São Gregório Magno
Sermão 27 sobre os Evangelhos
“Nossos
lábios oram pelos que nos odeiam, e queira Deus que nosso coração os amasse!”
Pedimos-lhe que
tire a vida de nossos inimigos. Todo aquele que ora desta maneira, com suas
próprias orações está resistindo ao Criador. Daí que se diga destes o que disse
o real profeta: Converta-se a sua oração
em pecado. Converter a oração em pecado é pedir aquelas coisas que proíbe a
pessoa à qual se pede... Por isso diz a Verdade: Quando vos colocares em pé para orar, se tendes algo contra alguém,
perdoai-o primeiro...
Para conseguir
aquilo que pedimos retamente, é necessário que o nosso espírito não esteja
ofuscado na oração pelo ódio ao nosso inimigo... Nossos lábios oram pelos que
nos odeiam, e queira Deus que nosso coração os amasse! Muitas vezes oramos por
eles, porém mais para dar cumprimento ao preceito de Deus do que por caridade.
Porque pedimos pela vida de nossos inimigos e tememos ser escutados. Mas, como
o nosso juiz interior atende mais a nossa intenção que as palavras, nada pede
em favor do inimigo o que não ora em seu favor por caridade...
“Mas é que o
nosso inimigo faltou conosco gravemente, nos prejudicou. Auxiliamos-lhe e ele
nos feriu, e pelo amor que lhe manifestamos nos perseguiu”. Tudo isto estaria
em seu lugar se não tivéssemos pecado algum, pelo qual devemos constantemente
pedir perdão. Nosso advogado compôs para nós a súplica que devemos alegar em
nossa causa. Ele é ao mesmo tempo juiz e advogado dela. Indicou-nos a condição
que deveria ter nossa oração com estas palavras: Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido.
Como será nosso
juiz o mesmo que é nosso advogado, escuta a nossa oração o mesmo que a fez.
Deste modo, o dizemos sem praticá-lo: Perdoai
as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido, e então
vinculamo-nos mais dizendo estas palavras; ou talvez omitimos esta condição em
nossas orações, e nosso advogado não reconhece a oração que compôs para o nosso
uso, e nos diz: “Sei o que aconselhei, porém não é esta a oração que compus”.
O que devemos
fazer, caríssimos irmãos, a não ser conceder o afeto da verdadeira caridade aos
nossos irmãos? Que o Deus todo-poderoso veja a nossa caridade para com o
próximo e tenha piedade e misericórdia por nós por nossos pecados. Recordai as
palavras que nos foram ditas: Perdoai e
sereis perdoados. Devem-nos e também nós devemos; perdoemos, portanto,
aquilo que nos é devido, para que nos perdoe o que nós devemos.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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