São João Crisóstomo
Sermão 46 sobre o Evangelho de São Mateus
Assim
como o fermento faz fermentar toda a massa, assim vós convertereis o mundo
inteiro
O Reino dos Céus é como o fermento; uma
mulher o amassa com três medidas de farinha e basta para que tudo fique
fermentado. Assim como o fermento faz fermentar toda a massa, assim vós
convertereis o mundo inteiro. E não me digas: O que podemos fazer, doze homens
perdidos entre uma grande multidão? Porque precisamente o simples fato de que
não recusais misturar-vos com as multidões torna imensamente mais admirável
vossa eficácia. E assim como o fermento faz fermentar a massa quando o
aproximamos da farinha – e não somente quando o aproximamos, mas quando o aproximamos
tanto que se mistura com ela, pois não disse simplesmente “pôs”, mas “amassou”
–, assim também vós, consolidados e unidos com vossos opositores, acabareis por
superá-los.
E assim como o
fermento fica envolto na massa, mas não perdido nela, mas vai gradualmente
penetrando sua virtualidade a toda a massa, exatamente assim acontecerá na
pregação. Assim, não tendes porque temer se vos predisse muitas tribulações:
desta forma ressaltará mais a vossa índole e acabareis superando tudo.
Porque é Cristo
aquele que dá ao fermento essa virtude. Por isso aos que criam nele os misturou
com a multidão, para que comuniquemos aos demais a nossa compreensão. Que
ninguém se queixe, pois, de sua pequenez, pois o dinamismo da pregação é
gigantesco, e aquele que uma vez fermentou, converte-se em fermento para os
demais.
E da mesma forma
como uma faísca que cai sobre a lenha se prende a ela e a converte em chamas,
que por sua vez coloca fogo aos outros troncos, ocorre exatamente assim com a
pregação. Contudo, Jesus não falou de fogo, mas de fermento. Por quê?
Justamente porque no primeiro caso nem tudo procede do fogo, mas também da
lenha que queima; porém, no segundo exemplo o fermento tudo o faz por sua
própria virtualidade.
Entretanto, se
doze homens fizeram fermentar toda a terra, pensa quão grande não será a nossa
maldade, pois, sendo tão numerosos, não conseguimos converter aos que ainda
restam, de tal forma que deveríamos estar em condição de fazer fermentar a mil
mundos. Porém, eles – me dirás – eram Apóstolos. E o que isso significa? Será
que eles não participavam de tua mesma condição? Não viviam nas cidades? Será
que eles desfrutaram das mesmas coisas que você? Não exerceram seus ofícios?
Eram por acaso anjos? Acaso baixaram do céu? Porém me replicarás: eles fizeram
milagres. Até quando utilizaremos o pretexto dos milagres para encobrir a nossa
indiferença? Que milagres fez João que teve a tantas cidades dependentes de si?
Nenhum, como testemunha o evangelista: João
não fez nenhum milagre.
E o próprio
Cristo, o que é que dizia ao dar normas aos seus discípulos? Realizai milagres
para que os homens os vejam? Em absoluto. Então, o que é que lhes dizia? Brilhe assim vossa luz diante dos homens,
para que vejam vossas boas obras e deem glória ao vosso Pai que está no céu.
Vês como é necessário em todas as partes que a vida seja boa e esteja cheia de
boas obras? Pois por seus frutos - Ele diz - os conhecereis.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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