domingo, 6 de janeiro de 2019

Catequese do Papa João Paulo II sobre a Epifania

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 24 de janeiro de 1979

1. Na festa da Epifania lemos a passagem do Evangelho de São Mateus, que descreve a chegada a Belém dalguns Magos do Oriente: Entrando na casa viram o Menino com Maria, sua Mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra (Mt 2,11-12).
Já falamos um dia, neste local, dos pastores que encontraram o Menino, o Filho de Deus nascido, que estava deitado na manjedoura (Lc 2,16).
Hoje ocupamo-nos mais uma vez dessas personagens que, segundo diz a tradição, eram três: os Reis Magos. O texto conciso de São Mateus exprime bem o que faz parte da substância mesma do encontro do homem com Deus: «prostrando-se adoraram-no». O homem encontra a Deus no ato de veneração, de adoração e de culto. Convém notar que a palavra «culto» (cultus) está em relação íntima com o termo «cultura». A substância mesma da cultura humana, das diversas culturas, compete a admiração, a veneração do que é divino, do que levanta o homem para o alto. Um segundo elemento do encontro do homem com Deus, colocado em realce pelo Evangelho, está encerrado nas palavras: «abriram os cofres e ofereceram-lhe presentes ...». Nestas palavras, indica São Mateus um fator que profundamente caracteriza a substância mesma da religião, entendida ao mesmo tempo como conhecimento e como encontro. O conhecimento só abstrato de Deus não constitui, não forma ainda, tal substância.
O homem conhece a Deus encontrando-se com Ele, e vice-versa encontra-o no ato do conhecimento. Encontra-se com Deus quando se abre diante d'Ele com o dom interior do próprio «eu» humano, para aceitar e receber em troca o Seu Dom.
Os Reis Magos, no momento em que se apresentam diante do Menino que se encontrava nos braços da Mãe, aceitam, na luz da Epifania, o Dom de Deus Encarnado, a sua inefável entrega ao homem no mistério da Encarnação. Ao mesmo tempo, «abrem os seus cofres com os presentes»; trata-se dos dons concretos de que fala o Evangelista, mas sobretudo abrem-se a si mesmos diante d'Ele, com o dom interno do próprio coração. E é este o verdadeiro tesouro por eles oferecido, de que o ouro, o incenso e a mirra constituem somente a expressão exterior. Neste dom consiste o fruto da Epifania: reconhecem a Deus e encontram-se com Ele.
2. Ao meditar assim, juntamente convosco aqui reunidos, aquelas palavras do Evangelho de Mateus, vêm-me ao espírito os textos da Constituição Lumen Gentium, que falam da universalidade da Igreja. O dia da Epifania é a festa da universalidade da Igreja, da sua missão universal. Ora, no Concílio lemos: «O povo de Deus encontra-se em todos os povos da terra, já que de todos recebe os cidadãos, que o são dum reino não terrestre mas celeste. Pois todos os fiéis espalhados pelo orbe comunicam com os restantes por meio do Espírito Santo, de maneira que 'aquele que vive em Roma sabe que os indianos são membros seus'» (Lumen Gentium, 13). Portanto, como o Reino de Cristo não é deste mundo (Cf Jo 18,36), a Igreja, isto é, o Povo de Deus, levando aqui e acolá este Reino, nada tira ao bem temporal deste ou daquele, mas pelo contrário favorece e acolhe todas as capacidades e todos os recursos e costumes dos povos, enquanto são recomendáveis, e, acolhendo-os, purifica-os, consolida-os e eleva-os. De facto, ela recorda-se bem que há de «recolher» juntamente com aquele Rei, a que foram dados em herança os povos (Cf. Sl 2,6), e a cuja cidade levam os Magos os seus dons e ofertas (Cf. Sl 71/72,10; Is 60,4-7; Ap 21,24). Este carácter de universalidade, que adorna e distingue o Povo de Deus, é dom do mesmo Senhor, e com ele tende a Igreja católica, eficazmente e sem paragens, a concentrar a humanidade inteira, com todos os seus bens, em Cristo Cabeça, na unidade do Seu Espírito.
«Em virtude desta mesma catolicidade, cada uma das partes traz às outras e a toda a Igreja os seus dons particulares, de maneira que o todo e cada uma das partes aumentam, pela comunicação mútua entre todos e pela aspiração comum à plenitude da unidade. Daí vem que o Povo de Deus ... se recolhe de diversos povos» (Lumen Gentium, 13).
Aqui temos diante dos olhos a mesma imagem, já presente no Evangelho de São Mateus, lido na Epifania; só que se encontra aqui muito ampliada. Cristo, que em Belém, como Menino, recebeu os presentes dos Reis Magos, é ainda e sempre Aquele diante de quem os homens e Povos inteiros «abrem os seus tesouros». Os dons do espírito humano, no ato desta abertura diante de Deus Encarnado, adquirem valor especial, tornam-se os tesouros de várias culturas, riqueza espiritual dos Povos e das Nações, património comum de toda a humanidade. Este patrimônio forma-se e alarga-se sempre, através daquela «troca de dons», de que fala a constituição Lumen Gentium. O centro daquela troca é Ele: o mesmo que recebeu os presentes dos Reis Magos. Ele mesmo, que é o Dom visível e encarnado, causa a abertura das almas e aquela troca de presentes, de que vivem não só cada homem, mas também os Povos, as Nações e a Humanidade inteira.

O Papa dedica o final de sua Catequese para falar sobre sua Viagem ao México, particularmente ao Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, que ocorreu do dia 25 de janeiro a 01 de fevereiro de 1979, sendo a primeira viagem internacional do Pontífice.


Fonte: Santa Sé

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