Santo Atanásio de Alexandria
Sermão atribuído sobre a parábola do
semeador
Ao
homem lhe cabe semear; a Deus, dar o crescimento
Passava o Senhor
por algumas sementeiras: o grão de trigo entre as messes; aquele grão de trigo
espiritual, que caiu em um lugar determinado e ressuscitou fecundo no mundo
inteiro. Ele disse de si mesmo: Se o grão
de trigo não cai na terra e morre, fica infecundo; mas se morre, dá muito fruto.
Passava,
portanto, Jesus por algumas sementeiras: Aquele que um dia haveria de ser grão
de trigo por sua virtude nutritiva, por enquanto é um semeador, conforme se diz
nos Evangelhos: o semeador saiu a semear.
Jesus, é verdade, espalha a semente generosamente, mas a quantia do fruto
depende da qualidade do terreno. Porque no terreno pedregoso facilmente a
semente seca, e não por impotência da semente, mas por culpa da terra, pois
enquanto a semente está cheia de vitalidade, a terra é estéril por falta de
profundidade. Quando a terra não mantém a umidade, os raios solares penetrando
com mais força ressecam a semente: certamente não por algum defeito na semente,
mas por culpa do solo.
Se a semente
caiu em uma terra cheia de espinhos, a vitalidade da semente acaba sendo
sufocada pelos espinhos, que não permitem que a virtualidade interior se
desenvolva, devido a um condicionamento exterior. Em vez disso, se a semente
cai em terra boa nem sempre produz resultado idêntico, mas algumas vezes
trinta, outras sessenta, e outas cem por um. A semente é a mesma, os frutos
diversos, como diversos são também os resultados espirituais naqueles que são
instruídos.
Saiu, pois, o
semeador a semear: em parte o fez pessoalmente e em parte através de seus
discípulos. Lemos nos Atos dos Apóstolos que, após o apedrejamento de Estêvão, todos - menos os Apóstolos - se dispersaram; não que se desagregassem
por causa de sua fragilidade; não se separaram por razões de fé, mas
simplesmente se dispersaram. Convertidos em trigo por virtude do semeador, e
transformados em pão celestial pela doutrina de vida, difundiram por toda parte
sua eficácia.
Então, o
semeador da doutrina, Jesus, Filho Unigênito de Deus, passava por algumas
sementeiras. Ele não é apenas semeador de sementes, mas também de ensinamentos
densos de admirável doutrina, em conivência com o Pai. Este é o mesmo que
passava por algumas sementeiras. Aquelas sementeiras eram certamente portadoras
de grandes milagres.
Vejamos agora o
que diz respeito à semente no momento da semeadura, e falemos dos brotos que a
terra produz na primavera, não para abordar de forma técnica o tema, mas para
adorar ao autor de tais maravilhas. Vão os homens e, conforme o seu leal saber
e entender, atrelam os bois ao arado, lavram a terra, afofam as camadas
superiores para que as chuvas não escorram, mas empapando profundamente a terra
façam germinar um fruto copioso. A semente, lançada a uma terra bem afofada,
possui uma dupla vantagem: primeiro, a profundidade e a frieza da terra;
segundo, permanece oculta, resguardada da voracidade das aves. O homem
certamente faz tudo o que está ao seu alcance; mas não está ao seu alcance o
fazer frutificar. Ao homem lhe cabe semear; a Deus, dar o crescimento. Quando a
semente começa a brotar e cresce, desprende-se da espiga e o fruto indica se se
trata de trigo ou de joio.
Compreendestes o
que acabo de dizer; agora devo dar um passo a mais e apontar para realidades
mais espirituais. Mediante os Apóstolos, Jesus semeou a palavra do Reino dos
Céus por toda a terra. O ouvido que escutou a pregação a retém em seu interior;
e ela brota na medida em que frequente assiduamente a Igreja. E nos reunimos em
um mesmo local, tanto os produtores de trigo como de joio; assim o fiel como o
hipócrita, para manifestar com maior realismo o que se prega. Nós, os
agricultores da Igreja, vamos metendo pelo semeado o enxadão das palavras, para
cultivar o campo de modo que dê fruto. Ainda desconhecemos as condições do
terreno: a semelhança das folhas pode com frequência induzir ao erro aos que
coordenam. Porém, quando a doutrina se traduz em obras e adquire consistência o
fruto das fadigas, então se revela quem é fiel e quem é hipócrita.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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