Viagem Apostólica do Papa
Francisco a Myanmar e Bangladesh
Santa Missa
Homilia do Santo Padre
Kyaikkasan Ground (Yangon)
Quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Amados
irmãos e irmãs!
Há
muito tempo que anelava por este momento da minha vinda ao país. Muitos de vós
viestes de longe e de áreas montanhosas remotas, e não poucos mesmo a pé. Eu
vim como peregrino para vos ouvir e aprender de vós, e para vos oferecer
algumas palavras de esperança e consolação.
A
primeira leitura de hoje, do livro de Daniel, ajuda-nos a ver como era limitada
a sabedoria do rei Baltasar e dos seus videntes. Sabiam como louvar «os deuses
de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra» (Dn 5,4),
mas não possuíam a sabedoria para louvar a Deus em cujas mãos está a nossa vida
e a nossa respiração. Ao contrário, Daniel tinha a sabedoria do Senhor e era
capaz de interpretar os seus grandes mistérios.
O
intérprete definitivo dos mistérios de Deus é Jesus. Ele é a sabedoria de Deus
em pessoa (cf. 1Cor 1,24). Jesus não nos ensinou a sua
sabedoria com longos discursos ou por meio de grandes demonstrações de poder
político ou terreno, mas com a oferta da sua vida na cruz. Às vezes, podemos
cair na armadilha de confiar na nossa própria sabedoria, mas a verdade é que
facilmente perdemos o sentido da direção. Então é necessário lembrar-nos de que
dispomos, à nossa frente, duma bússola segura: o Senhor
crucificado. Na cruz, encontramos a sabedoria, que pode guiar a nossa vida com
a luz que provém de Deus.
E da
cruz vem também a cura. Lá, Jesus ofereceu as suas feridas ao Pai
por nós: mediante as suas feridas, somos curados (cf. 1Pd 2,4). Que
nunca nos falte a sabedoria de encontrar, nas feridas de Cristo, a fonte de
toda a cura! Sei que muitos no Myanmar carregam as feridas da violência, quer
visíveis quer invisíveis. A tentação é responder a estas lesões com uma
sabedoria mundana que, como a do rei na primeira leitura, está profundamente
deturpada. Pensamos que a cura possa vir do rancor e da vingança. Mas o caminho
da vingança não é o caminho de Jesus.
O
caminho de Jesus é radicalmente diferente. Quando o ódio e a rejeição O
conduziram à paixão e à morte, Ele respondeu com o perdão e a compaixão. No
Evangelho de hoje, o Senhor diz-nos que, à sua semelhança, podemos também
deparar-nos com a rejeição e tantos obstáculos, mas nessa ocasião dar-nos-á uma
sabedoria a que ninguém pode resistir (cf. Lc 21,15). Aqui Ele
fala do Espírito Santo, por Quem o amor de Deus foi derramado nos nossos
corações (cf. Rm 5,5). Com o dom do Espírito, Jesus torna cada
um de nós capaz de ser sinal da sua sabedoria, que triunfa
sobre a sabedoria deste mundo, e da sua misericórdia, que dá alívio mesmo às
feridas mais dolorosas.
Na
véspera da sua paixão, Jesus deu-Se aos Apóstolos sob as espécies do pão e do
vinho. No dom da Eucaristia, com os olhos da fé, não só reconhecemos o dom do
seu corpo e sangue, mas aprendemos também a encontrar repouso nas suas
feridas, sendo nelas purificados de todos os nossos pecados e extravios.
Buscando refúgio nas feridas de Cristo, possais vós, queridos irmãos e irmãs,
experimentar o bálsamo salutar da misericórdia do Pai e encontrar a força de o
levar aos outros, ungindo cada uma das suas feridas e dolorosas lembranças.
Deste modo, sereis testemunhas fiéis da reconciliação e da paz que Deus quer
que reine em cada coração humano e em todas as comunidades.
Eu sei
que a Igreja no Myanmar já está a fazer muito para levar o bálsamo salutar da
misericórdia de Deus aos outros, especialmente aos mais necessitados. Há sinais
claros de que, mesmo com meios muito limitados, numerosas comunidades proclamam
o Evangelho a outras minorias tribais, sem nunca forçar ou constringir, mas
sempre convidando e acolhendo. No meio de tanta pobreza e inúmeras
dificuldades, muitos de vós prestam assistência prática e solidariedade aos
pobres e aos doentes. Através das canseiras diárias dos seus bispos,
sacerdotes, religiosos e catequistas, e particularmente mediante o louvável
trabalho do Catholic Karuna Myanmar e da generosa assistência
prestada pelas Pontifícias Obras Missionárias, a Igreja neste país está a
ajudar um grande número de homens, mulheres e crianças, sem distinções de
religião ou de origem étnica. Posso testemunhar que aqui a Igreja está viva,
que Cristo está vivo e está aqui convosco e com os vossos irmãos e irmãs das
outras Comunidades cristãs. Encorajo-vos a continuar a partilhar com os outros
a inestimável sabedoria que recebestes, o amor de Deus que brota do Coração de
Jesus.
Jesus
quer dar esta sabedoria em abundância. Ele premiará certamente os vossos
esforços por espalhar sementes de cura e reconciliação nas vossas famílias,
comunidades e na sociedade alargada desta nação. Porventura não nos disse Ele
que a sua sabedoria é irresistível (cf. Lc 21,15)? A sua
mensagem de perdão e misericórdia obedece a uma lógica que nem todos quererão
compreender, e que encontrará obstáculos. Contudo o seu amor, revelado na cruz,
é definitivamente imparável. É como um GPS espiritual que nos
guia infalivelmente rumo à vida íntima de Deus e ao coração do nosso próximo.
A
Santíssima Virgem Maria seguiu o seu Filho mesmo na escura subida ao monte
Calvário e acompanha-nos em todos os passos da nossa viagem terrena. Que Ela
nos obtenha sempre a graça de ser mensageiros da verdadeira sabedoria, profundamente
misericordiosos para com os necessitados, com a alegria que
brota de repousar nas feridas de Jesus, que nos amou até ao fim.
Deus vos abençoe a todos! Deus abençoe a Igreja no Myanmar! Abençoe esta terra com a sua paz! Deus abençoe o Myanmar!
Deus vos abençoe a todos! Deus abençoe a Igreja no Myanmar! Abençoe esta terra com a sua paz! Deus abençoe o Myanmar!
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