sábado, 25 de julho de 2020

Homilia: XVII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Orígenes
Sermão 10 sobre o Evangelho de São Mateus
As pérolas preciosas conduzem à pérola de grande valor

O texto que buscava pérolas preciosas podem compará-lo com este: buscai e achareis; e com este outro: quem busca, encontra. Por que se diz buscai e quem busca encontra? Arrisco a ideia de que se trata “das” pérolas e “a” pérola, pérola que adquire o que deu tudo e aceitou perder tudo, pérola a propósito da qual diz Paulo: Eu perdi tudo para ganhar a Cristo. Ao dizer “tudo” se refere às pérolas preciosas; e ao referir “para ganhar a Cristo” aponta para a única pérola de grande valor.
Preciosa é a lâmpada para aqueles que vivem nas trevas, e seu uso é necessário até que se levante o sol; preciosa era também a glória que irradiava a face de Moisés e penso que também a dos profetas: espetáculo tão maravilhoso que, graças a ele, nos abrimos à possibilidade de contemplar a glória de Cristo, glória para a qual o Pai presta testemunho, dizendo: Este é o meu Filho amado, meu predileto. Aquele esplendor já não é esplendor, eclipsado por esta glória incomparável, e nós necessitamos, em um primeiro momento, de uma glória suscetível de desaparecer para dar lugar a uma glória mais excelente, assim como temos necessidade de um conhecimento “parcial”, que será extinto quando chegar o perfeito.
Assim, toda alma que adere à primeira infância e caminha para a perfeição necessita, até que o tempo se cumpra, de pedagogo, tutores e curadores, para que ao chegar à idade prefixada por seu pai, aquele que em nada se diferenciava de um escravo, sendo senhor de tudo, receba, uma vez libertado da mão do pedagogo, dos tutores e curadores, seus bens patrimoniais, comparáveis à pérola de grande valor e à futura perfeição que extingue com o que é parcial, no momento em que for capaz de aderir à excelência do conhecimento de Cristo, depois de exercitar-se naqueles conhecimentos que, por assim dizer, estão sob o conhecimento de Cristo.
Porém, a grande massa, que não captou a beleza das numerosas pérolas da lei, nem o conhecimento ainda “parcial” que se encontra em todas as profecias, imaginam-se poder encontrar – sem antes ter esclarecido e compreendido perfeitamente essas riquezas – a única pérola de grande valor e contemplar a excelência do conhecimento de Cristo, em comparação da qual pode-se dizer que tudo o que precedeu a tão elevado e perfeito conhecimento, sem ser por sua própria natureza lixo, aparece como tal, pois se pode compará-la ao esterco que o Senhor da vinha lança ao redor da figueira, para que produza mais fruto.
Assim, tudo tem o seu tempo e ocasião, todas as tarefas debaixo do sol: tempo de recolher pedras, isto é, pérolas preciosas, e depois de tê-las recolhido, tempo de encontrar a única pérola de grande valor, momento em que é preciso vender tudo o que se possui e comprá-la.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 184-185. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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