domingo, 24 de dezembro de 2017

Homilia: Natal do Senhor - Missa da Noite

São Jerônimo
Tratado sobre o Salmo 84
Aquele que nasceu de Maria, nasce diariamente em nós

A misericórdia e a fidelidade se encontram, a justiça e a paz se abraçam. Que amizade mais excelente! A misericórdia e a fidelidade se encontram. Você é pecador? Escuta o que foi dito: “misericórdia”. És santo? Escuta o que diz: “fidelidade”. Não se desespere se és pecador, nem te ensoberbeças se és santo. Tentemos outra interpretação.

Dois são os povos crentes: um formado pelos pagãos e outro pelos judeus. Aos judeus foi prometido um Salvador; e a nós, que vivíamos à margem da lei, não. Portanto, a misericórdia se exercita com o povo dos pagãos, e a fidelidade com os judeus, já que se cumpriu o que lhes estava prometido, isto é, o que foi anunciado aos pais se cumpriu nos filhos.

A justiça e a paz se abraçam. Observa o que se diz: A justiça e a paz se abraçam. É o mesmo que foi dito antes: misericórdia e fidelidade, pois misericórdia equivale à paz, e fidelidade é sinônimo de justiça. Se alguma coisa tem relação com a paz, igualmente tem relação com a misericórdia; e se algo tem a ver com a fidelidade, também tem a ver com a justiça. Com efeito, olha o que diz: A justiça e a paz se abraçam, ou seja, a misericórdia e a fidelidade se tornaram amigas, isto é, judeus e pagãos estão sob o cajado de um só pastor: Cristo.

A fidelidade brota da terra. Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Aquele que disse: Eu sou a verdade, brotou da terra. E qual é esta verdade que brotou da terra? Brotará um renovo do tronco de Jessé, e de sua raiz florescerá um rebento. E em outro lugar: Tu, ó Deus, tiveste a vitória entre nós. Observa: a verdade, o Salvador, brotou da terra, ou seja, de Maria.

E a justiça olha do alto do céu. Era justo que o Salvador tivesse compaixão de seu povo. Vede o que afirma: Quão insondáveis são as suas decisões, e quão irrastreáveis os seus caminhos! A verdade brota da terra, isto é, o Salvador. E de novo: E a justiça olha do alto do céu. A justiça, isto é, o Salvador. Como brotou da terra? Como olhou do alto do céu?

Brotou da terra nascendo como homem; olhou do alto do céu porque Deus está sempre nos céus. Brotou, é verdade, da terra, porém aquele que nasceu da terra está sempre no céu. Isto significa que apareceu na terra sem abandonar o céu, porque está em todas as partes. Olhou, porque enquanto pecávamos apartava a sua vista de nós.

Eis o que quis dizer: É justo que o oleiro tenha compaixão da obra de suas mãos, e que o pastor se compadeça do seu rebanho. Nós somos seu povo, somos suas criaturas. Foi para isto, pois, que ele brotou da terra e olhou do alto do céu: para cumprir toda a justiça e ter compaixão de sua obra.

Finalmente, para que saibais que a palavra “justiça” não designa crueldade, mas misericórdia, vede o que foi dito: O Senhor nos enviará a chuva. Para isto olhou desde o céu: para compadecer-se de suas obras. E nossa terra dará seu fruto. A fidelidade brotou da terra, dito em pretérito. Agora se expressa no futuro: E nossa terra dará o seu fruto.

Não deveis vos desesperar por ter nascido uma só vez de Maria: diariamente ele nasce em nós. E a terra dará seu fruto. Também nós, se queremos, podemos gerar Cristo. E a terra dará seu fruto: fruto do qual é feito o pão celestial. Dele diz: Eu sou o pão que desceu do céu.
Tudo o que foi dito se refere à misericórdia de Deus, que veio exatamente para salvar o gênero humano.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 287-288. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Pedro Crisólogo para esta Missa clicando aqui.

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