quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Catequeses do Jubileu 2025: Infância de Jesus 2

Dando continuidade ao ciclo de Catequeses do Jubileu Ordinário de 2025, “Jesus Cristo, nossa esperança”, confira nesta postagem a terceira e a quarta meditações do Papa Francisco sobre a infância de Jesus: o anúncio a José (Mt 1,18-24) e a Visitação e o Magnificat (Lc 1,39-56):

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Jubileu 2025: Jesus Cristo, nossa esperança
1.3. A infância de Jesus: O anúncio a José (Mt 1,18-24)

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje continuamos a contemplar Jesus no mistério das suas origens, narrado pelos Evangelhos da infância.
Enquanto Lucas nos permite fazê-lo na perspectiva da Mãe, a Virgem Maria, Mateus, pelo contrário, coloca-se na perspectiva de José, o homem que assume a paternidade legal de Jesus, enxertando-o no tronco de Jessé e ligando-o à promessa feita a Davi.

Com efeito, Jesus é a esperança de Israel que se cumpre: é o descendente prometido a Davi (cf. 2Sm 7,12; 1Cr 17,11), que torna a sua casa «abençoada para sempre» (2Sm 7,29); é o rebento que brota do tronco de Jessé (cf. Is 11,1), o «rebento justo», destinado a reinar como verdadeiro rei, que sabe exercer o direito e a justiça (cf. Jr 23,5; 33,15).

Sonho de José
(Philippe de Champaigne)

José entra em cena no Evangelho de Mateus como noivo de Maria. Para os judeus o noivado era um verdadeiro vínculo jurídico, que preparava para o que aconteceria cerca de um ano depois, ou seja, a celebração do casamento. Era então que a mulher passava da guarda do pai para a do marido, transferindo-se para a sua casa e tornando-se disponível para o dom da maternidade.

É precisamente neste intervalo de tempo que José descobre a gravidez de Maria, e o seu amor é duramente posto à prova. Perante uma situação semelhante, que comportaria a interrupção do noivado, a Lei sugeria duas possíveis soluções: ou um ato jurídico de caráter público, como a convocação da mulher ao tribunal, ou uma ação particular, como a entrega à mulher de uma carta de repúdio.

Mateus define José como um homem «justo» (zaddiq), um homem que vive segundo a Lei do Senhor, que se inspira nela em todas as ocasiões da sua vida. Portanto, seguindo a Palavra de Deus, José age com ponderação: não se deixa dominar por sentimentos instintivos, nem pelo medo de acolher Maria, mas prefere deixar-se guiar pela sabedoria divina. Prefere separar-se de Maria sem clamor, privadamente (cf. Mt 1,19). E esta é a sabedoria de José, que lhe permite não se enganar, abrir-se e tornar-se dócil à voz do Senhor.

Deste modo, José de Nazaré traz à mente outro José, filho de Jacó, chamado «senhor dos sonhos» (Gn 37,19), tão amado pelo pai e tão odiado pelos irmãos, que Deus elevou, levando-o a fazer parte da corte do Faraó.

Pois bem, com o que sonha José de Nazaré? Sonha com o milagre que Deus realiza na vida de Maria, e também com o milagre que se cumpre na sua própria vida: assumir uma paternidade capaz de conservar, proteger e transmitir uma herança material e espiritual. O ventre da sua esposa está grávido da promessa de Deus, promessa que tem um nome no qual a certeza da salvação é oferecida a todos (cf. At 4,12).

Durante o sono, José ouve estas palavras: «José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois Ele vai salvar o seu povo dos seus pecados» (Mt 1,20-21). Perante esta revelação, José não pede mais provas, confia! José confia em Deus, aceita o sonho de Deus sobre a sua vida e a da sua noiva. Assim entra na graça de quem sabe viver a promessa divina com fé, esperança e amor.

Em tudo isso José não pronuncia sequer uma palavra, mas crê, espera e ama. Não se expressa com “palavras ao vento”, mas com gestos concretos. Pertence à linhagem daqueles que o Apóstolo Tiago chama os «praticantes da Palavra» (Tg 1,22), traduzindo-a em ações, em carne, em vida. José confia em Deus e obedece: «O seu permanecer interiormente alerta para Deus... torna-se espontaneamente obediência» (Bento XVI, A infância de Jesus, 2012, 44).

Irmãos, irmãs, peçamos também nós ao Senhor a graça de escutar mais do que falamos, a graça de sonhar os sonhos de Deus e de acolher responsavelmente Cristo que, a partir do momento do nosso Batismo, vive e cresce na nossa vida.

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 05 de fevereiro de 2025
Jubileu 2025: Jesus Cristo, nossa esperança
1.4. A infância de Jesus: A Visitação e o Magnificat (Lc 1,39-56)

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje contemplamos a beleza de Jesus Cristo, nossa esperança, no mistério da Visitação. A Virgem Maria visita Santa Isabel; mas é sobretudo Jesus, no seio da mãe, que visita o seu povo, como diz Zacarias no seu hino de louvor (cf. Lc 1,68).

Depois da admiração e da maravilha por aquilo que lhe foi anunciado pelo Anjo, Maria levanta-se e se põe a caminho, como todos os chamados da Bíblia, pois «o único ato com o qual o homem pode corresponder ao Deus que se revela é o da disponibilidade ilimitada» (Hans Urs von Balthasar, Vocazione, Roma, 2002, 29). Esta jovem filha de Israel não decide se proteger do mundo, não teme os perigos e os julgamentos alheios, mas vai ao encontro dos outros.

Quando alguém se sente amado, experimenta uma força que faz circular o amor; como diz o Apóstolo Paulo, «o amor de Cristo nos impele» (2Cor 5,14), nos constrange, nos move. Maria sente o impulso do amor e vai ajudar uma mulher que é sua parente, mas é também uma idosa que, depois de uma longa espera, acolhe uma gravidez inesperada, difícil de enfrentar na sua idade. Mas a Virgem vai ao encontro de Isabel também para partilhar a fé no Deus do impossível e a esperança no cumprimento das suas promessas.

O encontro entre as duas mulheres produz um impacto surpreendente: a voz da “cheia de graça” que saúda Isabel provoca a profecia no menino que a idosa traz no ventre e suscita nela uma dupla bênção: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!» (Lc 1,42). E também uma bem-aventurança: «Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu» (v. 45).

Perante o reconhecimento da identidade messiânica do seu Filho e da sua missão de mãe, Maria não fala de si mesma, mas de Deus, elevando um louvor cheio de fé, esperança e alegria, um cântico que ressoa todos os dias na Igreja durante a oração das Vésperas [oração da tarde da Liturgia das Horas]: o Magnificat (Lc 1,46-55).

Este louvor a Deus salvador, que brota do coração da sua humilde serva, é um memorial solene que resume e cumpre a prece de Israel. Está imbuído de ressonâncias bíblicas, sinal de que Maria não quer cantar “fora do coro”, mas sintonizar-se com os pais, exaltando a sua compaixão pelos humildes, os pequeninos que, na sua pregação, Jesus declarará «bem-aventurados» (cf. Mt 5,1-12).

A presença maciça do motivo pascal faz do Magnificat também um cântico de redenção, que tem como pano de fundo a memória da libertação de Israel do Egito. Os verbos estão todos no passado, impregnados de uma memória de amor que acende o presente de fé e ilumina o futuro de esperança: Maria canta a graça do passado, mas é a mulher do presente que traz no seio o futuro.

A primeira parte do cântico louva a ação de Deus em Maria, microcosmo do povo de Deus que adere plenamente à aliança (vv. 46-50); a segunda parte dilui-se na obra do Pai no macrocosmo da história dos seus filhos (vv. 51-55), mediante três palavras-chave: memória, misericórdia, promessa.

O Senhor, que se inclinou sobre a pequena Maria para fazer nela “grandes coisas” e para torná-la Mãe do Senhor, começou a salvar o seu povo desde o êxodo, recordando-se da bênção universal prometida a Abraão (cf. Gn 12,1-3). O Senhor, Deus fiel para sempre, fez fluir uma corrente ininterrupta de amor misericordioso, «de geração em geração» (v. 50), sobre o povo fiel à aliança, e agora manifesta a plenitude da salvação no seu Filho, enviado para salvar o povo dos seus pecados. De Abraão a Jesus Cristo e à comunidade dos fiéis, a Páscoa aparece assim como a categoria hermenêutica para compreender todas as libertações posteriores, até a realizada pelo Messias na plenitude dos tempos.

Amados irmãos e irmãs, peçamos hoje ao Senhor a graça de saber esperar o cumprimento de todas as suas promessas e de ajudar-nos a acolher na nossa vida a presença de Maria. Colocando-nos na sua escola, todos nós podemos descobrir que cada alma que crê e espera «concebe e gera o Verbo de Deus» (Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho segundo Lucas 2, 26).

Visitação (Rafael)

Fonte: Santa Sé (29 de janeiro e 05 de fevereiro de 2025). 

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