09 de janeiro de 2019
A Constituição Sacrosanctum
Concilium introduziu uma série de modificações na Liturgia, uma reforma,
segundo afirmou o Papa Francisco em agosto de 2017 aos participantes da Semana
Litúrgica Nacional italiana, “irreversível”. “A direção traçada pelo Concílio –
disse o Pontífice - encontrou forma, segundo o princípio do respeito da sã
tradição e do legítimo progresso nos livros litúrgicos promulgados” por Paulo
VI, já há quase 50 anos “universalmente em uso no Rito Romano. E a aplicação
prática, guiada pelas Conferências Episcopais para os respectivos países, está
ainda em andamento, pois não basta reformar os livros litúrgicos para renovar a
mentalidade”.
“Os livros reformados por norma dos decretos do Vaticano II,
introduziram um processo que requer tempo, recepção dos fiéis, obediência
prática, sábia atuação celebrativa por parte, antes, dos ministros ordenados,
mas também dos outros ministros, dos cantores e de todos aqueles que participam
da Liturgia. Na verdade, o sabemos, a educação litúrgica de Pastores e fiéis é
um desafio a ser enfrentado sempre de novo”.
Neste nosso segundo programa do ano de 2019, Padre Gerson
Schmidt nos fala sobre as Instruções da Sagrada Congregação dos Ritos, com as
orientações para a aplicação da Constituição sobre a liturgia aprovada pelo
Concílio.
A 4 de dezembro de
1963 os Padres do Concílio Vaticano II aprovaram a Constituição sobre a Sagrada
Liturgia Sacrosanctum Concilium. Para
facilitar a aplicação da renovação litúrgica desejada pelos Padres conciliares,
a Santa Sé posteriormente publicou cinco documentos de especial importância,
cada um deles numerados numa única série, intitulados como “Instruções para a
reta Aplicação da Constituição sobre a sagrada Liturgia do Concílio Vaticano
II”.
A primeira, Inter
Oecumenici, foi publicada pela Sagrada Congregação dos Ritos e pelo Consilium para a Aplicação da
Constituição Litúrgica a 26 de setembro de 1964, e continha os princípios
gerais de base para a ordenada aplicação da renovação litúrgica. Três anos mais
tarde, a 04 de maio de 1967, foi publicada uma segunda Instrução, Tres abhinc annos. Esta estabelecia
ulteriores adaptações à Ordem da Missa.
A terceira Instrução, Liturgicae
instaurationis, de 05 de setembro de 1970, preparada pela Sagrada
Congregação para o Culto Divino, organismo que sucedeu à Sagrada Congregação
dos Ritos e ao Consilium. Esta
Instrução fornecia em primeiro lugar diretrizes acerca do papel central do
Bispo na renovação da Liturgia em toda a diocese. Posteriormente, a renovação
litúrgica dizia respeito à atividade da revisão das edições em língua latina
dos livros litúrgicos e da sua tradução nas várias línguas modernas.
Terminada esta fase geral, houve um período de experiência
prática, que exigia necessariamente um notável espaço de tempo. Com a Carta
Apostólica Vicesimus quintus annus de
04 de dezembro de 1988 de João Paulo II, que comemorava o 25° aniversário da
Constituição Conciliar, iniciou-se uma nova fase de uma gradual avaliação, de
conclusão e de consolidação.
Em 1994, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina
dos Sacramentos fez progredir mais uma vez esse processo com a publicação da
quarta Instrução para a reta Aplicação da Constituição da sagrada Liturgia do
Concílio Vaticano II, a Varietatis
legitimae, que trata das questões difíceis acerca da Liturgia romana e da
inculturação.
Em fevereiro de 1997 o Santo Padre pediu à Congregação para
o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos para dar mais um passo em frente
com a codificação das conclusões do trabalho empreendido em colaboração com os
Bispos ao longo dos anos, referente à questão das traduções litúrgicas, assunto
que estava na ordem do dia, como já foi dito, desde 1988.
Em 2001 houve a publicação da quinta orientação
pós-conciliar, Instrução para a reta Aplicação da Constituição sobre a sagrada
Liturgia do Concílio Vaticano II Liturgiam
authenticam, aprovada pelo Santo Padre, publicada pela Congregação para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Entrou em vigor no dia 25 de Abril
de 2001 [1].
16 de janeiro de 2019
No nosso Espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio
Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre “A aplicação da reforma da
Liturgia”.
Como vimos em nosso último programa, para facilitar a
aplicação da renovação litúrgica desejada pelos Padres conciliares, a Santa Sé
posteriormente publicou cinco documentos de especial importância, cada um deles
numerados numa única série, intitulados como “Instruções para a reta Aplicação
da Constituição sobre a Aagrada Liturgia do Concílio Vaticano II”. Mesmo
passados 50 anos da publicação da Sacrosanctum
Concilium, há um caminho ainda a ser percorrido. A reforma litúrgica trouxe
muitos frutos, mas houve também alguns exageros.
No programa desta quarta-feira, padre Gerson Schmidt nos
fala sobre “A aplicação da reforma da Liturgia”:
Antes mesmo do
Concílio Vaticano II, se faziam experiências litúrgicas de aproximação popular
e de que a Liturgia fosse mais participativa. Via-se nesse fomento de renovação
uma verdadeira luz do Espírito Santo, como um clamor e uma necessidade que já
brotava nas bases e nas comunidades eclesiais. Como aponta o número 43 da SC:
“A preocupação pelo incremento e renovação da Liturgia é justamente considerada
como um sinal dos desígnios providenciais de Deus sobre o nosso tempo, como uma
passagem do Espírito Santo pela sua Igreja; ele imprime uma nota distintiva à
sua vida, e mais, a todo o modo religioso de sentir e de agir do nosso tempo”.
Na América Latina a renovação litúrgica promovida pelo
Vaticano II marcou a vida da Igreja e mudou a mentalidade dos fiéis. “O uso do
vernáculo modificou o estilo das celebrações litúrgicas O celebrante voltado
para o povo estabeleceu novo tipo de participação ativa e consciente da
comunidade. Numerosas publicações de estilo popular, sobretudo os folhetos
litúrgicos, para cada domingo, colocados generosamente nas mãos dos fiéis,
contribuíram para sua participação na celebração eucarística. Até mesmo as
numerosas comunidades distantes das sedes paroquiais, que até o Concílio se
sentiam abandonadas, se reanimaram com a celebração da Palavra de Deus e
constituíram entusiasmadas comunidades de base” [2].
Há, porém, um caminho ainda a percorrer. Passados 50 anos de
SC, percebemos que muitos frutos se deram, mas também houve muitos exageros. “O
espetacular, o visível, o novidadeirismo (modismo) mantiveram a reforma na
superfície. Houve descasos dos aspectos jurídicos do culto” [3].
O Papa João Paulo II recordou em Visita “ad limina” (dos Bispos do Brasil) essa
intensidade espiritual e litúrgica sentida em visita ao Brasil. Dizia ele já em
1990: “Recordando ainda, com emoção, os momentos de alta intensidade espiritual
que vivi no Brasil, durante as celebrações litúrgicas, que constituíam o ponto
culminante das minhas visitas às várias Igrejas locais, desejo encarecer aos
Senhores a importância e o lugar da Liturgia em suas comunidades, e a
necessidade de incrementar cada vez mais entre os fiéis a formação litúrgica e
o espírito de oração. Espero contribuir assim, para que as Igrejas que lhes
estão confiadas cresçam em sua vida cristã”.
Mas o Papa, na ocasião, além dos resultados bem positivos,
disse haver também abusos e exageros: “Na aplicação da Sacrosanctum Concilium, houve, certamente, deficiências, hesitações
e abusos. Mas não se pode negar que, onde as comunidades foram preparadas, com
a devida informação e a catequese, os resultados são positivos. Com razão se
afirmou na Assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos de 1985 que ‘a
renovação litúrgica é o fruto mais visível de toda a obra conciliar’ (Relação
final, 7 de dezembro de 1985, II, B, b, 1)” [4].
[1] Texto quase literal da Introdução da Instrução Inter Oecumenici para a reta aplicação
da Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II. Consilium ad exsequandam Constitutionem de
Sacra Liturgia, 26/09/1964.
[2] Dom Frei Boaventura Kloppemburg, OFM, Bispo emérito de
Novo Hamburgo-RS, perito na comissão Teológica do Concilio Vaticano II.
Teologia na AL depois do Vaticano II: avanços e crises. In: Concilio Vaticano
II, 40 anos da LG. Manoel Augusto Santo (org.). Edipucrs: 2005, p. 67.
[3] ibid.
[4] Discurso do Papa João Paulo II aos Bispos da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil do Regional Sul-1, em visita «Ad Limina Apostolorum», 20 de março de
1990.
Fonte: Vatican News
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