terça-feira, 4 de abril de 2017

Homilia: V Domingo da Quaresma - Ano A

São Pedro Crisólogo
Sermão 63
Era necessária a morte de Lázaro para que, estando no sepulcro, ressuscitasse a fé dos discípulos

Regressando do além-túmulo, Lázaro sai ao nosso encontro portador de uma nova forma de vencer a morte, revelador de um novo tipo de ressurreição. Antes de examinar em profundidade este fato, contemplemos as circunstâncias externas da ressurreição, já que a ressurreição é o milagre dos milagres, a máxima manifestação do poder, a maravilha das maravilhas.
O Senhor tinha ressuscitado a filha de Jairo, chefe da sinagoga, porém o fez restituindo simplesmente a menina à vida, sem ultrapassar as fronteiras do além-túmulo. Ressuscitou da mesma forma ao filho único de sua mãe, porém o fez detendo o ataúde, como que se antecipando ao sepulcro, como que suspendendo a corrupção e prevenindo os maus odores, como se devolvesse a vida ao morto antes que a morte tivesse reivindicado todos os seus direitos. Mas no caso de Lázaro tudo é diferente: sua morte e sua ressurreição nada têm em comum com os casos precedentes: nele a morte desenvolveu todo o seu poder, e a ressurreição brilha com todo o seu esplendor. Inclusive me atreveria a dizer que se Lázaro houvesse ressuscitado ao terceiro dia, teria esvaziado toda a sacramentalidade da Ressurreição do Senhor, pois Cristo voltou à vida ao terceiro dia, como Senhor que era; Lázaro foi ressuscitado ao quarto dia, como servo.
Mas, para provar o que acabamos de dizer, examinemos alguns detalhes do relato evangélico: As irmãs mandaram um recado a Jesus, dizendo: Senhor, teu amigo está enfermo. Ao expressar-se desta forma, intencionam sensibilizá-lo, interpelam ao amor, apelam à caridade, tratam de estimular a amizade recorrendo à necessidade. Porém Cristo, que tem mais interesse em vencer a morte do que em repelir a enfermidade; Cristo, cujo amor radica não em aliviar o amigo, mas em devolver-lhe a vida, não proporciona ao amigo um remédio contra a enfermidade, mas lhe prepara imediatamente a glória da ressurreição.
Por isso, quando ouviu – disse o evangelista – que Lázaro estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava. Observem como cede lugar à morte, licença ao sepulcro, como dá curso livre aos agentes da corrupção, não põe obstáculo algum á putrefação nem à fetidez; consente em que o abismo arrebate, traga a si, possua. Em uma palavra, Jesus atua de forma que se esvai toda humana esperança e a desesperança humana atinja suas dimensões mais elevadas, de modo que aquilo que se dispõe a fazer percebe-se ser algo divino e não humano.
Ele se limita a permanecer onde está em espera do desenlace, para dar ele mesmo a notícia da morte, e anunciar, então, sua decisão de ir à casa de Lázaro. Lázaro, disse, está morto, e me alegro. Isto é amar? Cristo se alegrava porque a tristeza da morte logo se transformaria em alegria da ressurreição. Alegro-me por vós. E porque por vós? Justamente porque a morte e ressurreição de Lázaro já era um esboço exato da Morte e Ressurreição do Senhor, e o que logo aconteceria com o Senhor antecipa-se no servo. Era necessária a morte de Lázaro para que, estando Lázaro no sepulcro, ressuscitasse a fé dos discípulos.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 68-69. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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