreja. E esta formação tem que ter claramente como
primeiro responsável, moderador, coordenador, como queiramos, o Bispo em cada
Diocese, porque é o grande liturgo. Não é o liturgista, porque tem outras
formações, mas há muitos que também são, mas somos todos liturgos porque
estamos na pessoa de Jesus Cristo e em nome da Igreja a servir o próprio
mistério de Cristo que é sempre o mesmo, em todas as celebrações, em tudo
aquilo que fazemos, porque nós cumprimos o seu mandato: ‘Fazei isto em memória
de mim’. E nesta formação, pois, tende-se não só ao clero propriamente dito,
aos Bispos, aos sacerdotes, aos presbíteros, aos diáconos, às pessoas
consagradas, mas a todos aqueles que exercem o ministério na vida da Igreja,
instituídos, designados, como queiramos
chamar, e são tantos, são tantos, na vida das Dioceses, nas Igrejas locais, mas
para todo o Povo santo de Deus, aquilo que o Papa também em seu discurso chamou
muito a atenção, e sublinhou, a via mistagógica da Igreja, a mistagogia, que é
o iniciar ao mistério, celebrando o próprio mistério, e não precisa de muitas
explicações, mas exige a participação, de modo especial na Páscoa semanal, ao
domingo, porque a força de nós vermos, ouvirmos, participarmos, vai entrando em
nós. E como diziam os Padres da Igreja, uma coisa é aquilo que vemos e outra
coisa é aquilo que somos chamados a compreender, porque os sinais sensíveis - o
pão, o vinho, a água, o azeite, a nossa própria presença, as palavras, os gestos,
todos os ritos, os símbolos que usamos na liturgia - são expressão disso mesmo,
para que nos remetam sempre para o invisível. No fundo a Liturgia tem este
grande desafio: é fazer ver o invisível, e até de ver a própria Palavra. Parece
algo impossível, mas a Liturgia tem também esta força de tornar possível o
impossível, porque Deus quis que assim fosse. Nós com nossa oração e a nossa
Liturgia não aumentamos em nada aquilo que Deus é. Mas tomamos nós consciência
da nossa profunda dignidade de filhos de Deus e do caminho a que somos chamados
a realizar, este caminho de santidade, felicidade, para a plenitude da vida em
Cristo. Por isso é que a Liturgia também é esta manifestação e esta epifania da
Igreja local, é ela que forma a própria Igreja local, de modo especial a
Liturgia presidida pelo Bispo, na Catedral, ou nas visitas pastorais, em
qualquer lugar onde está, esta Liturgia é expressão do todo da Igreja e em cada
diocese não está toda a Igreja, porque é uma porção do povo de Deus, mas está o
todo da Igreja. E a Liturgia é o lugar onde tudo isto se torna mais visível,
mais sensível, e daí o dizer também, e repito, que é um lugar decisivo para o
encontro, para a alegria do encontro com Jesus Cristo”.
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