Primeiras Vésperas da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus
Te Deum de Ação de
Graças pelo encerramento do Ano
Homilia
do Papa Francisco
Basílica
Vaticana
Segunda-feira,
31 de dezembro de 2017
No final do ano, a Palavra de Deus
acompanha-nos com estes dois versículos do apóstolo Paulo (cf. Gl 4,4-5).
São expressões breves e densas: uma síntese do Novo Testamento que dá sentido a
um momento «crítico» como é sempre uma passagem de ano.
A primeira expressão que nos
sensibiliza é «plenitude do tempo». Assume uma ressonância particular
nestas horas finais dum ano solar, em que sentimos ainda mais a necessidade de
algo que encha de significado o transcorrer do tempo. Algo, ou melhor, alguém.
E este «alguém» veio. Deus enviou-o: é «o seu Filho», Jesus. Celebramos há
pouco o seu nascimento: nasceu duma mulher, a Virgem Maria; nasceu sob a Lei,
um menino hebreu, sujeito à Lei do Senhor. Mas, como é possível? Como pode ser
isto o sinal da «plenitude do tempo»? Claro, por enquanto é quase invisível e
insignificante, mas, dentro de pouco mais de trinta anos, aquele Jesus
desencadeará uma força inaudita, que dura ainda e durará ao longo da história
inteira: a força do Amor. É o amor que dá plenitude a tudo, mesmo
ao tempo; e Jesus é o «concentrado» de todo o amor de Deus num ser humano.
São Paulo diz, claramente, o
motivo por que o Filho de Deus nasceu no tempo, qual é a
missão que o Pai Lhe confiou para realizar: nasceu «para resgatar». Esta é a
segunda palavra que sensibiliza: resgatar, isto é, fazer sair duma
condição de escravidão e restituir à liberdade – à dignidade e à liberdade
próprias de filhos. A escravidão que o apóstolo tem em mente é a da «Lei»,
entendida como um conjunto de preceitos que devem ser observados, uma Lei que
certamente educa o homem, é pedagógica, mas não o liberta da sua condição de
pecador; antes, de certo modo «crava-o» a esta condição, impedindo-o de atingir
a liberdade do filho.
Deus enviou ao mundo o seu Filho
Unigénito para desenraizar do coração do homem a escravidão antiga do pecado e,
assim, restituir-lhe a sua dignidade. Pois, é do coração humano – como Jesus
ensina no Evangelho (cf. Mc 7,21-23) – que saem todas as más
intenções, as iniquidades que corrompem a vida e as relações.
E aqui devemos deter-nos; deter-nos a
refletir com amargura e arrependimento porque, também durante este ano que
chega ao fim, muitos homens e mulheres viveram, e vivem, em condições de
escravidão, condições indignas de pessoas humanas.
Também na nossa cidade de Roma, há
irmãos e irmãs que, por vários motivos, estão neste estado. Penso, de modo
particular, naqueles que vivem sem lar. São mais de dez mil. De inverno, a sua
situação é particularmente dura. Todos eles são filhos e filhas de Deus, mas
diferentes formas de escravidão, por vezes muito complexas, levaram-nos a viver
no limite extremo da dignidade humana. O próprio Jesus nasceu em condição
semelhante, mas não por acaso nem por um incidente: quis nascer assim, para
manifestar o amor de Deus pelos humildes e os pobres e, deste modo, lançar no
mundo a semente do Reino de Deus, Reino de justiça, amor e paz, onde ninguém é
escravo, mas todos são irmãos, filhos do único Pai.
A Igreja que está em Roma não quer
ficar indiferente às escravidões do nosso tempo, nem limitar-se a observá-las e
prestar-lhes assistência, mas quer estar dentro desta
realidade, próxima a estas pessoas e situações. Proximidade
materna.
Apraz-me encorajar esta forma da
maternidade da Igreja, ao celebrarmos a maternidade divina da Virgem Maria.
Contemplando este mistério, reconhecemos que Deus «nasceu de uma mulher» para
que nós pudéssemos receber a plenitude da nossa humanidade, «a adoção de
filhos». Pelo seu abaixamento, fomos solevados. Da sua pequenez, veio a nossa
grandeza. Da sua fragilidade, a nossa força. De Ele Se fazer servo, a nossa
liberdade.
Que nome dar a tudo isso, senão Amor?
Amor do Pai e do Filho e do Espírito Santo, a Quem a santa mãe Igreja eleva em
todo o mundo, nesta tarde, o seu hino de louvor e agradecimento.
Fonte: Santa Sé
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