Viagem Apostólica do Papa
Francisco ao Panamá
XXXIV Jornada Mundial da Juventude
Via-Sacra com
os Jovens
Discurso do Papa Francisco
Campo Santa
Maria la Antigua - Faixa Costera (Panamá)
Sexta-feira,
25 de janeiro de 2019
Queridos jovens de todo o mundo!
Caminhar com Jesus será sempre uma graça e um risco.
Uma graça, porque nos compromete a viver na fé e a
conhecê-Lo, penetrando nas profundezas do seu coração, compreendendo a força da
sua palavra.
Um risco, porque, em Jesus, as suas palavras, os
seus gestos, as suas ações contrastam com o espírito do mundo, a ambição
humana, as propostas duma cultura do descarte e da falta de amor.
Há uma certeza que enche de esperança esta
via-sacra: Jesus percorreu-a com amor; e viveu-a também a Virgem Gloriosa, Ela
que, desde o início da Igreja, quis sustentar com a sua ternura o caminho da
evangelização.
Senhor, Pai de misericórdia, nesta Faixa Costeira,
juntamente com tantos jovens vindos de todo o mundo, acabamos de acompanhar o
vosso Filho no caminho da cruz; caminho esse, que Ele quis percorrer por nós,
para nos mostrar quanto Vós nos amais e como estais envolvido na nossa vida.
O caminho de Jesus para o Calvário é um caminho de
sofrimento e solidão que continua nos nossos dias. Ele caminha e sofre em
tantos rostos que padecem a indiferença satisfeita e anestesiante da nossa sociedade,
sociedade que consome e que se consome, que ignora e se ignora na dor dos seus
irmãos.
Também nós, vossos amigos, Senhor, nos deixamos
levar pela apatia e o imobilismo. Tantas vezes nos derrotou e paralisou o
conformismo. Foi difícil reconhecer-Vos no irmão sofredor: desviamos o olhar,
para não ver; refugiamo-nos no barulho, para não ouvir; tapamos a boca, para
não gritar.
Sempre a mesma tentação. É mais fácil e
«remunerador» ser amigo nas vitórias e na glória, no sucesso e no aplauso; é
mais fácil estar próximo a quem é considerado popular e vencedor.
Como é fácil cair na cultura do bullying,
do assédio, da intimidação, do encarniçamento sobre quem é fraco!
Para Vós, Senhor, não é assim! Na cruz,
identificastes-Vos com todo o sofrimento, com quem se sente esquecido.
Para Vós, Senhor, não é assim, porque quisestes
abraçar todos aqueles que muitas vezes consideramos não dignos de um abraço,
uma carícia, uma bênção; ou, pior ainda, nem nos damos conta de que precisam
disso, ignoramo-los.
Para Vós, Senhor, não é assim! Na cruz, unistes-Vos
à via-sacra de cada jovem, de cada situação para a transformar numa via de
ressurreição.
Pai, hoje a via-sacra do vosso Filho…
prolonga-se no grito sufocado das crianças
impedidas de nascer e de tantas outras a quem se nega o direito de ter uma
infância, uma família, uma instrução; nas crianças que não podem jogar, cantar,
sonhar;
prolonga-se nas mulheres maltratadas, exploradas e
abandonadas, despojadas e ignoradas na sua dignidade;
e nos olhos tristes dos jovens que veem ser
arrebatadas as suas esperanças de futuro por falta de instrução e trabalho
digno;
prolonga-se na angústia de rostos jovens, nossos
amigos, que caem nas redes de pessoas sem escrúpulos - entre elas, encontram-se
também pessoas que dizem servir-Vos, Senhor -, redes de exploração,
criminalidade e abuso, que se alimentam das suas vidas.
A via-sacra do vosso Filho prolonga-se em tantos
jovens e famílias que, absorvidos numa espiral de morte por causa da droga, do
álcool, da prostituição e do tráfico humano, ficam privados não só do futuro,
mas também do presente. E, assim como repartiram as vossas vestes, Senhor,
acaba repartida, maltratada a sua dignidade.
A via-sacra do vosso Filho prolonga-se nos jovens
com rostos franzidos que perderam a capacidade de sonhar, criar e inventar o
amanhã e «passam à aposentação» com o dissabor da resignação e do conformismo,
uma das drogas mais consumidas no nosso tempo.
Prolonga-se na dor escondida e indignada de
quantos, em vez de solidariedade por parte duma sociedade repleta de
abundância, encontram rejeição, sofrimento e miséria, e além disso acabam
assinalados e tratados como portadores e responsáveis de todo o mal social.
A paixão do vosso Filho prolonga-se na solidão
resignada dos idosos, que deixamos abandonados e descartados.
Prolonga-se nos povos nativos, despojados das suas
terras, das suas raízes e da sua cultura, silenciando e apagando toda a
sabedoria que têm e nos podem oferecer.
Pai, a via-sacra do vosso Filho prolonga-se no
grito da nossa mãe Terra, que é ferida nas suas entranhas pela contaminação da
atmosfera, a esterilidade dos seus campos, o lixo das suas águas, e se vê
espezinhada pelo desprezo e o consumo enlouquecido que ignora razões.
Prolonga-se numa sociedade que perdeu a capacidade
de chorar e comover-se à vista do sofrimento.
Sim, Pai! Jesus continua a caminhar, carregar e
padecer em todos estes rostos enquanto o mundo, indiferente e num cómodo cinismo,
consuma o drama da sua própria frivolidade.
E nós, Senhor, que fazemos?
Como reagimos à vista de Jesus que sofre, caminha,
emigra no rosto de tantos amigos nossos, de tantos desconhecidos que aprendemos
a tornar invisíveis?
E nós, Pai de misericórdia…
consolamos e acompanhamos o Senhor, inerme e
sofredor, nos mais pequenos e abandonados?
ajudamo-Lo a carregar o peso da cruz, como o
Cireneu, fazendo-nos operadores de paz, criadores de alianças, fermento de
fraternidade?
Temos a coragem de permanecer ao pé da cruz, como
Maria?
Contemplemos Maria, mulher forte. D’Ela, queremos
aprender a ficar de pé junto da cruz. Com a sua mesma decisão e coragem, sem
evasões nem miragens. Ela soube acompanhar o sofrimento de seu Filho, vosso
Filho, ó Pai, apoiá-Lo com o olhar e protegê-Lo com o coração. Que dor sofreu!
Mas não A abateu. Foi a mulher forte do «sim», que apoia e acompanha, protege e
abraça. É a grande guardiã da esperança.
Pai, também nós queremos ser uma Igreja que apoia e
acompanha, que sabe dizer: estou aqui, na vida e nas cruzes de tantos cristos que
caminham ao nosso lado.
De Maria, aprendemos a dizer «sim» à resistência
forte e constante de tantas mães, tantos pais, avós que não cessam de apoiar e
acompanhar os seus filhos e netos quando estão com problemas.
D’Ela, aprendemos a dizer «sim» à paciência
obstinada e à criatividade daqueles que não desanimam e recomeçam do princípio
nas situações em que tudo parece estar perdido, procurando criar espaços,
ambientes familiares, centros de atenção que sejam uma mão estendida nas
dificuldades.
Em Maria, aprendemos a força para dizer «sim»
àqueles que não se calaram nem calam perante uma cultura dos maus-tratos e
abuso, do descrédito e agressão, e trabalham para proporcionar oportunidades e
condições de segurança e proteção.
Em Maria, aprendemos a acolher e hospedar todos
aqueles que foram abandonados, que tiveram de sair ou perder a sua terra, as
raízes, a família, o emprego.
Pai, como Maria, queremos ser Igreja, a Igreja que
favoreça uma cultura que saiba acolher, proteger, promover e integrar; que não
estigmatize e, menos ainda, generalize com a condenação mais absurda e
irresponsável que é ver todo o migrante como portador do mal social.
D’Ela, queremos aprender a estar de pé junto da
cruz, não com um coração blindado e fechado, mas com um coração que saiba
acompanhar, que conheça a ternura e o devotamento; que se entenda de compaixão
para tratar com respeito, delicadeza e compreensão. Queremos ser uma Igreja da
memória, que respeite e valorize os idosos e reclame para eles o lugar que lhes
é devido, como guardiões das nossas raízes.
Pai, como Maria, queremos aprender a «estar».
Ensinai-nos, Senhor, a estar ao pé da cruz, ao pé
das cruzes; despertai nesta noite os nossos olhos, o nosso coração;
resgatai-nos da paralisia e da confusão, do medo e do desespero. Pai,
ensinai-nos a dizer: estou aqui juntamente com o vosso Filho, juntamente com
Maria e juntamente com tantos discípulos amados que desejam acolher o vosso
Reino no coração. Amém.
Fonte: Santa Sé.
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