quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Homilia do Papa: Vésperas no encerramento do ano

Primeiras Vésperas da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus 
Te Deum de Ação de Graças pelo encerramento do Ano
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
Segunda-feira, 31 de dezembro de 2017

No final do ano, a Palavra de Deus acompanha-nos com estes dois versículos do apóstolo Paulo (cf. Gl 4,4-5). São expressões breves e densas: uma síntese do Novo Testamento que dá sentido a um momento «crítico» como é sempre uma passagem de ano.
A primeira expressão que nos sensibiliza é «plenitude do tempo». Assume uma ressonância particular nestas horas finais dum ano solar, em que sentimos ainda mais a necessidade de algo que encha de significado o transcorrer do tempo. Algo, ou melhor, alguém. E este «alguém» veio. Deus enviou-o: é «o seu Filho», Jesus. Celebramos há pouco o seu nascimento: nasceu duma mulher, a Virgem Maria; nasceu sob a Lei, um menino hebreu, sujeito à Lei do Senhor. Mas, como é possível? Como pode ser isto o sinal da «plenitude do tempo»? Claro, por enquanto é quase invisível e insignificante, mas, dentro de pouco mais de trinta anos, aquele Jesus desencadeará uma força inaudita, que dura ainda e durará ao longo da história inteira: a força do Amor. É o amor que dá plenitude a tudo, mesmo ao tempo; e Jesus é o «concentrado» de todo o amor de Deus num ser humano.
São Paulo diz, claramente, o motivo por que o Filho de Deus nasceu no tempo, qual é a missão que o Pai Lhe confiou para realizar: nasceu «para resgatar». Esta é a segunda palavra que sensibiliza: resgatar, isto é, fazer sair duma condição de escravidão e restituir à liberdade – à dignidade e à liberdade próprias de filhos. A escravidão que o apóstolo tem em mente é a da «Lei», entendida como um conjunto de preceitos que devem ser observados, uma Lei que certamente educa o homem, é pedagógica, mas não o liberta da sua condição de pecador; antes, de certo modo «crava-o» a esta condição, impedindo-o de atingir a liberdade do filho.
Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito para desenraizar do coração do homem a escravidão antiga do pecado e, assim, restituir-lhe a sua dignidade. Pois, é do coração humano – como Jesus ensina no Evangelho (cf. Mc 7,21-23) – que saem todas as más intenções, as iniquidades que corrompem a vida e as relações.
E aqui devemos deter-nos; deter-nos a refletir com amargura e arrependimento porque, também durante este ano que chega ao fim, muitos homens e mulheres viveram, e vivem, em condições de escravidão, condições indignas de pessoas humanas.
Também na nossa cidade de Roma, há irmãos e irmãs que, por vários motivos, estão neste estado. Penso, de modo particular, naqueles que vivem sem lar. São mais de dez mil. De inverno, a sua situação é particularmente dura. Todos eles são filhos e filhas de Deus, mas diferentes formas de escravidão, por vezes muito complexas, levaram-nos a viver no limite extremo da dignidade humana. O próprio Jesus nasceu em condição semelhante, mas não por acaso nem por um incidente: quis nascer assim, para manifestar o amor de Deus pelos humildes e os pobres e, deste modo, lançar no mundo a semente do Reino de Deus, Reino de justiça, amor e paz, onde ninguém é escravo, mas todos são irmãos, filhos do único Pai.
A Igreja que está em Roma não quer ficar indiferente às escravidões do nosso tempo, nem limitar-se a observá-las e prestar-lhes assistência, mas quer estar dentro desta realidade, próxima a estas pessoas e situações. Proximidade materna.
Apraz-me encorajar esta forma da maternidade da Igreja, ao celebrarmos a maternidade divina da Virgem Maria. Contemplando este mistério, reconhecemos que Deus «nasceu de uma mulher» para que nós pudéssemos receber a plenitude da nossa humanidade, «a adoção de filhos». Pelo seu abaixamento, fomos solevados. Da sua pequenez, veio a nossa grandeza. Da sua fragilidade, a nossa força. De Ele Se fazer servo, a nossa liberdade.
Que nome dar a tudo isso, senão Amor? Amor do Pai e do Filho e do Espírito Santo, a Quem a santa mãe Igreja eleva em todo o mundo, nesta tarde, o seu hino de louvor e agradecimento.


Fonte: Santa Sé

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