24 de abril de 2019
No Sábado Santo, vivemos a Grande Vigília Pascal, também
conhecida como a Mãe de todas as Vigílias. Cada momento da Liturgia desta
noite, que é essencialmente batismal desde os primeiros séculos, nos leva a
esta experiência de uma nova criação. Da criação do mundo, descrita no Livro do
Gênesis, à noite de Páscoa com o batizado dos catecúmenos, com renovação das
promessas do Batismo. Mas começamos falando do Sábado Santo, apenas para
exemplificar a riqueza da Liturgia e o esmero de seu preparo.
A Liturgia, de fato, “é o lugar onde tudo isto se torna mais
visível, mais sensível (...) é um lugar decisivo para o encontro, para a
alegria do encontro com Jesus Cristo”, como nos disse o Bispo de Bragança-Miranda
(Portugal), Dom José Manuel Cordeiro.
“O pão, o vinho, a água, o azeite, a nossa própria presença,
as palavras, os gestos, todos os ritos, os símbolos que usamos na Liturgia”,
devem nos remeter sempre para o invisível. A Liturgia, no fundo, tem este grande
desafio: “fazer ver o invisível, e até
de ver a própria palavra (...). A Liturgia tem esta força de tornar possível o
impossível.”
“A Liturgia não pode ser inventada (...), mas adaptada de
acordo com as permissões e prescrições que se nos permitem pelas normas
orientadas pela Santa Sé”, por meio da Congregação para o Culto e a Disciplina
dos Sacramentos, como nos explica no programa de hoje, Padre Gerson Schmidt:
Os símbolos na Liturgia, além do que são próprios do ato
litúrgico, precisam ser utilizados com moderação e ponderação, não de maneira
exaustiva e intransigente. Na busca de tornar a Liturgia mais viva e mais
participativa, se buscou demasiadamente inventar tantos símbolos, fazer
acréscimos de para-liturgias que, ao invés de ajudarem, trazem mais confusão ou
distorções, descentralizando-se do verdadeiro sentido do mistério pascal, da
mesa do sacrifício eucarístico e da riqueza da Liturgia como tal.
Parece que a Liturgia por si só não fala nada, porque não a
entendemos, e aí temos que completá-la com acréscimos demasiados, empanturrando
a Liturgia de elementos desnecessários. Transformamos, por vezes, a celebração
dominical, do Tempo Comum, numa esticada missa que nunca acaba.
Na Liturgia, parece que o critério do menos é ainda o
melhor. Colocamos, por exemplo, 10 símbolos diversos na procissão do ofertório,
quando não os colocamos igualmente já na procissão de entrada. E quando
queremos dar destaque a tudo, nada fica, porque tudo se torna extremamente
acentuado ou deturpado. A Liturgia já tem uma dinâmica própria e já possui seus
símbolos próprios e profundos.
O símbolo deveria falar por si só. O símbolo que precisa ser
muito explicado deixa de ser símbolo. Não precisamos reinventar uma nova
Liturgia. Parece que a moda é uma criatividade exacerbada, desfocada da
essência do mistério à custa de inovações, que ao invés de enriquecer, tantas
vezes empobrecem o sentido mais profundo da ação sagrada.
É como a SC aponta: “Os próprios sinais sensíveis que a
Liturgia usa para simbolizar as realidades divinas invisíveis foram escolhidos
por Cristo ou pela Igreja” (SC, 33). Porque encher de outros tantos elementos
outros? Não significa que não possa havê-los, mas que levem ao foco principal e
não sejam dispersivos.
A ação de graças, outrossim, em muitas comunidades é
sinônimo de apresentação teatral ou homenagens diversas, desfocando do
verdadeiro da centralidade da refeição sagrada. Tantas vezes acontece uma
indigestão litúrgica frente a tantos outros aspectos e novidades, que se quer
trazer presentes, na boa intenção de melhor celebrar.
Outras vezes, encompridamos demasiadamente a Liturgia da
Palavra e acabamos atropelando a Liturgia Eucarística, porque o tempo da
primeira parte extrapolou. Enfim, há aqui muitas coisas que poderíamos elencar
como avanços ou retrocessos, de acordo com a visão dos liturgistas. Sabemos que
a Liturgia não pode ser inventada de acordo com nosso jeito, nosso gosto, nossa
cara, mas adaptada de acordo com as permissões e prescrições que se nos
permitem pelas normas orientadas pela Santa Sé, por meio da Congregação para o
Culto e os Sacramentos.
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