sábado, 15 de julho de 2017

Homilia: XV Domingo do Tempo Comum - Ano A

São Gregório Magno
Sermão sobre os Evangelhos 15
Guarda no ouvido de vosso coração a Palavra que escutais

Retenham em vosso coração as palavras do Senhor que escutastes com os vossos ouvidos; porque a Palavra de Deus é o alimento da alma, e a palavra que se ouve e não se retém na memória é precipitada como o alimento, quando o estômago está mal; mas preocupa-se com a vida de quem não retém os alimentos no estômago. Portanto, temei o perigo da mote eterna, se recebeis o alimento dos santos conselhos, mas não guardais em vossa memória as palavras de vida, isto é, os alimentos de justiça.
Vede que tudo o que fazeis passa, e cada dia, quer queirais ou não, vos aproximais mais ao último juízo, sem nenhum perdão de tempo. Então, por que se ama o que se vai abandonar? Por que não se dá importância sobre o fim aonde se vai chegar? Lembrai-vos de que se diz: Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça. Todos os que escutavam ao Senhor tinham os ouvidos do corpo; mas aquele que diz a todos os que têm ouvidos: Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça, não há dúvida alguma que se referia aos ouvidos da alma.
Procurai, portanto, guardar no ouvido de vosso coração a Palavra que escutais. Procurai que a semente não caia à beira do caminho, não aconteça que venha o espírito maligno e arrebate a palavra de vossa memória. Procurai que a semente não caia em terra pedregosa e produza o fruto das boas obras sem as raízes da perseverança. A muitos lhes agrada o que escutam, e se propõem a fazer o bem, mas assim que começam a ser molestados pelas adversidades abandonam as boas obras que tinham começado. A terra pedregosa não teve seiva suficiente, porque o que tinha germinado não o levou até o fruto da perseverança.
Existem muitos que, quando ouvem falar contra a avareza, a rejeitam, e exaltam o menosprezo das coisas deste mundo; mas assim que a alma vê uma coisa que deseja, esquece-se daquilo que louvava. Existem também muitos que, quando ouvem falar contra a impureza, não somente não desejam saciar-se com as imundícias da carne, mas até se envergonham das máculas com as quais se mancharam; mas assim que à sua vista se apresenta a beleza corporal, de tal forma é o coração arrastado pelos desejos, e realiza o que é digno de condenar-se, e que ele mesmo havia condenado ao recordar que o havia cometido.
Muitas vezes nos contristamos por nossas culpas e, contudo, voltamos a cometê-las depois de já tê-las chorado.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 175-176. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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