sábado, 11 de julho de 2020

Homilia: XV Domingo do Tempo Comum - Ano A

Santo Atanásio de Alexandria
Sermão atribuído sobre a parábola do semeador
Ao homem lhe cabe semear; a Deus, dar o crescimento

Passava o Senhor por algumas sementeiras: o grão de trigo entre as messes; aquele grão de trigo espiritual, que caiu em um lugar determinado e ressuscitou fecundo no mundo inteiro. Ele disse de si mesmo: Se o grão de trigo não cai na terra e morre, fica infecundo; mas se morre, dá muito fruto.
Passava, portanto, Jesus por algumas sementeiras: Aquele que um dia haveria de ser grão de trigo por sua virtude nutritiva, por enquanto é um semeador, conforme se diz nos Evangelhos: o semeador saiu a semear. Jesus, é verdade, espalha a semente generosamente, mas a quantia do fruto depende da qualidade do terreno. Porque no terreno pedregoso facilmente a semente seca, e não por impotência da semente, mas por culpa da terra, pois enquanto a semente está cheia de vitalidade, a terra é estéril por falta de profundidade. Quando a terra não mantém a umidade, os raios solares penetrando com mais força ressecam a semente: certamente não por algum defeito na semente, mas por culpa do solo.
Se a semente caiu em uma terra cheia de espinhos, a vitalidade da semente acaba sendo sufocada pelos espinhos, que não permitem que a virtualidade interior se desenvolva, devido a um condicionamento exterior. Em vez disso, se a semente cai em terra boa nem sempre produz resultado idêntico, mas algumas vezes trinta, outras sessenta, e outas cem por um. A semente é a mesma, os frutos diversos, como diversos são também os resultados espirituais naqueles que são instruídos.
Saiu, pois, o semeador a semear: em parte o fez pessoalmente e em parte através de seus discípulos. Lemos nos Atos dos Apóstolos que, após o apedrejamento de Estêvão, todos - menos os Apóstolos - se dispersaram; não que se desagregassem por causa de sua fragilidade; não se separaram por razões de fé, mas simplesmente se dispersaram. Convertidos em trigo por virtude do semeador, e transformados em pão celestial pela doutrina de vida, difundiram por toda parte sua eficácia.
Então, o semeador da doutrina, Jesus, Filho Unigênito de Deus, passava por algumas sementeiras. Ele não é apenas semeador de sementes, mas também de ensinamentos densos de admirável doutrina, em conivência com o Pai. Este é o mesmo que passava por algumas sementeiras. Aquelas sementeiras eram certamente portadoras de grandes milagres.
Vejamos agora o que diz respeito à semente no momento da semeadura, e falemos dos brotos que a terra produz na primavera, não para abordar de forma técnica o tema, mas para adorar ao autor de tais maravilhas. Vão os homens e, conforme o seu leal saber e entender, atrelam os bois ao arado, lavram a terra, afofam as camadas superiores para que as chuvas não escorram, mas empapando profundamente a terra façam germinar um fruto copioso. A semente, lançada a uma terra bem afofada, possui uma dupla vantagem: primeiro, a profundidade e a frieza da terra; segundo, permanece oculta, resguardada da voracidade das aves. O homem certamente faz tudo o que está ao seu alcance; mas não está ao seu alcance o fazer frutificar. Ao homem lhe cabe semear; a Deus, dar o crescimento. Quando a semente começa a brotar e cresce, desprende-se da espiga e o fruto indica se se trata de trigo ou de joio.
Compreendestes o que acabo de dizer; agora devo dar um passo a mais e apontar para realidades mais espirituais. Mediante os Apóstolos, Jesus semeou a palavra do Reino dos Céus por toda a terra. O ouvido que escutou a pregação a retém em seu interior; e ela brota na medida em que frequente assiduamente a Igreja. E nos reunimos em um mesmo local, tanto os produtores de trigo como de joio; assim o fiel como o hipócrita, para manifestar com maior realismo o que se prega. Nós, os agricultores da Igreja, vamos metendo pelo semeado o enxadão das palavras, para cultivar o campo de modo que dê fruto. Ainda desconhecemos as condições do terreno: a semelhança das folhas pode com frequência induzir ao erro aos que coordenam. Porém, quando a doutrina se traduz em obras e adquire consistência o fruto das fadigas, então se revela quem é fiel e quem é hipócrita.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 173-175. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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