São Basílio de Selêucia
Sermão 39
A
Virgem Mãe de Deus
O Criador do
universo, o todo-poderoso, nascido da Virgem Mãe de Deus, uniu-se à natureza
humana; ele assumiu uma carne verdadeiramente dotada de uma alma, e não
experimentou culpa alguma: Ele não
cometeu pecado, nem se achou falsidade em sua boca.
Corpo sagrado
que abrigava o Senhor! Em Maria foi anulada a constatação de nosso pecado, pois
foi nela que Deus se fez homem, permanecendo Deus. Ele quis submeter-se a esta
gravidez, e se humilhou ao nascer como nós; sem abandonar o seio do Pai,
satisfez-se com os afagos de sua mãe. Porque Deus não fica dividido quando
cumpre sua vontade; isto é, mesmo permanecendo para todos indivisível, ele dá a
salvação ao mundo.
Gabriel veio à
Virgem Maria sem deixar o céu, e o Verbo de Deus que abraça toda a criação,
enquanto nela esteve encarnado, não cessou de ser adorado no céu. Será
necessário intervir com tudo o que os profetas disseram anunciando o advento de
Cristo que nasceria da Mãe de Deus? Que voz seria assaz sublime para entoar
hinos que convenham a sua dignidade? De que flores nós lhe trançaríamos a coroa
que a ela é devida? Porque é dela que germinará
a flor de Jessé, e que tem coroado nossa raça de glória e de honra. Que
presentes dignos dela lhe ofereceremos, quando tudo o que há no mundo é indigno
dela? Porque, se São Paulo disse dos demais santos: que o mundo não era digno deles, o que diremos da Mãe de Deus que
resplandeceu acima de todos os mártires tanto quanto o sol brilha mais do que
as estrelas?
Ó virgindade
pela qual os anjos, inicialmente distanciados do gênero humano, se alegram com
razão por serem colocados a serviço dos homens! E Gabriel exulta por ser
incumbido de anunciar a concepção divina, porque ele percorre sua mensagem de
salvação que invoca a alegria e a graça. Alegra-te,
cheia de graça, assume um rosto jovial, pois é de ti que vai nascer a
alegria de todos, com este que, depois de ter destruído a potência da morte, e
ter dado a todos a esperança de ressuscitar, nos libertará da antiga maldição.
O Emanuel foi
rebento deste mundo que outrora havia criado, aparecendo como um recém-nascido,
ele que era Deus antes da eternidade; recostado em uma manjedoura, excluído do
habitat comum, então veio para preparar as moradas eternas. Confinado a uma
gruta e apontado por uma estrela, cumulado de presentes pelos magos e pagando o
resgate do pecado, carregado nos braços de Simeão e abraçando o universo pela
extensão de sua potência divina, visto como um infante pelos pastores e
reconhecido como Deus pelo exército dos anjos que cantavam sua glória no céu, paz sobre a terra,
benevolência de Deus para os homens.
Tudo isso, a
Santa Mãe do Senhor do universo meditava
em seu coração, diz o Evangelho. Ela se alegrava interiormente pela reunião
destas maravilhas, ao mesmo tempo em que é transtornada pela grandeza de seu
Filho que é Deus, grandeza que ela percebe pelos olhos da alma. Como ela ficava
a contemplar o divino infante, seduzida, como eu o creio, por impulsos cheios
de respeito, ela estava sozinha a conversar com o Único.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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