terça-feira, 21 de julho de 2020

Ângelus do Papa: XVI Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 19 de julho de 2020

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho de hoje (cf. Mt 13,24-43) voltamos a encontrar Jesus, que fala à multidão sobre o Reino dos Céus com parábolas. Comento apenas a primeira, a do joio, através da qual Jesus nos dá a conhecer a paciência de Deus, abrindo o nosso coração à esperança.
Jesus narra que no campo onde foi semeado o bom trigo, brota inclusive o joio, termo que resume todas as ervas daninhas que infestam o solo. Entre nós, podemos dizer também que ainda hoje o solo é devastado por muitos herbicidas e pesticidas, que afinal também fazem mal para a erva, o solo e a saúde. Mas isto, entre parênteses. Então, os servos vão ter com o senhor para saber de onde vem o joio, e ele responde: «Um inimigo fez isto!» (v. 28). Pois semeamos trigo bom! Um inimigo, um concorrente, veio e fez isto. Eles gostariam de arrancar imediatamente as ervas daninhas que cresciam; mas o senhor impede-os, pois com as ervas daninhas - o joio - se correria o risco se arrancar também o trigo. É necessário esperar até ao momento da colheita: só então haverá a separação e as ervas daninhas serão queimadas. É também uma história de bom senso.
Pode-se ler nesta parábola uma visão da história. Ao lado de Deus - o dono do campo - que semeia sempre e apenas boas sementes, há um adversário, que semeia o joio para dificultar o crescimento do trigo. O dono age abertamente, à luz do sol, e o seu objetivo é uma boa colheita; o adversário, ao contrário, aproveita-se da escuridão da noite e trabalha por inveja, por hostilidade, para arruinar tudo. O adversário a quem Jesus se refere tem um nome: é o diabo, o opositor por excelência de Deus. A sua intenção é dificultar o trabalho de salvação, fazer com que o Reino de Deus seja impedido por trabalhadores injustos, semeadores de escândalos. Com efeito, a boa semente e o joio não representam o bem e o mal abstrato, mas nós, seres humanos, que podemos seguir Deus ou o diabo. Muitas vezes, ouvimos dizer que uma família estava em paz, depois começaram as guerras, a inveja... um bairro estava em paz, depois houve situações negativas... E estamos habituados a dizer: “Alguém foi lá para semear contendas”, ou “esta pessoa da família, com bisbilhotices, semeia joio”. Semear o mal destrói sempre. E isto é feito pelo diabo ou pela nossa tentação: quando caímos na tentação de tagarelar para destruir os outros.
A intenção dos servos é eliminar imediatamente o mal, ou seja, as pessoas más, mas o dono é mais sábio, vê além: devem saber esperar, pois suportar a perseguição e a hostilidade faz parte da vocação cristã. Certamente, o mal há de ser rejeitado, mas os ímpios são pessoas com as quais é preciso ter paciência. Não se trata da tolerância hipócrita que esconde ambiguidades, mas da justiça temperada pela misericórdia. Se Jesus veio em busca mais de pecadores do que de justos, para curar os doentes antes ainda que os saudáveis (cf. Mt 9,12-13), também a ação dos seus discípulos deve ter em vista não suprimir os ímpios, mas salvá-los. Eis no que consiste a paciência!
O Evangelho de hoje apresenta duas formas de agir e de habitar a história: por um lado, o olhar do dono, que vê além; por outro, o olhar dos servos, que veem o problema. Os servos preocupam-se com um campo sem ervas daninhas, o dono preocupa-se com o trigo bom. O Senhor convida-nos a ter o seu olhar, que se fixa no trigo bom, que sabe conservá-lo até no meio das ervas daninhas. Não coopera com Deus quem procura os limites e defeitos dos outros mas, ao contrário, quem sabe reconhecer o bem que cresce silenciosamente no campo da Igreja e da história, cultivando-o até ao amadurecimento. E então será Deus, e só Ele, que recompensará os bons e castigará os ímpios. Que a Virgem Maria nos ajude a compreender e a imitar a paciência de Deus, o qual não quer que se perca nenhum dos seus filhos, aos quais Ele ama com amor de Pai.


Fonte: Santa Sé

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