Uma das práticas de piedade popular mais
conhecidas é a Via Sacra, na qual se meditam 14 estações associadas ao mistério
da Paixão do Senhor. Já publicamos dois textos aqui no blog sobre esta devoção,
tanto em sua forma tradicional quanto em seu formulário alternativo, a Via Sacra Bíblica.
Nem todos os fiéis, porém, conhecem a Via Lucis (Caminho da Luz), que consiste
em uma “Via Sacra da Ressurreição”, meditando 14 estações desde a Páscoa até o
Pentecostes.
A Ressurreição |
Enquanto a Via Sacra da Paixão é a principal
devoção durante o Tempo da Quaresma, a Via
Lucis pode ser uma excelente opção para o Tempo Pascal, embora possa ser
rezada em outros tempos litúrgicos.
Não há, também, um dia específico para
rezar a Via Lucis (a Via Sacra
geralmente reza-se nas sextas-feiras, dia em que ocorreu a Paixão): embora o
dia pascal por excelência seja o domingo, geralmente este dia é reservado à
Celebração Eucarística. Nada impede, claro, que seja rezada no domingo, mas
pode ser rezada em qualquer dia (por exemplo, na quarta-feira, dia em que por
costume se rezam os mistérios gloriosos do rosário).
Sobre a Via Lucis vale a pena reproduzir aqui na íntegra o n. 153 do Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, que apresenta esta devoção:
“Em tempos recentes, em várias regiões,
vem se difundindo uma prática de piedade denominada Via Lucis. Nela, como acontece na Via Sacra, os fiéis, percorrendo
um caminho, consideram as várias aparições nas quais Jesus - desde a
Ressurreição até a Ascensão, na perspectiva da Parusia - manifestou a sua
glória aos discípulos na expectativa do Espírito prometido (cf. Jo 14,26;
16,13-15; Lc 24,49), animou a fé deles, levou a cumprimento os ensinamentos do
Reino e definiu posteriormente a estrutura sacramental e hierárquica da Igreja.
Através da prática de piedade da Via Lucis, os fiéis recordam o evento
central da fé - a Ressurreição de Cristo - e a condição de discípulos que pelo
Batismo, sacramento pascal, passaram das trevas do pecado à luz da graça (cf.
Cl 1,13; Ef 5,8).
Durante séculos, a Via Sacra mediou a
participação dos fiéis no primeiro momento do evento pascal - a Paixão - e
contribuiu para fixar seus conteúdos na consciência do povo. Analogamente, em
nosso tempo, a Via Lucis, contanto
que seja realizada com fidelidade ao texto evangélico, pode mediar eficazmente
a compreensão vital dos fiéis do segundo momento da Páscoa do Senhor, a
Ressurreição.
A Via
Lucis pode se tornar também uma ótima pedagogia da fé, como se diz, per crucem ad lucem. De fato, através da
metáfora do caminho, a Via Lucis
conduz da constatação da dor, que no plano de Deus não é o ponto de chegada da
vida, à esperança da consecução da verdadeira meta do homem: a libertação, a
alegria, a paz, que são valores essencialmente pascais.
Enfim, a Via Lucis, numa sociedade que muitas vezes traz a marca da ‘cultura
da morte’, com suas expressões de angústia e de aniquilamento, é um estímulo
para instaurar uma ‘cultura da vida’, isto é, uma cultura aberta às
expectativas da esperança e às certezas da fé” [1].
Jesus caminha com os discípulos de Emaús |
Diferentemente
da Via Sacra, que já possui suas 14 estações bem definidas na mente dos fiéis,
não há uma “lista oficial” das estações da Via
Lucis. O único critério proposto pelo Diretório
é a fidelidade ao texto bíblico. Segue, portanto, uma proposta de estações, com
os respectivos textos bíblicos:
I
Estação: As mulheres vão ao sepulcro (Lc 24,1-6)
II
Estação: Os Apóstolos correm ao sepulcro (Jo 20,3-8)
III
Estação: Maria Madalena encontra o Ressuscitado (Jo 20,11-18)
IV
Estação: Jesus caminha com os discípulos de Emaús (Lc 24,13-27)
V
Estação: Jesus parte o pão com os discípulos de Emaús (Lc 24,28-35)
VI
Estação: Jesus encontra os Apóstolos no Cenáculo (Lc 24,35-41)
VII
Estação: Jesus concede aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados (Jo
20,19-23)
VIII
Estação: Jesus encontra-se com Tomé (Jo 20,24-29)
IX
Estação: A pesca milagrosa (Jo 21,1-14)
X
Estação: Jesus confia a Pedro sua missão (Jo 21,15-19)
XI
Estação: Jesus envia os Apóstolos em missão (Mt 28,16-20)
XII
Estação: A Ascensão de Jesus aos céus (At 1,8-11)
XIII
Estação: A espera do Espírito (At 1,12-14)
XIV
Estação: A vinda do Espírito Santo (At 2,1-6)
A
cada estação quem preside proclama o mistério e convida a assembleia com uma
aclamação ao Ressuscitado (por exemplo: “Nós vos adoramos, ó Jesus
Ressuscitado. R: Porque nos destes uma vida nova”). Em seguida um leitor
proclama o respectivo Evangelho e segue-se uma breve meditação ou oração.
A
celebração convém ser realizada de modo processional, da mesma forma que a Via
Sacra: geralmente se conduz a cruz (que neste caso poderia ser ornada com um
pano branco, em referência à alegria da Ressurreição) ladeada por duas velas
através da igreja ou em um ambiente fora dela.
Se
a Via Lucis é rezada dentro da
igreja, convém acender o círio pascal, que permanece junto do ambão, de onde
serão proclamados os Evangelhos, ou no centro do presbitério. Levar o círio em
procissão comporta algumas dificuldades (o círio pode apagar-se, a cera pode queimar
quem o porta, etc.). A cruz sintetiza muito bem o Mistério Pascal como um todo
e adequa-se mais ao caminhar processional.
Que
possamos descobrir a beleza desta devoção em nossas comunidades, a fim de que o
povo de Deus compreenda ainda mais o mistério central da nossa fé em seus dois
aspectos inseparáveis: a Morte e a Ressurreição do Senhor.
A vinda do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos |
[1]
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia:
Princípios e orientações. São Paulo: Paulinas, 2003, pp. 131-132.
Nenhum comentário:
Postar um comentário