quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Dimensão comunitária da Confissão

Depois dos textos sobre a Liturgia das Horas, as Exéquias e a Eucaristia como coração da Igreja, o site Vatican News publicou três reflexões sobre o sacramento da Reconciliação, a confissão, destacando sua dimensão comunitária:

Celebração Penitencial
09 de setembro de 2020

No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II”, vamos falar no programa de hoje sobre “Celebração Penitencial”.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “a Penitência é uma ação litúrgica”. Ordinariamente, os elementos da sua celebração são a “saudação e bênção do sacerdote, a leitura da Palavra de Deus para iluminar a consciência e suscitar a contrição e exortação ao arrependimento: a confissão que reconhece os pecados e os manifesta ao sacerdote; a imposição e aceitação da penitência; a absolvição do sacerdote; o louvor de ação de graças e a despedida com a bênção do sacerdote” (n. 1480).
“O sacramento da Penitência - explica mais adiante - pode também ter lugar no âmbito duma celebração comunitária, na qual se faz uma preparação conjunta para a confissão e conjuntamente se dão graças pelo perdão recebido” (n. 1482). “Em casos de grave necessidade, pode-se recorrer à celebração comunitária da Reconciliação com confissão geral e absolvição geral. Tal necessidade grave pode ocorrer quando há perigo iminente de morte, sem que o sacerdote ou os sacerdotes tenham tempo suficiente para ouvir a confissão de cada penitente” (n. 1483).
No programa de hoje deste nosso espaço, padre Gerson Schmidt aborda precisamente o tema da “Celebração Penitencial”:

Na renovação litúrgica prevista pela Sacrosanctum Concilium, vemos que os Padres conciliares também motivaram para que acontecesse uma renovação do rito da Penitência, da confissão ou também chamada de Reconciliação. Diz assim o número 72 da Sacrosanctum Concilium: “Revejam-se o rito e as fórmulas da Penitência, de modo que exprimam com mais clareza a natureza e o efeito deste sacramento” (SC, n. 72).
Sabemos que a confissão não deveria ser um ato mágico ou estanque de nossa vida de fé, mas um processo de conversão, do qual o rito penitencial deveria ser sinal eficaz. Por isso, no pensamento do Concílio Vaticano II, o pecado é visto não simplesmente como uma ofensa individual a Deus, mas uma ferida comunitária, que afeta toda a Igreja e o Povo de Deus, mesmo se o pecado for feito em privado. Pelo Batismo fazemos parte da família de Deus. Se um membro do Corpo de Cristo peca, fere toda a Igreja, toda a comunidade, todo o Corpo.
Por isso, o número 109 da Sacrosanctum Concilium nos diz assim: “O mesmo se diga dos elementos penitenciais. Quanto à catequese, inculque-se no espírito dos fiéis, juntamente com as consequências sociais do pecado, a natureza própria da penitência que detesta o pecado como ofensa feita a Deus; e na ação penitencial não se esqueça a parte da Igreja, nem se deixe de recomendar a oração pelos pecadores” (SC, n. 109b).
Por isso, está previsto pelo ritual que a confissão dos fiéis seja feita, na medida do possível, dentro de uma celebração penitencial. O Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, escreveu assim no número 61: “(...) recomenda-se que o indivíduo penitente se prepare para a confissão meditando um trecho apropriado da Sagrada Escritura e possa começar a confissão com a leitura ou a escuta de uma advertência bíblica, como aliás está previsto no próprio ritual. (...) a confissão individual da multidão dos penitentes tenha lugar no âmbito de celebrações penitenciais, como previsto pelo ritual...” (VD, n. 61). 
Em 2Tm 3,16, temos a confirmação de que a Palavra de Deus nos corrige, nos repreende, nos educa e nos converte: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3,16).
Portanto, em nossas paróquias e comunidades deveríamos promover as celebrações penitenciais no espírito comunitário do Concílio, propondo a reconciliação de cada pecador com Deus e com a comunidade, num verdadeiro processo de conversão pela Palavra e exortação de mudança.


Dimensão comunitária da Confissão
16 de setembro de 2020

No programa passado deste nosso espaço, falamos sobre a Celebração Penitencial, onde baseado na Constituição conciliar Sacrosanctum Concilum, Padre Gerson Schmidt afirmou que “em nossas paróquias e comunidades deveríamos promover as celebrações penitenciais no espírito comunitário do Concílio, propondo a reconciliação de cada pecador com Deus e com a comunidade, num verdadeiro processo de conversão pela Palavra e exortação de mudança”.
Nesta quarta-feira, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, dá continuidade ao tema penitencial, falando sobre “Dimensão comunitária da Confissão”:

O Movimento Litúrgico e os documentos do Concílio Vaticano II fizeram redescobrir a dimensão comunitária de toda a Liturgia, também do sacramento da Confissão, por meio da celebração comunitária e a dimensão social do pecado. Criticava-se o aspecto demasiadamente negativo do sacramento da Penitência, justamente no excessivo individualismo ritual e também psicológico-moral.
“Pedia-se que fosse colocada em destaque a corresponsabilidade no bem e no mal, a consciência não somente individual, mas também coletiva da culpa, a natureza eclesial da reconciliação. A isso responde bem essa forma de celebração, que prevê a inserção da confissão e da absolvição individuais no contexto de uma preparação e de uma conclusão comunitárias; a meta não é tanto pedagógica, ou seja, ajudar um grupo de pessoas a ‘dispor-se’ bem ao sacramento, mas fazer com que elas celebrem juntas a conversão, exaltem a misericórdia do Pai, sintam-se corresponsáveis no bem, no mal e no caminho de retorno a Deus” [1].
A presença da Palavra de Deus na celebração penitencial, lida no ato do sacramento ou mesmo antes, é um convite à conversão e à proclamação da misericórdia de Deus, que deve ser mais acentuada do que o pecado cometido. No contexto do pecado do homem, está inserido a proclamação da salvação e do perdão de Deus que salva, cura e liberta. Por isso, a importância da celebração, espiritualmente rica e vantajosa, que permite uma dimensão mais comunitária do sacramento da Reconciliação. O termo Reconciliação para esse sacramento parece mais correto porque enfatiza mais a ação de Deus, enquanto Penitência enfatiza mais a ação do homem.
Foi renovada completamente a fórmula da absolvição, que foi fixada e não pode ser mudada. A nova fórmula indica que a reconciliação comporta a graça do perdão e da paz, provenientes da misericórdia de Deus que revela ao pecador penitente seu coração de Pai. Também relaciona a absolvição com a história da salvação, na qual Deus reconciliou consigo o mundo por meio da morte e ressurreição de seu filho, sublinhando a ação do Espírito Santo na conversão e na santificação do pecador. Por fim, ainda ressalta o aspecto eclesial da Reconciliação, operada pelo ministério da Igreja. Também no novo rito se vê a restauração do gesto da imposição das mãos (ou pelo menos da mão direita) que acompanha a fórmula da absolvição, que é um gesto clássico da antiga liturgia penitencial. Este gesto de impor as mãos indica o dom do Espírito Santo para a remissão dos pecados e manifesta a reconciliação com Deus e com a Igreja.

Elementos fundamentais do rito penitencial
23 de setembro de 2020

No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II”, Padre Gerson Schmidt tem nos proposto algumas reflexões sobre a Confissão. No programa passado, falou-nos sobre a “dimensão comunitária da Confissão”, afirmando inicialmente que “o Movimento Litúrgico e os documentos do Concílio Vaticano II fizeram redescobrir a dimensão comunitária de toda a Liturgia, também do sacramento da Confissão, por meio da celebração comunitária e a dimensão social do pecado.” A nova fórmula da absolvição, por exemplo, completamente renovada, “indica que a reconciliação comporta a graça do perdão e da paz, provenientes da misericórdia de Deus que revela ao pecador penitente seu coração de Pai”.
No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre nos fala sobre os “elementos fundamentais do rito penitencial”:

Os Padres no Concílio Vaticano II propuseram uma renovação do rito penitencial, do rito da confissão. Diz assim o número 72 da Sacrosanctum Concilium: “Revejam-se o rito e as fórmulas da penitência, de modo que exprimam com mais clareza a natureza e o efeito deste sacramento” (SC, n. 72). Os pontos fundamentais do novo rito penitencial proposto no Ordo Paenitentiae a fim de que aconteça uma verdadeira conversão, podem ser sintetizados em alguns pontos.

1. Disposição primária interior de conversão, sincero arrependimento dos pecados, reparação do mal cometido, confiança na misericórdia de Deus: tudo suscitado pela Palavra de Deus e expresso na oração.

2. Dimensão eclesial da celebração também individual, na qual cada penitente se sente ajudado por toda a Igreja em sua renovação. Sua penitência é reconciliação com Deus e também com os irmãos.

3. Importância da Palavra de Deus no iluminar a consciência e no convite à conversão. Por isso, a preparação por meio da celebração da Palavra que provoca a mudança de cada um.

4. Verdadeiro sentido da acusação dos pecados, confessando-os ao sacerdote concretamente, para que sejam absolvidos.

5. Reconciliação como mistério da misericórdia e do amor do Pai que me ama, que nos associa à vitória de Cristo sobre todo o pecado, renovando-nos com o dom do Espírito Santo, superando uma concepção puramente moral e legalista do pecado.

6. Função da penitência ou reparação que deve ser redescoberta com formas mais desafiadoras e adequadas.

7.  Necessidade de unir a confissão com a proclamação da misericórdia e do louvor a Deus, num sentido pascal e festivo, tal qual o filho pródigo que recebeu uma festa pelo Pai de misericórdia, quando retornou a casa paterna. Por isso, faz sentido a conclusão do rito penitencial rendermos graças pelo perdão recebido, com alegria e ação de graças, podendo desembocar na Eucaristia.


[1] Annibale Bugnini, Reforma Litúrgica, Paulus, Paulinas e Loyola, SP, 2018, p. 563.


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