Há 25 anos, no dia 24 de dezembro de 2000, exatamente um ano após o início do Grande Jubileu (que seria concluído na Solenidade da Epifania do Senhor), o Papa São João Paulo II (†2005) presidiu a tradicional Missa da Noite na Solenidade do Natal do Senhor. Repropomos aqui sua homilia na ocasião:
Missa da Noite de Natal
Homilia do Papa João Paulo II
Praça de São Pedro
Domingo, 24 de dezembro de 2000
1. «Hoje nasceu para nós o Salvador» (Refrão do Salmo
responsorial; cf. Lc 2,11)
Ressoa nesta noite, antigo e sempre novo, o anúncio do
Natal do Senhor. Ressoa para quem vigia, como os pastores de Belém há dois
mil anos; ressoa para quem ouviu o apelo do Advento e, vigilante na espera,
está pronto a acolher a feliz mensagem, que na Liturgia se faz canto: «Hoje
nasceu para nós o Salvador».
Vigia o povo cristão; vigia o mundo inteiro, nesta noite de
Natal, que se une àquela memorável noite do ano passado, quando foi aberta a Porta Santa do Grande Jubileu, Porta da graça aberta de par em par para todos.
2. É como se em cada dia do Ano Jubilar a Igreja jamais tivesse
cessado de repetir: «Hoje nasceu para nós o Salvador». Este anúncio, que
possui uma inesgotável força de renovação, ecoa nesta noite santa com
particular força: é o Natal do Grande Jubileu, memória viva dos dois
mil anos de Cristo, do seu nascimento prodigioso, que marcou o novo início da
história. Hoje «o Verbo se fez carne e habitou entre nós» (Jo 1,14).
«Hoje». Nesta noite, o tempo abre-se ao eterno, pois Vós, ó
Cristo, nascestes entre nós vindo do alto. Viestes à luz do ventre de uma Mulher,
bendita entre todas, Vós, o «Filho do Altíssimo». A vossa santidade santificou
de uma vez por todas o nosso tempo: os dias, os séculos, os milênios. Com o
vosso nascimento fizestes do tempo um «hoje» de salvação.
3. «Hoje nasceu para nós o Salvador».
Celebramos nesta noite o mistério de Belém, o mistério
de uma noite singular que está, de certa forma, no tempo e além do
tempo. No ventre da Virgem nasceu um Menino, uma manjedoura serviu de berço
para a Vida imortal.
O Natal é a festa da vida, porque Vós, Jesus, vindo à luz como
cada um de nós, abençoastes a hora do nascimento: uma hora que
simbolicamente representa o mistério da existência humana, unindo a
aflição à esperança, a dor à alegria. Tudo isso aconteceu em Belém: uma Mãe deu
à luz; «um homem veio ao mundo» (Jo 16,21), o Filho do homem.
Mistério de Belém!
4. Com comoção interior recordo os dias da minha peregrinação jubilar à Terra Santa. Retorno com a mente àquela gruta na qual
tive a graça de permanecer em oração. Beijo espiritualmente aquela terra
bendita na qual germinou para o mundo a alegria imperecível.
Penso com apreensão nos lugares santos e, especialmente, na cidade
de Belém, onde, infelizmente, devido à difícil situação política,
não poderão ser celebrados com a solenidade de costume os sugestivos ritos do
Santo Natal. Gostaria que nesta noite aquelas comunidades cristãs sentissem a
plena solidariedade de toda a Igreja.
Estamos unidos a vós, caríssimos irmãos e irmãs, com uma
oração particularmente intensa. Partilhamos o vosso temor pelo destino de toda
a região do Oriente Médio. Queira o Senhor escutar a nossa invocação! Desta
Praça, centro do mundo católico, ressoe mais uma vez, com renovado vigor, o
anúncio dos anjos aos pastores: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos
homens por Ele amados» (Lc 2,14).
A nossa confiança não pode vacilar, como também não pode faltar o
assombro por aquilo que estamos comemorando. Hoje nasce Aquele que dá a paz ao
mundo.
5. «Hoje nasceu para nós o Salvador».
O Verbo chora em uma manjedoura. Chama-se Jesus, que
significa «Deus salva», porque «Ele vai salvar o seu povo dos seus
pecados» (Mt 1,21).
Não é em um palácio onde nasce o Redentor, que vem
instaurar o Reino eterno e universal. Nasce em um estábulo e, permanecendo
entre nós, acende no mundo o fogo do amor de Deus (cf. Lc 12,49).
Este fogo nunca mais se apagará.
Possa este fogo arder nos corações como chama de caridade ativa,
que se torne acolhida e apoio a tantos irmãos provados pela necessidade e pelo
sofrimento!
6. Senhor Jesus, que contemplamos na pobreza de Belém, fazei-nos testemunhas do
vosso amor, daquele amor que vos levou a se despojar da glória divina, para
nascer entre os homens e morrer por nós.
Enquanto o Grande Jubileu entra na sua fase final, infundi em nós
o vosso Espírito, para que a graça da Encarnação suscite em todo aquele que crê
o empenho por uma mais generosa correspondência à vida nova recebida no
Batismo.
Fazei que a luz desta noite, mais brilhante do que o
dia, se projete sobre o futuro e oriente os passos da
humanidade no caminho da paz.
Vós, Príncipe da paz, Vós, Salvador nascido hoje por nós, caminhai
com a vossa Igreja, pela estrada que se abre diante dela no novo
milênio!
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| Ícone do Natal (Basílica da Natividade, Belém) |
Fonte: Santa Sé.


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