segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Mensagem Urbi et Orbi do Papa: Natal (2025)

Papa Leão XIV
Mensagem Urbi et Orbi de Natal
Balcão central da Basílica de São Pedro
Quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Queridos irmãos e irmãs,
«Alegremo-nos todos no Senhor, porque nosso Salvador nasceu no mundo. Hoje, para nós, desceu do céu a verdadeira paz» (Missa da Noite de Natal, Antífona de entrada). Assim canta a Liturgia na Noite de Natal e assim ressoa na Igreja o anúncio de Belém: o Menino que nasceu da Virgem Maria é Cristo Senhor, enviado pelo Pai para nos salvar do pecado e da morte. Ele é a nossa paz: Aquele que venceu o ódio e a inimizade com o amor misericordioso de Deus. Por isso «o Natal do Senhor é o Natal da paz» (São Leão Magno, Sermão 26).

Porque não havia lugar para Ele na hospedaria, Jesus nasceu em um estábulo. Assim que nasceu, a sua mãe, Maria, «o enfaixou e o colocou na manjedoura» (Lc 2,7). O Filho de Deus, por meio do qual tudo foi criado, não é recebido e o seu berço é uma pobre manjedoura para animais.


O Verbo eterno do Pai, que os céus não podem conter, escolheu vir ao mundo desta forma. Por amor, desejou nascer de uma mulher, para partilhar a nossa humanidade; por amor, aceitou a pobreza e a rejeição e identificou-se com quem é descartado e excluído.

No Natal de Jesus já se perfila a escolha de fundo que orientará toda a vida do Filho de Deus, até à Morte na Cruz: a escolha de não nos fazer carregar o peso do pecado, mas de carregá-lo por nós, de assumir sobre si esse peso. Só Ele podia fazê-lo. Ao mesmo tempo, porém, mostrou o que só nós podemos fazer, ou seja, assumir cada um a sua parte de responsabilidade. Sim, porque Deus, que nos criou sem nós, não pode salvar-nos sem nós (cf. Santo Agostinho, Discurso 169, 11.13), isto é, sem a nossa livre vontade de amar. Quem não ama não se salva, está perdido. E quem não ama o irmão que vê, não pode amar Deus que não vê (cf. 1Jo 4,20).

Irmãos e irmãs, eis o caminho da paz: a responsabilidade. Se cada um de nós, em todos os níveis, em vez de acusar os outros, reconhecesse em primeiro lugar as próprias falhas, pedisse perdão a Deus e, ao mesmo tempo, se colocasse no lugar dos que sofrem, mostrando-se solidário com os mais fracos e oprimidos, então o mundo mudaria.

Jesus Cristo é a nossa paz porque, em primeiro lugar, nos liberta do pecado e, em segundo lugar, nos indica o caminho a seguir para superar os conflitos, quaisquer que sejam eles, desde os interpessoais aos internacionais. Sem um coração livre do pecado, um coração perdoado, não podemos ser homens e mulheres pacíficos e construtores de paz. Foi por essa razão que Jesus nasceu em Belém e morreu na Cruz: para nos libertar do pecado. Ele é o Salvador. Com a sua graça, cada um pode e deve fazer a sua parte para rejeitar o ódio, a violência, a contraposição e para praticar o diálogo, a paz, a reconciliação.

Neste dia de festa, desejo enviar uma calorosa saudação paterna a todos os cristãos, em especial àqueles que vivem no Oriente Médio e que recentemente, na minha primeira Viagem Apostólica, desejei encontrar. Ouvi os seus receios e conheço bem o seu sentimento de impotência perante dinâmicas de poder que os ultrapassam. O Menino que hoje nasce em Belém é o mesmo Jesus que diz: «Que tenhais paz em mim. No mundo, tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo!» (Jo 16,33).

D’Ele invocamos justiça, paz e estabilidade para o Líbano, a Palestina, Israel e a Síria, ao confiarmos nestas palavras divinas: «A paz será o fruto da justiça, e o cultivo da justiça produzirá tranquilidade e segurança permanente» (Is 32,17).

Ao Príncipe da Paz entregamos todo o continente europeu, pedindo-lhe que continue a inspirar um espírito comunitário e colaborativo, fiel às suas raízes cristãs e à sua história, solidária e acolhedora com quem passa necessidade. Rezemos de modo especial pelo povo ucraniano tão massacrado: que o barulho das armas acabe e que as partes envolvidas, apoiadas pelo empenho da comunidade internacional, encontrem a coragem de dialogar de modo sincero, direto e respeitoso.

Do Menino de Belém imploramos paz e consolação para as vítimas de todas as guerras em curso no mundo, especialmente as esquecidas; e para quantos sofrem por causa da injustiça, da instabilidade política, da perseguição religiosa e do terrorismo. Recordo de modo particular os irmãos e irmãs do Sudão, do Sudão do Sul, do Mali, do Burkina Faso e da República Democrática do Congo.

Nestes últimos dias do Jubileu da Esperança, rezemos ao Deus feito homem pela querida população do Haiti, para que, cessando toda a forma de violência no país, possa progredir no caminho da paz e da reconciliação.

O Menino Jesus inspire todos os que têm responsabilidades políticas na América Latina, para que, ao enfrentarem os inúmeros desafios, deem espaço ao diálogo pelo bem comum e não a preconceitos ideológicos e partidários.

Ao Príncipe da Paz pedimos que ilumine Myanmar com a luz de um futuro de reconciliação: devolva a esperança às jovens gerações, guie todo o povo birmanês por vias de paz e acompanhe aqueles que vivem sem casa, segurança ou confiança no futuro.

A Ele pedimos que restaure a antiga amizade entre a Tailândia e o Camboja e que as partes em causa continuem a empenhar-se pela paz e reconciliação.

A Ele confiamos também as populações do sul da Ásia e da Oceania, duramente provadas pelas recentes e devastadoras calamidades naturais, que com gravidade atingiram inteiras populações. Perante tais provações, convido todos a renovar com convicção o nosso empenho comum em socorrer quem sofre.

Queridos irmãos e irmãs,
Na escuridão da noite, o Verbo, «que era a luz de verdade, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano» (Jo 1,9), porém «os seus não o acolheram» (v. 11). Não nos deixemos vencer pela indiferença em relação a quem sofre, porque Deus não é indiferente às nossas misérias.

Fazendo-se homem, Jesus assume a nossa fragilidade, identifica-se com cada um de nós: com aqueles que não têm mais nada e perderam tudo, como os habitantes de Gaza; com quem é presa da fome e da pobreza, como o povo do Iêmen; com aqueles que fogem da própria terra em busca de um futuro em outro lugar, como os muitos refugiados e migrantes que cruzam o Mediterrâneo ou atravessam o continente americano; com aqueles que perderam o trabalho e com os que o procuram, como tantos jovens que têm dificuldade em encontrar emprego; com aqueles que são explorados, como muitos trabalhadores mal remunerados; com aqueles que estão na prisão e, muitas vezes, vivem em condições desumanas.

Ao Coração de Deus chega a invocação de paz que se eleva de todas as partes da terra, como escreve um poeta:
«Não a paz de um cessar-fogo, nem a visão do lobo e do cordeiro, mas antes como quando no coração a excitação termina e apenas se pode falar de um grande cansaço. (...) Venha de repente, como as flores selvagens, porque o campo precisa dela: paz selvagem» (Yehuda Amichai, Wildpeace, in: The Poetry of Yehuda Amichai, Farrar, Straus and Giroux, 2015).

Neste dia santo, abramos o nosso coração aos irmãos e irmãs que passam necessidade e sofrem. Ao fazê-lo, abrimos o nosso coração ao Menino Jesus, que, com os braços abertos, nos acolhe e revela a sua divindade: «A todos que o receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome» (Jo 1,12).

Em poucos dias o Ano Jubilar terminará. As Portas Santas serão fechadas, mas Cristo, nossa esperança, permanecerá sempre conosco. Ele é a Porta sempre aberta que nos introduz na vida divina. É a alegre notícia deste dia: o Menino que nasceu é Deus feito homem; Ele não vem para condenar, mas para salvar; a sua não é uma aparição fugaz; Ele vem para ficar e dar-se a si mesmo. N’Ele todas as feridas são curadas e todos os corações encontram repouso e paz. «O Natal do Senhor é o Natal da paz».
Desejo a todos, de coração, um feliz e santo Natal.

Em seguida o Papa repetiu sua saudação de Natal em várias línguas:
Feliz Natal! Que a paz de Cristo reine nos vossos corações e nas vossas famílias.


Fonte: Santa Sé.

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