Dídimo de Alexandria
Tratado sobre a Trindade
“O
Batismo nos torna imortais e nos deifica”
Batismo
autêntico é o que, depois da aparição ou visível manifestação do Filho e do
Espírito Santo, exerce sua ação libertadora cada dia, ou melhor, a cada hora
ou, para expressar-me com mais exatidão, a cada momento, sobre todos os que
descem às águas batismais, sobre todo tipo de pecado e para sempre. Ademais,
este Batismo, aos que já são irmãos pela graça, os converte em primogênitos e
recém-nascidos, sem excluir nem os de pouca idade nem aos de idade avançada.
Inclusive aqueles a quem – segundo a prudência humana – não lhes são confiadas
as riquezas terrenas por não oferecer suficiente garantia de segurança, seja
pela pouca, seja por sua excessiva idade, até mesmo a estes se entrega com
plena segurança todo o patrimônio divino, ao ponto de cantarem alvoroçados: O Senhor é meu pastor, não me falta nada: em
verdes prados me leva a descansar; conduz-me a fontes tranquilas. E preparas
uma mesa diante de mim, frente aos meus inimigos; unges-me a cabeça com perfume
e o meu cálice transborda.
O mesmo anjo que
movia a água era precursor do Espírito Santo; e João, que também é chamado anjo
do Senhor, foi constituído precursor do Senhor, e batizava na água. E o crisma
com o qual foram ungidos Aarão e Moisés e posteriormente todos que foram
ungidos com o corno sacerdotal – e que por razão do crisma foram designados
“cristos”, ou seja, ungidos –, eram tipo (imagem) do crisma santificado que nós
recebemos. Crisma que mesmo que fluía corporalmente, aproveita espiritualmente.
Pois tão certo como a fé da Trindade beatíssima desce sobre o nosso coração, a
palavra do Espírito sobre nossa boca e o selo de Cristo brilha em nossa fronte;
tão certo como recebeu o Batismo e nos confirmou com o crisma, imediatamente –
repito – encontramos propícia a Trindade, ela que é por natureza a dispensadora
de todos os bens; imediatamente vem a nós, e no mesmo momento os espíritos
imundos se retiram dos que já estão limpos, perde-se o interesse por assuntos
mundanos, foge de nós todo tipo de paixões corporais, nos são perdoados todos
os delitos, nossos nomes são inscritos nos livros indeléveis, nos são
dispensados os bens celestiais: tanto que a própria Trindade, inefavelmente
generosa e provida como é, querendo ser o princípio de toda obra boa, previne e
antecede até mesmo os nossos projetos de bondade.
Chamaram
“santos” a todos os inscritos em Jerusalém entre os vivos; porque o Senhor
lavará a imundície dos filhos e das filhas de Sião, e limpará o sangue do meio
deles, com o sopro do juízo, com o sopro ardente. Em sua primeira carta, Pedro
nos ensina que se antigamente o Batismo, que não era senão uma figura, salvava,
com muito maior razão o Batismo, que é a realidade, nos torna imortais e nos
deifica. De fato, ele escreve: Aquilo foi
um símbolo do Batismo que atualmente vos salva: e que não consiste em limpar
uma imundície corporal, mas em impetrar de Deus uma consciência pura, pela
Ressurreição de Cristo Jesus, que chegou ao céu, submeteram-se a ele os anjos,
autoridades e poderes, e ele está sentado à direita de Deus.
Nós que estamos
transformando-nos em espirituais, não somente vemos e percebemos estas coisas,
mas também somos gratuitamente iluminados pelo Espírito Santo, e desfrutamos
delas cada vez que participamos do Corpo de Cristo e degustamos da fonte da
imortalidade.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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Confira também uma homilia de São Leão Magno para esta celebração clicando aqui.
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