segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Angelus do Papa: VI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Angelus
Domingo, 17 de fevereiro de 2019

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje (cf. Lc 6,17.20-26) nos apresenta as bem-aventuranças na versão de São Lucas. O texto se articula em quatro bem-aventuranças e quatro advertências formuladas com a expressão “ai de vós”. Com estas palavras, fortes e incisivas, Jesus nos abre os olhos, nos faz ver com o seu olhar, para além das aparências, além da superfície, e nos ensina a discernir as situações com fé.
Jesus declara bem-aventurados os pobres, os aflitos, os perseguidos; e adverte aqueles que são ricos, saciados, sorridentes e aclamados pelas pessoas. A razão desta paradoxal bem-aventurança está no fato de que Deus está próximo daqueles que sofrem e intervém para libertá-los da sua escravidão; Jesus vê isso, vê já a bem-aventurança para além da realidade negativa. E igualmente o “ai de vós”, dirigido a quantos hoje passam bem, serve para “despertá-los” do perigoso engano do egoísmo e abrir-lhes à lógica do amor, pois estão em tempo de fazê-lo.
A página do Evangelho de hoje nos convida, portanto, a refletir sobre o sentido profundo de ter fé, que consiste em confiar-se totalmente ao Senhor. Se trata de abater os ídolos mundanos para abrir o coração ao Deus vivo e verdadeiro; só Ele pode dar à nossa existência aquela plenitude tão desejada e ainda difícil de alcançar. Irmãos e irmãs, são muitos, de fato, também em nossos dias, aqueles que se apresentam como dispensadores de felicidade: vêm e prometem sucesso em pouco tempo, grandes ganhos ao alcance da mão, soluções mágicas para cada problema, e assim por diante. E aqui é fácil escorregar sem perceber no pecado contra o primeiro mandamento: é a idolatria, substituir Deus por um ídolo. Idolatria e ídolos parecem coisas de outros tempos, mas em realidade são de todos os tempos! Também hoje. Descrevem algumas atitudes contemporâneas melhor que muitas análises sociológicas.
Por isso Jesus nos abre os olhos para a realidade. Somos chamados à felicidade, a sermos bem-aventurados, e nos tornamos à medida que nos colocamos ao lado de Deus, do seu Reino, daquilo que não é efêmero mas dura para a vida eterna. Seremos felizes se nos reconhecermos necessitados diante de Deus – e isso é muito importante: “Senhor, eu preciso de Ti” – e se, como Ele e com Ele, estamos próximos aos pobres, aos aflitos e aos famintos. Também nós o somos diante de Deus: somos pobres, aflitos, somos famintos diante de Deus. Tornamo-nos capazes de alegria toda vez que, possuindo os bens deste mundo, não fazemos deles ídolos aos quais vender a nossa alma, mas somos capazes de dividi-los com os nossos irmãos. Sobre isso hoje a Liturgia nos convida mais uma vez a interrogarmo-nos e a fazer a verdade em nosso coração.
As bem-aventuranças de Jesus são uma mensagem decisiva, que nos encoraja a não colocar a nossa confiança nas coisas materiais e passageiras, a não buscar a felicidade seguindo os vendedores de fumaça – que tantas vezes são vendedores de morte – os profissionais da ilusão. Não precisamos segui-los, porque são incapazes de dar-nos esperança. O Senhor nos ajuda a abrir os olhos, a adquirir um olhar mais penetrante sobre a realidade, a curar-se da miopia crônica com que o espírito mundano nos contagia. Com a sua Palavra paradoxal nos sacode e nos faz reconhecer aquilo que verdadeiramente nos enriquece, nos sacia, nos dá alegria e dignidade. Em suma, aquilo que verdadeiramente dá sentido e plenitude à nossa vida.
A Virgem Maria nos ajude a ouvir este Evangelho com mente e coração abertos, para que porte frutos na nossa vida e tornemo-nos testemunhas da felicidade que não ilude, aquela de Deus que nunca ilude.


Tradução livre a partir do original italiano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário