sábado, 27 de abril de 2019

Homilia: II Domingo da Páscoa - Ano C

Orígenes
Exortação ao martírio
Os que são companheiros de Cristo no sofrimento, também o são no bom consolo

Se passamos da morte para a vida, ao passar da infidelidade à fé, não estranhemos que o mundo nos odeie. Pois quem não passou ainda da morte para a vida, mas permanece na morte, não pode amar aos que saíram das trevas e entraram, por assim dizer, nesta mansão da luz edificada com pedras vivas.
Jesus deu a sua vida por nós; demos também nossa vida, não digo por ele, mas por nós mesmos e, me atreveria a dizê-lo, por aqueles que vão sentir-se encorajados por nosso martírio.
Chegou, ó cristãos, o tempo de gloriar-nos. Pois a Escritura disse: Nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a constância, a constância a virtude provada, a virtude a esperança e a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações com o Espírito Santo que nos foi dado.
Se os sofrimentos de Cristo crescem em nós, graças a Cristo cresce também nosso consolo; aceitemos, pois, com grande alegria os padecimentos de Cristo, e que se multipliquem em nós, se realmente almejamos um consolo abundante, como o obterão todos aqueles que choram. Porém, este consolo tranquilamente irá superar os sofrimentos, já que, se houvesse uma exata proporção, não estaria escrito: Se os sofrimentos de Cristo crescem em nós, graças a Cristo cresce também nosso consolo.
Os que são solidários partícipes nos sofrimentos de Cristo participarão também, de acordo com o seu grau de participação, em sua consolação. Este é o pensamento de Paulo, que afirma com toda a confiança: Se sois companheiros no sofrimento, também o sois na boa consolação.
Deus também disse pelo profeta: No tempo da graça lhe respondi, lhe auxiliei no dia da salvação. Que tempo pode ser mais favorável do que o momento no qual, por nossa fé em Deus por Cristo, somos escoltados solenemente ao martírio, mas como triunfadores e não como vencidos?
Os mártires de Cristo, com seu poder, derrotam aos principados e potestades e triunfam sobre eles, para que, ao serem participantes de seus sofrimentos, tenham também parte no que ele alcançou por meio de sua fortaleza nos sofrimentos.
Portanto, o dia da salvação não é outro que aquele em que desta forma partis deste mundo.
Porém, eu vos rogo: Para não ridicularizar nosso ministério, nunca deis a ninguém motivo de escândalo; ao contrário, dai continuamente prova de que sois ministros de Deus com o muito que passais: E agora, Senhor, que esperança me resta? Tu és a minha confiança.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 597-598. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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