Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 28 de outubro
de 2020
A oração (12): Jesus, homem de oração
Estimados
irmãos e irmãs, bom dia!
No
nosso itinerário de catequeses sobre a oração, depois de termos percorrido o
Antigo Testamento, chegamos agora a Jesus. E Jesus rezava. O início da sua
missão pública tem lugar com o batismo no rio Jordão. Os Evangelistas concordam
em atribuir uma importância fundamental a este episódio. Narram o modo como
todo o povo se reuniu em oração, e especificam que esta reunião
teve um claro caráter penitencial (cf. Mc 1,5; Mt 3,8). O povo procurava
João para se fazer batizar para o perdão dos pecados: há um caráter
penitencial, de conversão.
Portanto,
o primeiro ato público de Jesus é a participação em uma oração comum do povo,
uma prece do povo que se faz batizar, uma oração penitencial, na qual todos se
reconhecem pecadores. Por isso, o Batista deseja opor-se, dizendo: «Eu é que
devo ser batizado por ti. E Tu vens a mim?» (Mt 3,14). O
Batista compreende quem é Jesus. Mas Jesus insiste: o seu é um ato
que obedece à vontade do Pai (v. 15), um ato de solidariedade para com a nossa
condição humana. Ele reza com os pecadores do povo de Deus. Ponhamos isto na
nossa cabeça: Jesus é o Justo, não é um pecador. Mas Ele queria vir até nós,
pecadores, e Ele reza conosco, e quando rezamos Ele está conosco rezando; Ele
está conosco porque está no céu rezando por nós. Jesus reza sempre com o seu
povo, reza sempre conosco: sempre. Nunca rezamos sozinhos, rezamos sempre com
Jesus. Ele não permanece na margem oposta do rio - “Eu sou justo, vós pecadores”
- para marcar a sua diversidade e distância do povo desobediente, mas mergulha
os seus pés nas mesmas águas de purificação. Faz-se como um pecador. E esta é a
grandeza de Deus que enviou o Seu Filho, que se aniquilou a si mesmo e se
manifestou como um pecador.
Jesus
não é um Deus distante, e não o pode ser. A Encarnação revelou-o de forma
completa e humanamente impensável. Assim, ao inaugurar a sua missão, Jesus
coloca-se à frente de um povo de penitentes, como se estivesse encarregado de
abrir uma brecha pela qual todos nós, depois d’Ele, devemos ter a coragem de
passar. Mas a via, o caminho, é difícil; mas Ele vai abrindo o
caminho. O Catecismo da Igreja Católica explica que esta é a
novidade da plenitude dos tempos. Diz: «A oração filial, que o Pai esperava dos
seus filhos, vai finalmente ser vivida pelo próprio Filho, Único na sua
humanidade, com e para os homens» (n. 2599). Jesus reza conosco. Ponhamos isto
na cabeça e no coração: Jesus reza conosco.
Portanto,
naquele dia, nas margens do rio Jordão, encontra-se toda a humanidade, com os
seus anseios de oração não expressos. Há sobretudo o povo dos pecadores:
aqueles que pensavam que não podiam ser amados por Deus, aqueles que não se
atreviam a ir além do limiar do templo, aqueles que não rezavam porque não se
sentiam dignos. Jesus veio para todos, até para eles e começa precisamente por
se unir a eles, à frente deles.
O
Evangelho de Lucas destaca sobretudo a atmosfera de oração em que o batismo de
Jesus teve lugar: «Tendo sido batizado todo o povo, e no momento em que Jesus
se encontrava em oração, depois de ter sido batizado, o céu abriu-se» (Lc 3,21). Orando, Jesus abre a porta do
céu, e daquela brecha desce o Espírito Santo. E do alto uma voz proclama a
maravilhosa verdade: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu
enlevo» (v. 22). Esta simples frase contém um tesouro imenso: faz-nos intuir
algo do mistério de Jesus e do seu coração, sempre voltado para o Pai. No
turbilhão da vida e do mundo que chegará a condená-lo, até nas experiências
mais duras e tristes que deverá suportar, inclusive quando experimenta que não
tem onde reclinar a cabeça (cf. Mt 8,20),
até quando o ódio e a perseguição se desencadeiam à sua volta, Jesus nunca está
sem o amparo de uma morada: habita eternamente no Pai.
Eis a
grandeza única da oração de Jesus: o Espírito Santo apodera-se da sua pessoa e
a voz do Pai atesta que Ele é o amado, o Filho em quem se reflete plenamente.
Esta
prece de Jesus, que nas margens do rio Jordão é totalmente pessoal - e assim
será ao longo da sua vida terrena - no Pentecostes se tornará, pela graça, a
oração de todos os batizados em Cristo. Ele mesmo obteve este dom para nós e
convida-nos a rezar como Ele rezou.
Por
esta razão, se em uma noite de oração nos sentirmos fracos e vazios, se nos
parecer que a vida tem sido completamente inútil, nesse momento devemos
implorar que a prece de Jesus se torne também a nossa. “Hoje não posso
rezar, não sei o que fazer: não me sinto capaz, sou indigno, indigna”. Neste
momento, devemos confiar n’Ele para que reze por nós. Neste momento, Ele está
diante do Pai rezando por nós, é o intercessor; mostra ao Pai as feridas por
nós. Tenhamos confiança nisto! Se tivermos confiança, então ouviremos uma voz
do céu, mais alta do que a voz que se eleva da nossa ignomínia, e ouviremos
esta voz sussurrar palavras de ternura: “Tu és o amado de Deus, tu és filho, tu
és a alegria do Pai que está nos céus”. Precisamente para nós, para cada um de
nós, ressoa a palavra do Pai: mesmo que fôssemos rejeitados por todos,
pecadores da pior espécie. Jesus não desceu às águas do Jordão para si mesmo,
mas por todos nós. Foi todo o povo de Deus que se aproximou do Jordão
para rezar, para pedir perdão, para fazer o batismo de penitência. E como diz
aquele teólogo, aproximaram-se do Jordão “com a alma e os pés nus”. Isso é humildade.
Rezar requer humildade. Abriu os céus, como Moisés abriu as águas do mar
Vermelho, para que todos nós pudéssemos passar atrás dele. Jesus ofereceu-nos a
sua própria oração, que é o seu diálogo de amor com o Pai. Concedeu-a a nós como
uma semente da Trindade, que quer criar raízes no nosso coração. Acolhamo-la!
Acolhamos este dom, o dom da oração. Sempre com Ele. E não nos enganaremos.
Obrigado!
Fonte: Santa Sé
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