segunda-feira, 6 de março de 2023

Ângelus: II Domingo da Quaresma - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 05 de março de 2023

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Neste II Domingo de Quaresma é proclamado o Evangelho da Transfiguração: Jesus leva consigo a um monte Pedro, Tiago e João e revela-se a eles em toda a sua beleza de Filho de Deus (Mt 17,1-9).

Reflitamos um momento sobre esta cena e perguntemo-nos: em que consiste esta beleza? O que veem os discípulos? Um efeito espetacular? Não, não é assim. Eles veem a luz da santidade de Deus a brilhar no rosto e nas vestes de Jesus, imagem perfeita do Pai. Revela-se a majestade de Deus, a beleza de Deus. Mas Deus é Amor e, por conseguinte, os discípulos viram com os próprios olhos a beleza e o esplendor do Amor divino encarnado em Cristo. Tiveram uma antecipação do paraíso! Que surpresa para os discípulos! Tiveram diante dos olhos por muito tempo a face do Amor, e nunca tinham percebido como era belo! Só agora se deram conta e com tanta alegria, com imensa alegria.

Jesus, com esta experiência, está na realidade formando-os, está preparando-os para um passo ainda mais importante. De fato, em breve terão de saber reconhecer n’Ele a mesma beleza quando subir à cruz e o seu rosto estiver desfigurado. Pedro tem dificuldade de compreender: ele gostaria de parar o tempo, colocar a cena em “pausa”, ficar ali e prolongar esta maravilhosa experiência; mas Jesus não o permite. A sua luz, de fato, não pode ser reduzida a um “momento mágico”! Desta maneira, se tornaria algo falso, artificial, que se dissolve no nevoeiro de sentimentos passageiros. Pelo contrário, Cristo é a luz que guia o caminho, como a coluna de fogo para as pessoas no deserto (Ex 13,21). A beleza de Jesus não aliena os discípulos da realidade da vida, mas dá-lhes a força para O seguirem até Jerusalém, até à cruz. A beleza de Cristo não é alienante, leva-te sempre em frente, não te faz esconder-se: vai em frente!

Irmãos e irmãs, este Evangelho traça um caminho também para nós: ensina-nos como é importante estar com Jesus, até quando não é fácil compreender tudo o que Ele diz e faz por nós. Com efeito, é estando com Ele que aprendemos a reconhecer no seu rosto a beleza radiante do amor que se doa, inclusive quando traz os sinais da cruz. E é na sua escola que aprendemos a captar a mesma beleza no rosto das pessoas que caminham ao nosso lado todos os dias: os familiares, os amigos, os colegas, aqueles que, das mais variadas formas, cuidam de nós. Quantos rostos luminosos, quantos sorrisos, quantas rugas, quantas lágrimas e cicatrizes falam de amor à nossa volta! Aprendamos a reconhecê-los e a encher os nossos corações com eles. E depois partamos, para levar também aos outros a luz que recebemos, com as obras concretas do amor (1Jo 3,18), mergulhando com mais generosidade nas ocupações diárias, amando, servindo e perdoando com mais entusiasmo e disponibilidade. A contemplação das maravilhas de Deus, a contemplação da face de Deus, o rosto do Senhor, deve conduzir-nos ao serviço dos outros.

Podemos perguntar-nos: será que reconhecemos a luz do amor de Deus na nossa vida? Será que a reconhecemos com alegria e gratidão nos rostos das pessoas que nos amam? Procuramos à nossa volta sinais desta luz, que enche o nosso coração e o abre ao amor e ao serviço? Ou será que preferimos os fogos de palha dos ídolos, que nos alienam e nos fecham em nós mesmos? A grande luz do Senhor e a falsa e artificial luz dos ídolos. Qual prefiro?

Que Maria, que preservou no coração a luz do seu Filho, até na escuridão do Calvário, nos acompanhe sempre no caminho do amor.

Transfiguração (Peter Paul Rubens), detalhe

Fonte: Santa Sé.

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