quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Mensagem do Papa Bento XVI: Natal (2005)

Há 20 anos, no dia 25 de dezembro de 2005, o Papa Bento XVI (†2022) proferiu pela primeira vez a  tradicional Mensagem Urbi et Orbi (À cidade e ao mundo) por ocasião da Solenidade do Natal do Senhor:

Papa Bento XVI
Mensagem Urbi et Orbi de Natal
Balcão central da Basílica de São Pedro
Domingo, 25 de dezembro de 2005

«Eu vos anuncio uma grande alegria... Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor» (Lc 2,10-11). Na noite passada ouvimos novamente as palavras do Anjo aos pastores e revivemos o clima daquela Noite santa, a Noite de Belém, quando o Filho de Deus se fez homem e, nascendo em uma pobre gruta, veio habitar entre nós. Neste dia solene, ressoa o anúncio do Anjo como convite também para nós, homens e mulheres do terceiro milênio, a acolher o Salvador. Que a humanidade atual não hesite em fazê-lo entrar nas suas casas, nas cidades, nas nações e em cada ângulo da terra! É verdade que, ao longo do milênio há pouco concluído e especialmente nos últimos séculos, foram muitos os progressos realizados no campo técnico e científico; vastos são os recursos materiais dos quais podemos dispor hoje. O homem da era tecnológica, porém, corre o risco de ser vítima dos próprios êxitos da sua inteligência e dos resultados das suas capacidades inventivas se caminha para uma atrofia espiritual, para um vazio do coração. Por isso é importante que abra sua mente e o seu coração ao Natal de Cristo, acontecimento de salvação capaz de imprimir uma renovada esperança à existência de todo o ser humano.


«Desperta, ó homem! Por ti Deus se fez homem» (Santo Agostinho, Sermão 185). Desperta, ó homem do terceiro milênio! No Natal, o Todo-poderoso se faz menino e pede ajuda e proteção. O seu modo de ser Deus põe em crise o nosso modo de ser homens; o seu bater às nossas portas nos interpela, interpela a nossa liberdade e nos pede rever a nossa relação com a vida e o nosso modo de concebê-la. Muitas vezes, a Idade Moderna muitas vezes é apresentada como um despertar do sono da razão, como se a humanidade, saindo de um período obscuro, chegasse à luz. Sem Cristo, porém, a luz da razão não basta para iluminar o homem e o mundo. Por isso a palavra evangélica do dia de Natal - «A luz de verdade, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano» (Jo 1,9) - ressoa hoje, mais do que nunca, como anúncio de salvação para todos. «O mistério do homem não se torna verdadeiramente claro senão no mistério do Verbo encarnado» (Constituição Gaudium et spes, n. 22). A Igreja repete incansavelmente esta mensagem de esperança, reproposta pelo Concílio Vaticano II, concluído há quarenta anos.

Ó homem moderno, adulto e, todavia, ainda débil de pensamento e de vontade, deixa que o Menino de Belém te conduza pela mão; não tenhas medo, confia n’Ele! A força vivificante da sua luz te encoraja a empenhar-te na edificação de uma nova ordem mundial, fundada sobre relações éticas e econômicas justas. O seu amor guie os povos e ilumine a sua consciência comum de que são uma «família», chamada a construir relações de confiança e de apoio mútuo. Unida, a humanidade poderá enfrentar os numerosos e preocupantes problemas da atualidade: da ameaça terrorista às condições de humilhante pobreza em que vivem milhões de seres humanos, da proliferação das armas às pandemias e à degradação ambiental que ameaça o futuro do planeta.

O Deus que se fez homem por amor ao homem ampare aqueles que trabalham a favor da paz e do desenvolvimento integral na África, opondo-se às lutas fratricidas, para que se consolidem as atuais transições políticas, ainda frágeis e sejam salvaguardados os direitos mais elementares de quantos vivem em trágicas situações humanitárias, como no Darfur e em outras regiões da África Central. Induza os povos latino-americanos a viverem em paz e concórdia. Infunda coragem aos homens de boa vontade que trabalham na Terra Santa, no Iraque, no Líbano, onde os sinais de esperança, que não faltam, esperam ser confirmados por comportamentos inspirados pela lealdade e pela sabedoria; favoreça os processos de diálogo na Península Coreana e em outros países asiáticos, para que, superadas perigosas divergências, se chegue, com espírito conciliador, a coerentes desfechos de paz, tão ansiados por aquelas populações.

No Natal o nosso espírito se abre à esperança, contemplando a glória divina escondida na pobreza de um Menino envolvido em faixas e deitado em uma manjedoura: é o Criador do universo, reduzido à impotência de um recém-nascido! Aceitar este paradoxo, o paradoxo do Natal, é descobrir a Verdade que liberta, o Amor que transforma a existência. Na Noite de Belém, o Redentor se faz um de nós, para ser nosso companheiro nas insidiosas estradas da história. Acolhamos a mão que Ele nos estende: é uma mão que não quer nos tirar nada, mas apenas doar.

Com os pastores, entremos na cabana de Belém sob o olhar amoroso de Maria, testemunha silenciosa do prodigioso nascimento. Que ela nos ajude a viver um bom Natal; nos ensine a guardar no coração o mistério de Deus, que por nós se fez homem; nos guie a testemunhar no mundo a sua verdade, o seu amor, a sua paz.


Fonte: Santa Sé.

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