São Jerônimo
Tratado sobre o Salmo 84
Aquele
que nasceu de Maria, nasce diariamente em nós
A misericórdia e a fidelidade se encontram,
a justiça e a paz se abraçam. Que amizade mais excelente! A misericórdia e a fidelidade se encontram.
Você é pecador? Escuta o que foi dito: “misericórdia”. És santo? Escuta o que
diz: “fidelidade”. Não se desespere se és pecador, nem te ensoberbeças se és
santo. Tentemos outra interpretação.
Dois são os
povos crentes: um formado pelos pagãos e outro pelos judeus. Aos judeus foi
prometido um Salvador; e a nós, que vivíamos à margem da lei, não. Portanto, a
misericórdia se exercita com o povo dos pagãos, e a fidelidade com os judeus,
já que se cumpriu o que lhes estava prometido, isto é, o que foi anunciado aos
pais se cumpriu nos filhos.
A justiça e a paz se abraçam. Observa o
que se diz: A justiça e a paz se abraçam.
É o mesmo que foi dito antes: misericórdia e fidelidade, pois misericórdia
equivale à paz, e fidelidade é sinônimo de justiça. Se alguma coisa tem relação
com a paz, igualmente tem relação com a misericórdia; e se algo tem a ver com a
fidelidade, também tem a ver com a justiça. Com efeito, olha o que diz: A justiça e a paz se abraçam, ou seja, a
misericórdia e a fidelidade se tornaram amigas, isto é, judeus e pagãos estão
sob o cajado de um só pastor: Cristo.
A fidelidade brota da terra. Eu sou o
caminho, a verdade e a vida. Aquele que disse: Eu sou a verdade, brotou da terra. E qual é esta verdade que brotou
da terra? Brotará um renovo do tronco de
Jessé, e de sua raiz florescerá um rebento. E em outro lugar: Tu, ó Deus, tiveste a vitória entre nós. Observa:
a verdade, o Salvador, brotou da terra, ou seja, de Maria.
E a justiça olha do alto do céu. Era
justo que o Salvador tivesse compaixão de seu povo. Vede o que afirma: Quão insondáveis são as suas decisões, e
quão irrastreáveis os seus caminhos! A verdade brota da terra, isto é, o
Salvador. E de novo: E a justiça olha do
alto do céu. A justiça, isto é, o Salvador. Como brotou da terra? Como
olhou do alto do céu?
Brotou da terra
nascendo como homem; olhou do alto do céu porque Deus está sempre nos céus. Brotou, é verdade, da terra, porém
aquele que nasceu da terra está sempre no céu. Isto significa que apareceu na
terra sem abandonar o céu, porque está em todas as partes. Olhou, porque enquanto pecávamos apartava a sua vista de nós.
Eis o que quis
dizer: É justo que o oleiro tenha compaixão da obra de suas mãos, e que o
pastor se compadeça do seu rebanho. Nós somos seu povo, somos suas criaturas.
Foi para isto, pois, que ele brotou da terra e olhou do alto do céu: para
cumprir toda a justiça e ter compaixão de sua obra.
Finalmente, para
que saibais que a palavra “justiça” não designa crueldade, mas misericórdia,
vede o que foi dito: O Senhor nos enviará
a chuva. Para isto olhou desde o céu: para compadecer-se de suas obras. E nossa terra dará seu fruto. A
fidelidade brotou da terra, dito em
pretérito. Agora se expressa no futuro: E nossa terra dará o seu fruto.
Não deveis vos
desesperar por ter nascido uma só vez de Maria: diariamente ele nasce em nós. E a terra dará seu fruto. Também nós, se
queremos, podemos gerar Cristo. E a terra
dará seu fruto: fruto do qual é feito o pão celestial. Dele diz: Eu sou o pão que desceu do céu.
Tudo o que foi
dito se refere à misericórdia de Deus, que veio exatamente para salvar o gênero
humano.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 287-288. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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