Depois dos textos sobre a Liturgia das Horas, as Exéquias e a Eucaristia como coração da Igreja, o site Vatican News publicou três reflexões sobre o sacramento da Reconciliação, a confissão, destacando sua dimensão comunitária:
Celebração
Penitencial
09 de setembro de 2020
No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II”, vamos falar no programa de hoje sobre “Celebração Penitencial”.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “a Penitência é uma
ação litúrgica”. Ordinariamente, os elementos da sua celebração são a “saudação
e bênção do sacerdote, a leitura da Palavra de Deus para iluminar a consciência
e suscitar a contrição e exortação ao arrependimento: a confissão que reconhece
os pecados e os manifesta ao sacerdote; a imposição e aceitação da penitência;
a absolvição do sacerdote; o louvor de ação de graças e a despedida com a
bênção do sacerdote” (n. 1480).
“O sacramento da Penitência - explica mais adiante - pode
também ter lugar no âmbito duma celebração comunitária, na qual se faz uma
preparação conjunta para a confissão e conjuntamente se dão graças pelo perdão
recebido” (n. 1482). “Em casos de grave necessidade, pode-se recorrer à
celebração comunitária da Reconciliação com confissão geral e absolvição geral.
Tal necessidade grave pode ocorrer quando há perigo iminente de morte, sem que
o sacerdote ou os sacerdotes tenham tempo suficiente para ouvir a confissão de
cada penitente” (n. 1483).
No programa de hoje deste nosso espaço, padre Gerson Schmidt
aborda precisamente o tema da “Celebração Penitencial”:
Na renovação litúrgica prevista pela Sacrosanctum Concilium, vemos que os Padres conciliares também
motivaram para que acontecesse uma renovação do rito da Penitência, da
confissão ou também chamada de Reconciliação. Diz assim o número 72 da Sacrosanctum Concilium: “Revejam-se o
rito e as fórmulas da Penitência, de modo que exprimam com mais clareza a
natureza e o efeito deste sacramento” (SC, n. 72).
Sabemos que a confissão não deveria ser um ato mágico ou
estanque de nossa vida de fé, mas um processo de conversão, do qual o rito
penitencial deveria ser sinal eficaz. Por isso, no pensamento do Concílio
Vaticano II, o pecado é visto não simplesmente como uma ofensa individual a
Deus, mas uma ferida comunitária, que afeta toda a Igreja e o Povo de Deus,
mesmo se o pecado for feito em privado. Pelo Batismo fazemos parte da família
de Deus. Se um membro do Corpo de Cristo peca, fere toda a Igreja, toda a
comunidade, todo o Corpo.
Por isso, o número 109 da Sacrosanctum Concilium nos diz assim: “O mesmo se diga dos
elementos penitenciais. Quanto à catequese, inculque-se no espírito dos fiéis,
juntamente com as consequências sociais do pecado, a natureza própria da
penitência que detesta o pecado como ofensa feita a Deus; e na ação penitencial
não se esqueça a parte da Igreja, nem se deixe de recomendar a oração pelos
pecadores” (SC, n. 109b).
Por isso, está previsto pelo ritual que a confissão dos
fiéis seja feita, na medida do possível, dentro de uma celebração penitencial.
O Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, escreveu assim no número 61: “(...) recomenda-se que
o indivíduo penitente se prepare para a confissão meditando um trecho
apropriado da Sagrada Escritura e possa começar a confissão com a leitura ou a
escuta de uma advertência bíblica, como aliás está previsto no próprio ritual.
(...) a confissão individual da multidão dos penitentes tenha lugar no âmbito
de celebrações penitenciais, como previsto pelo ritual...” (VD, n. 61).
Em 2Tm 3,16, temos a confirmação de que a Palavra de Deus
nos corrige, nos repreende, nos educa e nos converte: “Toda a Escritura é
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3,16).
Portanto, em nossas paróquias e comunidades deveríamos
promover as celebrações penitenciais no espírito comunitário do Concílio,
propondo a reconciliação de cada pecador com Deus e com a comunidade, num
verdadeiro processo de conversão pela Palavra e exortação de mudança.
Dimensão comunitária
da Confissão
16 de setembro de 2020
No programa passado deste nosso espaço, falamos sobre a
Celebração Penitencial, onde baseado na Constituição conciliar Sacrosanctum Concilum, Padre Gerson
Schmidt afirmou que “em nossas paróquias e comunidades deveríamos promover as
celebrações penitenciais no espírito comunitário do Concílio, propondo a
reconciliação de cada pecador com Deus e com a comunidade, num verdadeiro
processo de conversão pela Palavra e exortação de mudança”.
Nesta quarta-feira, o sacerdote incardinado na Arquidiocese
de Porto Alegre, dá continuidade ao tema penitencial, falando sobre “Dimensão
comunitária da Confissão”:
O Movimento Litúrgico e os documentos do Concílio Vaticano
II fizeram redescobrir a dimensão comunitária de toda a Liturgia, também do
sacramento da Confissão, por meio da celebração comunitária e a dimensão social
do pecado. Criticava-se o aspecto demasiadamente negativo do sacramento da
Penitência, justamente no excessivo individualismo ritual e também
psicológico-moral.
“Pedia-se que fosse colocada em destaque a
corresponsabilidade no bem e no mal, a consciência não somente individual, mas
também coletiva da culpa, a natureza eclesial da reconciliação. A isso responde
bem essa forma de celebração, que prevê a inserção da confissão e da absolvição
individuais no contexto de uma preparação e de uma conclusão comunitárias; a
meta não é tanto pedagógica, ou seja, ajudar um grupo de pessoas a ‘dispor-se’
bem ao sacramento, mas fazer com que elas celebrem juntas a conversão, exaltem
a misericórdia do Pai, sintam-se corresponsáveis no bem, no mal e no caminho de
retorno a Deus” [1].
A presença da Palavra de Deus na celebração penitencial,
lida no ato do sacramento ou mesmo antes, é um convite à conversão e à
proclamação da misericórdia de Deus, que deve ser mais acentuada do que o
pecado cometido. No contexto do pecado do homem, está inserido a proclamação da
salvação e do perdão de Deus que salva, cura e liberta. Por isso, a importância
da celebração, espiritualmente rica e vantajosa, que permite uma dimensão mais
comunitária do sacramento da Reconciliação. O termo Reconciliação para esse
sacramento parece mais correto porque enfatiza mais a ação de Deus, enquanto
Penitência enfatiza mais a ação do homem.
Foi renovada completamente a fórmula da absolvição, que foi
fixada e não pode ser mudada. A nova fórmula indica que a reconciliação
comporta a graça do perdão e da paz, provenientes da misericórdia de Deus que
revela ao pecador penitente seu coração de Pai. Também relaciona a absolvição
com a história da salvação, na qual Deus reconciliou consigo o mundo por meio
da morte e ressurreição de seu filho, sublinhando a ação do Espírito Santo na
conversão e na santificação do pecador. Por fim, ainda ressalta o aspecto
eclesial da Reconciliação, operada pelo ministério da Igreja. Também no novo
rito se vê a restauração do gesto da imposição das mãos (ou pelo menos da mão direita)
que acompanha a fórmula da absolvição, que é um gesto clássico da antiga
liturgia penitencial. Este gesto de impor as mãos indica o dom do Espírito
Santo para a remissão dos pecados e manifesta a reconciliação com Deus e com a
Igreja.
Elementos fundamentais
do rito penitencial
23 de setembro de 2020
No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II”, Padre Gerson Schmidt tem nos proposto algumas reflexões sobre a
Confissão. No programa passado, falou-nos sobre a “dimensão comunitária da
Confissão”, afirmando inicialmente que “o Movimento Litúrgico e os documentos
do Concílio Vaticano II fizeram redescobrir a dimensão comunitária de toda a
Liturgia, também do sacramento da Confissão, por meio da celebração comunitária
e a dimensão social do pecado.” A nova fórmula da absolvição, por exemplo,
completamente renovada, “indica que a reconciliação comporta a graça do perdão
e da paz, provenientes da misericórdia de Deus que revela ao pecador penitente
seu coração de Pai”.
No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese
de Porto Alegre nos fala sobre os “elementos fundamentais do rito penitencial”:
Os Padres no Concílio Vaticano II propuseram uma renovação
do rito penitencial, do rito da confissão. Diz assim o número 72 da Sacrosanctum Concilium: “Revejam-se o
rito e as fórmulas da penitência, de modo que exprimam com mais clareza a
natureza e o efeito deste sacramento” (SC, n. 72). Os pontos fundamentais do
novo rito penitencial proposto no Ordo
Paenitentiae a fim de que aconteça uma verdadeira conversão, podem ser
sintetizados em alguns pontos.
1. Disposição primária interior de conversão, sincero
arrependimento dos pecados, reparação do mal cometido, confiança na
misericórdia de Deus: tudo suscitado pela Palavra de Deus e expresso na oração.
2. Dimensão eclesial da celebração também individual, na
qual cada penitente se sente ajudado por toda a Igreja em sua renovação. Sua
penitência é reconciliação com Deus e também com os irmãos.
3. Importância da Palavra de Deus no iluminar a consciência
e no convite à conversão. Por isso, a preparação por meio da celebração da
Palavra que provoca a mudança de cada um.
4. Verdadeiro sentido da acusação dos pecados,
confessando-os ao sacerdote concretamente, para que sejam absolvidos.
5. Reconciliação como mistério da misericórdia e do amor do
Pai que me ama, que nos associa à vitória de Cristo sobre todo o pecado,
renovando-nos com o dom do Espírito Santo, superando uma concepção puramente
moral e legalista do pecado.
6. Função da penitência ou reparação que deve ser
redescoberta com formas mais desafiadoras e adequadas.
7. Necessidade de
unir a confissão com a proclamação da misericórdia e do louvor a Deus, num
sentido pascal e festivo, tal qual o filho pródigo que recebeu uma festa pelo
Pai de misericórdia, quando retornou a casa paterna. Por isso, faz sentido a
conclusão do rito penitencial rendermos graças pelo perdão recebido, com
alegria e ação de graças, podendo desembocar na Eucaristia.
[1] Annibale Bugnini, Reforma
Litúrgica, Paulus, Paulinas e Loyola, SP, 2018, p. 563.
Fonte: Vatican News
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