sábado, 20 de abril de 2019

Homilia: Vigília Pascal

Dídimo de Alexandria
Tratado sobre a Trindade
O Batismo nos torna imortais e nos deifica

Batismo autêntico é o que, depois da aparição ou visível manifestação do Filho e do Espírito Santo, exerce sua ação libertadora cada dia, ou melhor, a cada hora ou, para expressar-me com mais exatidão, a cada momento, sobre todos os que descem às águas batismais, sobre todo tipo de pecado e para sempre. Ademais, este Batismo, aos que já são irmãos pela graça, os converte em primogênitos e recém-nascidos, sem excluir nem os de pouca idade nem aos de idade avançada. Inclusive aqueles a quem – segundo a prudência humana – não lhes são confiadas as riquezas terrenas por não oferecer suficiente garantia de segurança, seja pela pouca, seja por sua excessiva idade, até mesmo a estes se entrega com plena segurança todo o patrimônio divino, ao ponto de cantarem alvoroçados: O Senhor é meu pastor, não me falta nada: em verdes prados me leva a descansar; conduz-me a fontes tranquilas. E preparas uma mesa diante de mim, frente aos meus inimigos; unges-me a cabeça com perfume e o meu cálice transborda.
O mesmo anjo que movia a água era precursor do Espírito Santo; e João, que também é chamado anjo do Senhor, foi constituído precursor do Senhor, e batizava na água. E o crisma com o qual foram ungidos Aarão e Moisés e posteriormente todos que foram ungidos com o corno sacerdotal – e que por razão do crisma foram designados “cristos”, ou seja, ungidos –, eram tipo (imagem) do crisma santificado que nós recebemos. Crisma que mesmo que fluía corporalmente, aproveita espiritualmente. Pois tão certo como a fé da Trindade beatíssima desce sobre o nosso coração, a palavra do Espírito sobre nossa boca e o selo de Cristo brilha em nossa fronte; tão certo como recebeu o Batismo e nos confirmou com o crisma, imediatamente – repito – encontramos propícia a Trindade, ela que é por natureza a dispensadora de todos os bens; imediatamente vem a nós, e no mesmo momento os espíritos imundos se retiram dos que já estão limpos, perde-se o interesse por assuntos mundanos, foge de nós todo tipo de paixões corporais, nos são perdoados todos os delitos, nossos nomes são inscritos nos livros indeléveis, nos são dispensados os bens celestiais: tanto que a própria Trindade, inefavelmente generosa e provida como é, querendo ser o princípio de toda obra boa, previne e antecede até mesmo os nossos projetos de bondade.
Chamaram “santos” a todos os inscritos em Jerusalém entre os vivos; porque o Senhor lavará a imundície dos filhos e das filhas de Sião, e limpará o sangue do meio deles, com o sopro do juízo, com o sopro ardente. Em sua primeira carta, Pedro nos ensina que se antigamente o Batismo, que não era senão uma figura, salvava, com muito maior razão o Batismo, que é a realidade, nos torna imortais e nos deifica. De fato, ele escreve: Aquilo foi um símbolo do Batismo que atualmente vos salva: e que não consiste em limpar uma imundície corporal, mas em impetrar de Deus uma consciência pura, pela Ressurreição de Cristo Jesus, que chegou ao céu, submeteram-se a ele os anjos, autoridades e poderes, e ele está sentado à direita de Deus.
Nós que estamos transformando-nos em espirituais, não somente vemos e percebemos estas coisas, mas também somos gratuitamente iluminados pelo Espírito Santo, e desfrutamos delas cada vez que participamos do Corpo de Cristo e degustamos da fonte da imortalidade.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 589-590. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Leão Magno para esta celebração clicando aqui.

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