segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A aplicação da reforma litúrgica

As Instruções da Sagrada Congregação dos Ritos
09 de janeiro de 2019

A Constituição Sacrosanctum Concilium introduziu uma série de modificações na Liturgia, uma reforma, segundo afirmou o Papa Francisco em agosto de 2017 aos participantes da Semana Litúrgica Nacional italiana, “irreversível”. “A direção traçada pelo Concílio – disse o Pontífice - encontrou forma, segundo o princípio do respeito da sã tradição e do legítimo progresso nos livros litúrgicos promulgados” por Paulo VI, já há quase 50 anos “universalmente em uso no Rito Romano. E a aplicação prática, guiada pelas Conferências Episcopais para os respectivos países, está ainda em andamento, pois não basta reformar os livros litúrgicos para renovar a mentalidade”.
“Os livros reformados por norma dos decretos do Vaticano II, introduziram um processo que requer tempo, recepção dos fiéis, obediência prática, sábia atuação celebrativa por parte, antes, dos ministros ordenados, mas também dos outros ministros, dos cantores e de todos aqueles que participam da Liturgia. Na verdade, o sabemos, a educação litúrgica de Pastores e fiéis é um desafio a ser enfrentado sempre de novo”.
Neste nosso segundo programa do ano de 2019, Padre Gerson Schmidt nos fala sobre as Instruções da Sagrada Congregação dos Ritos, com as orientações para a aplicação da Constituição sobre a liturgia aprovada pelo Concílio.
 A 4 de dezembro de 1963 os Padres do Concílio Vaticano II aprovaram a Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium. Para facilitar a aplicação da renovação litúrgica desejada pelos Padres conciliares, a Santa Sé posteriormente publicou cinco documentos de especial importância, cada um deles numerados numa única série, intitulados como “Instruções para a reta Aplicação da Constituição sobre a sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II”.
A primeira, Inter Oecumenici, foi publicada pela Sagrada Congregação dos Ritos e pelo Consilium para a Aplicação da Constituição Litúrgica a 26 de setembro de 1964, e continha os princípios gerais de base para a ordenada aplicação da renovação litúrgica. Três anos mais tarde, a 04 de maio de 1967, foi publicada uma segunda Instrução, Tres abhinc annos. Esta estabelecia ulteriores adaptações à Ordem da Missa.
A terceira Instrução, Liturgicae instaurationis, de 05 de setembro de 1970, preparada pela Sagrada Congregação para o Culto Divino, organismo que sucedeu à Sagrada Congregação dos Ritos e ao Consilium. Esta Instrução fornecia em primeiro lugar diretrizes acerca do papel central do Bispo na renovação da Liturgia em toda a diocese. Posteriormente, a renovação litúrgica dizia respeito à atividade da revisão das edições em língua latina dos livros litúrgicos e da sua tradução nas várias línguas modernas.
Terminada esta fase geral, houve um período de experiência prática, que exigia necessariamente um notável espaço de tempo. Com a Carta Apostólica Vicesimus quintus annus de 04 de dezembro de 1988 de João Paulo II, que comemorava o 25° aniversário da Constituição Conciliar, iniciou-se uma nova fase de uma gradual avaliação, de conclusão e de consolidação.
Em 1994, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos fez progredir mais uma vez esse processo com a publicação da quarta Instrução para a reta Aplicação da Constituição da sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, a Varietatis legitimae, que trata das questões difíceis acerca da Liturgia romana e da inculturação.
Em fevereiro de 1997 o Santo Padre pediu à Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos para dar mais um passo em frente com a codificação das conclusões do trabalho empreendido em colaboração com os Bispos ao longo dos anos, referente à questão das traduções litúrgicas, assunto que estava na ordem do dia, como já foi dito, desde 1988.
Em 2001 houve a publicação da quinta orientação pós-conciliar, Instrução para a reta Aplicação da Constituição sobre a sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II Liturgiam authenticam, aprovada pelo Santo Padre, publicada pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Entrou em vigor no dia 25 de Abril de 2001 [1].

16 de janeiro de 2019

No nosso Espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre “A aplicação da reforma da Liturgia”.
Como vimos em nosso último programa, para facilitar a aplicação da renovação litúrgica desejada pelos Padres conciliares, a Santa Sé posteriormente publicou cinco documentos de especial importância, cada um deles numerados numa única série, intitulados como “Instruções para a reta Aplicação da Constituição sobre a Aagrada Liturgia do Concílio Vaticano II”. Mesmo passados 50 anos da publicação da Sacrosanctum Concilium, há um caminho ainda a ser percorrido. A reforma litúrgica trouxe muitos frutos, mas houve também alguns exageros.
No programa desta quarta-feira, padre Gerson Schmidt nos fala sobre “A aplicação da reforma da Liturgia”:
 Antes mesmo do Concílio Vaticano II, se faziam experiências litúrgicas de aproximação popular e de que a Liturgia fosse mais participativa. Via-se nesse fomento de renovação uma verdadeira luz do Espírito Santo, como um clamor e uma necessidade que já brotava nas bases e nas comunidades eclesiais. Como aponta o número 43 da SC: “A preocupação pelo incremento e renovação da Liturgia é justamente considerada como um sinal dos desígnios providenciais de Deus sobre o nosso tempo, como uma passagem do Espírito Santo pela sua Igreja; ele imprime uma nota distintiva à sua vida, e mais, a todo o modo religioso de sentir e de agir do nosso tempo”.
Na América Latina a renovação litúrgica promovida pelo Vaticano II marcou a vida da Igreja e mudou a mentalidade dos fiéis. “O uso do vernáculo modificou o estilo das celebrações litúrgicas O celebrante voltado para o povo estabeleceu novo tipo de participação ativa e consciente da comunidade. Numerosas publicações de estilo popular, sobretudo os folhetos litúrgicos, para cada domingo, colocados generosamente nas mãos dos fiéis, contribuíram para sua participação na celebração eucarística. Até mesmo as numerosas comunidades distantes das sedes paroquiais, que até o Concílio se sentiam abandonadas, se reanimaram com a celebração da Palavra de Deus e constituíram entusiasmadas comunidades de base” [2].
Há, porém, um caminho ainda a percorrer. Passados 50 anos de SC, percebemos que muitos frutos se deram, mas também houve muitos exageros. “O espetacular, o visível, o novidadeirismo (modismo) mantiveram a reforma na superfície. Houve descasos dos aspectos jurídicos do culto” [3].
O Papa João Paulo II recordou em Visita “ad limina” (dos Bispos do Brasil) essa intensidade espiritual e litúrgica sentida em visita ao Brasil. Dizia ele já em 1990: “Recordando ainda, com emoção, os momentos de alta intensidade espiritual que vivi no Brasil, durante as celebrações litúrgicas, que constituíam o ponto culminante das minhas visitas às várias Igrejas locais, desejo encarecer aos Senhores a importância e o lugar da Liturgia em suas comunidades, e a necessidade de incrementar cada vez mais entre os fiéis a formação litúrgica e o espírito de oração. Espero contribuir assim, para que as Igrejas que lhes estão confiadas cresçam em sua vida cristã”.
Mas o Papa, na ocasião, além dos resultados bem positivos, disse haver também abusos e exageros: “Na aplicação da Sacrosanctum Concilium, houve, certamente, deficiências, hesitações e abusos. Mas não se pode negar que, onde as comunidades foram preparadas, com a devida informação e a catequese, os resultados são positivos. Com razão se afirmou na Assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos de 1985 que ‘a renovação litúrgica é o fruto mais visível de toda a obra conciliar’ (Relação final, 7 de dezembro de 1985, II, B, b, 1)” [4].

[1] Texto quase literal da Introdução da Instrução Inter Oecumenici para a reta aplicação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II. Consilium ad exsequandam Constitutionem de Sacra Liturgia, 26/09/1964.
[2] Dom Frei Boaventura Kloppemburg, OFM, Bispo emérito de Novo Hamburgo-RS, perito na comissão Teológica do Concilio Vaticano II. Teologia na AL depois do Vaticano II: avanços e crises. In: Concilio Vaticano II, 40 anos da LG. Manoel Augusto Santo (org.). Edipucrs: 2005, p. 67.
[3] ibid.
[4] Discurso do Papa João Paulo II aos Bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil do Regional Sul-1, em visita «Ad Limina Apostolorum», 20 de março de 1990.



Fonte: Vatican News

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