São Clemente de Alexandria
O Pedagogo
O rebanho necessita do Pastor
As pessoas em
bom estado de saúde não necessitam de médico, ao menos enquanto estão bem; os
enfermos, ao contrário, necessitam de sua arte. Da mesma forma, nós que nesta
vida estamos enfermos, oprimidos pelos desejos vergonhosos de intemperança
condenável, de todas as outras desordens de nossas paixões, necessitamos do
Salvador. Ele nos aplica doces medicamentos, mas também remédios amargos: as raízes
amargas do temor detêm as úlceras do pecado. Eis porque o temor, embora seja
amargo, é saudável.
Por isso nós, os
enfermos, necessitamos do Salvador; extraviados, daquele que nos guie; cegos,
daquele que nos ilumine; sedentos, da fonte de água viva; e aqueles que bebem
dela nunca mais terão sede; mortos,
necessitamos da vida; o rebanho, do Pastor; as crianças, do Pedagogo; e toda a
humanidade necessita de Jesus: por receio que, sem guia e sendo pecadores,
caiamos na condenação final. É necessário, ao contrário, que sejamos separados
da palha e empilhados no celeiro do Pai. A
pá está na mão do Senhor, e com ela separa o trigo do joio destinado ao
fogo.
Se quisermos,
podemos compreender a profunda sabedoria do santo Pastor e Pedagogo, o
onipotente Verbo do Pai, quando, servindo-se da alegoria, proclama-se pastor do
rebanho; Ele é também o pedagogo dos pequeninos.
É assim que Ele
aborda amplamente, através de Ezequiel, aos anciãos, e que lhes dá o exemplo
salutar de uma solicitude esmerada: Cuidarei
do que está ferido, e curarei o que está fraco, trarei de volta os que se
extraviaram, e os apascentarei eu mesmo no meu santo nome. Tal é a promessa
de um bom pastor. Apascenta as tuas criaturas como a um rebanho!
Sim, Senhor,
sacia-nos; dá-nos com abundância o pasto de tua justiça; sim, Pedagogo,
conduz-nos até o teu santo monte, até a tua Igreja, a que está colocada no
alto, acima das nuvens, que toca os céus! E
eu serei, diz Ele, seu Pastor, e
estarei perto deles, como a túnica de sua pele. Ele quer salvar a minha
carne, revestindo-a com a túnica da incorruptibilidade, e ungiu a minha pele.
Eles me chamarão, diz o Senhor, e Eu lhes direi: Aqui estou. Me escutas
muito antes do que eu esperava, Senhor. Se
cruzarem as águas, não resvalarão, diz o Senhor. De fato, não cairemos na
corrupção, os que cruzamos até a incorruptibilidade, porque Ele nos sustentará.
Ele disse e quis.
Assim é nosso
Pedagogo: realmente bom. Não vim,
disse Ele, para ser servido, mas para
servir. Por isso o Evangelho o revela fatigado: se fadiga por nós e
prometeu dar sua vida como resgate por
muitos.
Somente o bom
pastor – acrescenta – se comporta assim. Que grande benfeitor; entrega por nós
o que tem de melhor: sua vida! Que grande benfeitor e amigo do homem, aquele
que, sendo Senhor, quis ser seu irmão! E sua bondade chegou a tal extremo, que
morreu por nós.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 99-100. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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