14
de novembro de 2018
No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do
Concílio Vaticano II, vamos falar hoje sobre “As Comissões preparatórias
da Sacrosanctum Concilum”.
Temos ressaltado nos programas deste nosso espaço
que a reforma litúrgica, implementada na Igreja com a Constituição Sacrosanctum
Concilium, tem suas origens bem anteriores ao Concílio Vaticano II, tendo
surgido com o movimento litúrgico, 200 anos antes. De fato, como nos explica no
programa de hoje padre Gerson Schmidt, na convocação do Concílio, “não se
falava muito de reforma litúrgica. Muito embora o movimento litúrgico o
quisesse, a Liturgia não estava na grande pauta das primeiras discussões”. “As
Comissões preparatórias da Sacrosanctum
Concilum”, é o tema de nossa edição de hoje.
Foi no dia 25 de janeiro de 1959, que o Papa João
XXIII(1958-1963) convocou o Concílio Vaticano II. Disse Papa Francisco em
discurso à peregrinação da Diocese de Bérgamo, no 50º aniversário da morte
do Papa João XXIII: “O mundo inteiro tinha reconhecido no Papa João um pastor e
um pai. Era pastor porque era pai. O que o tinha tornado tal? Como pôde chegar
ao coração de pessoas tão diferentes, até de muitos não-cristãos? Para
responder a esta pergunta, podemos referir-nos ao seu mote (lema)
episcopal, Oboedientia et pax: obediência e paz” [1].
Na convocatória do Concílio Vaticano II não se
falava muito de reforma litúrgica. Muito embora o movimento litúrgico o
quisesse, a Liturgia não estava na grande pauta das primeiras discussões. Foi
durante o Concílio que a renovação da Liturgia ganhou força. Se o magistério
papal não tivesse reconhecido o Movimento Litúrgico, não se teria chegado à
Constituição Sacrosanctum Concilium, diante de sua unânime
aprovação pelos padres conciliares. Embora não tenha apresentado definições
magisteriais, o texto da constituição sobre a Liturgia foi o ponto de partida
para a hermenêutica da reforma da Liturgia.
O Prefeito da Congregação dos Ritos, Cardeal
Gaetano Cigcognani (+1962) foi nomeado Presidente da Comissão Preparatória do
Concilio para a Liturgia, tendo membros e consultores reconhecidos como peritos
em Liturgia e Bispos especializados em questões litúrgicas. Foram inicialmente
previstas 12 subcomissões preparatórias, nos respectivos temas:
1. A Missa
2. Concelebração Eucarística
3. Liturgia das Horas
4. Sacramentos
5. Calendário Litúrgico
6. Liturgia em Latim
7. Formação litúrgica
8. Participação ativa
9. Adaptação
10. Paramentos sagrados
11. Música sacra
12. Arte sacra
E depois foi acrescentado mais um ponto essencial,
a pedido do Bispo de Cambrai, Dom Henri Jenney (+1982) que pediu que o
fundamento fosse o Mistério Pascal e aí se criou uma 13ª Subcomissão: De mysterio litugiae eiusque ralatione ad vitam Eclesiae –
O mistério litúrgico e sua relação com a vida da Igreja.
Sobre a centralidade do Mistério Pascal é
interessante ver que o primeiro capítulo inicialmente não tinha se baseado no
mistério da Encarnação, recebendo as críticas de Martimort e do Jesuita Josef
Andreas Junngmann. A subcomissão teve que introduzir modificações favoráveis ao
conceito do Mistério Pascal.
28 de novembro de 2018
No
nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos
continuar a falar sobre a reforma litúrgica.
Ao
encontrar os participantes do III Encontro Mundial de Corais no último sábado
(24 de novembro de 2018), o Papa Francisco recordou que o Concílio Vaticano II,
com a reforma litúrgica, reiterou que “a tradição musical da Igreja constitui
um patrimônio de inestimável valor”, ressaltando “as tantas tradições de nossas
comunidades espalhadas por todo o mundo, que fazem emergir as formas mais
radicadas na cultura popular e que se tornam também uma verdadeira oração”.
No
programa passado, vimos como na convocação do Concílio Vaticano II não se
falava muito da reforma litúrgica, não obstante o Movimento Litúrgico já fosse
atuante já há alguns anos. Foi precisamente durante o evento conciliar que a
renovação litúrgica ganhou força. Nesta quarta-feira, o padre Gerson Schmidt,
aprofunda este tema, falando sobre “Os bastidores da Sacrosanctum Concilium”:
O
Esquema da reforma da Liturgia não estava na primeira pauta do Concílio
Vaticano II. A questão estava em quinta ordem. Para a maioria dos Padres
conciliares o tema da Liturgia não era prioritário e havia um grupo de bispos
neoescolásticos influentes que refutavam categoricamente uma reforma geral da
Liturgia.
Como
o esquema sobre a Revelação De fontibus
Revelationis (que gerará depois a Constituição Dogmática Dei Verbum) encontrava dura oposição,
decidiu-se começar as deliberações sobre o esquema da Liturgia, que com certeza
era o melhor.
A posteriori (depois de passados os
tempos) muitos viram isso providencial, como um “desígnio divino, porque desse
modo se tornou evidente para todos que a Liturgia constitui o centro da vida
eclesial e que o Concílio buscava a sua renovação” [2].
Um
dos mais influentes peritos do Concílio Vaticano II era o teólogo Joseph
Ratzinger – que se tornará depois Papa Bento XVI. Ratzinger afirmou que a Liturgia
para muitos Padres Conciliares nem era tema para discussão. Disse acerca disso:
“o fato de que esse texto do esquema da Liturgia ser abordado em primeiro lugar
não foi do interesse entusiástico da maioria dos padres conciliares pela
questão litúrgica, mas simplesmente devido ao fato de que não se previam
grandes discussões a seu respeito. Nenhum padre via naquele texto uma
‘revolução’ que tivesse significado o ‘fim da Idade Média’, como desde então os
teólogos pretendem interpretar. Consideravam-no apenas uma continuação das
reformas iniciadas por Pio X, prosseguidas com prudência e determinação por Pio
XII” [3].
As
deliberações da Constituição Sacrosanctum
Concilium sobre o esquema da Liturgia duraram de 22 de outubro a 13 de
novembro de 1962. No entanto, não se desenvolveram tão harmoniosamente como
alguns tinham achado.
As
controvérsias giravam em torno da Eucaristia, do uso da língua vernácula, a
concelebração, a comunhão com o cálice, a reforma do breviário, e sobretudo, a
relação na aplicação das reformas litúrgicas.
Alguns
pediam a revisão dogmática pela comissão teológica, em particular na questão
das presenças de Cristo na Liturgia, contidas no número 07 da SC. Depois de
muitas discussões, no dia 21 de novembro de 1963 foi abandonado o pedido de
manutenção do latim para a forma
sacramentorum.
Com
a morte de João XXIII, Paulo VI anunciou o segundo período do Concílio já
priorizando a Liturgia como um dos trabalhos mais importantes, pois tinha sido
influenciado pelo seu colega de estudos Bevilacqua, mais próximo do Cardeal
Lercaro e de Bugnini.
Por
fim, foi aprovada a Constituição, não dogmática, sobre a Liturgia, por grande
maioria. Na aprovação Paulo VI disse: “O tema da Liturgia que foi abordado em
primeiro lugar e que, em certa medida, é o mais importante por causa de seu
valor intrínseco e do seu significado para a vida da Igreja, conclui-se
felizmente” [4].
[1] Papa Francisco, Basílica Vaticana,
segunda-feira, 3 de junho de 2013.
[2]
Helmut Hoping, A Constituição Sacrosanctum
Concilium. In: As constituições do Vaticano II Ontem e Hoje. Geraldo B.
Hackmann e Miguel de Salis Amaral [org.]. Edições CNBB: 2015, p.110.
[3]
J. Ratzinger. Aus Meninem Leben.
Erinnerungem (1926-1977). Suttgart: 1998, p.103.
[4]
Helmut Hoping, op. cit., pp.113-114
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