quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Jesus Cristo 15

Com sua Catequese n. 24 sobre Jesus Cristo, o Papa São João Paulo II concluiu sua reflexão sobre Jesus como revelador da Trindade.

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Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO

24. Jesus Cristo, revelador da Trindade
João Paulo II - 19 de agosto de 1987

1. As Catequeses sobre Jesus Cristo encontram seu núcleo neste tema central que brota da Revelação: Jesus Cristo, o homem nascido da Virgem Maria, é o Filho de Deus. Todos os Evangelhos e os outros livros do Novo Testamento atestam esta verdade cristã fundamental, que buscamos explicar nas Catequeses anteriores, desenvolvendo seus vários aspectos. O testemunho evangélico constitui a base do Magistério solene da Igreja nos Concílios, o qual se reflete nos Símbolos da fé (sobretudo no Símbolo Niceno-Constantinopolitano) e também, naturalmente, no constante ensinamento ordinário da Igreja, na sua Liturgia, na oração e na vida espiritual por ela promovida e guiada.

2. A verdade sobre Jesus Cristo Filho de Deus constitui o ponto chave da autorrevelação de Deus, mediante o qual se desvela o inefável mistério de um Deus único na Santíssima Trindade. Com efeito, segundo a Carta aos Hebreus, quando Deus, “nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho” (Hb 1,2), desvelou a realidade da sua vida íntima - daquela vida na qual Ele permanece em absoluta unidade na divindade e, ao mesmo tempo, é Trindade, isto é, divina comunhão de três Pessoas. Desta comunhão dá testemunho direto o Filho que “saiu do Pai e veio ao mundo (cf. Jo 16,28). Somente Ele. O Antigo Testamento, quando Deus “falou... pelos profetas” (Hb 1,1), não conhecia este mistério íntimo de Deus. Certamente alguns elementos da revelação veterotestamentária constituíam a preparação para a revelação evangélica; contudo, só o Filho podia introduzir-nos neste mistério. Pois “a Deus, ninguém jamais o viu”: ninguém conheceu o mistério íntimo da sua vida. Somente o Filho: “o Filho Unigênito, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Jo 1,18).

Trindade (José de Ribera)

3. Ao longo das Catequeses anteriores consideramos os principais aspectos desta revelação, graças à qual a verdade sobre a filiação divina de Jesus Cristo aparece a nós com plena clareza. Concluindo agora este ciclo de meditações, convém recordar alguns momentos, nos quais, junto à verdade sobre a filiação divina do Filho do homem, Filho de Maria, se revela o mistério do Pai e do Espírito Santo.

O primeiro, cronologicamente, é já o momento da anunciação em Nazaré. Segundo o anjo, com efeito, quem deve nascer da Virgem é o Filho do Altíssimo, o Filho de Deus. Com estas palavras, Deus é revelado como Pai e o Filho de Deus é apresentado como aquele que deve nascer por obra do Espírito Santo: “O Espírito Santo descerá sobre ti...” (Lc 1,35). Assim, a narração da anunciação encerra o mistério trinitário: Pai e Filho e Espírito Santo.

Tal mistério está presente também na teofania ocorrida durante o batismo de Jesus no Jordão, quando o Pai, através de uma voz do alto, dá testemunho do Filho “amado”, e esta é acompanhada pelo Espírito “que desceu como pomba e pousou sobre Jesus” (cf. Mt 3,16). Esta teofania é como uma confirmação “visual” das palavras do profeta Isaías, às quais Jesus fez referência em Nazaré, ao dar início à sua atividade messiânica: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois Ele me ungiu... me enviou...” (Lc 4,18; cf. Is 61,1).

4. Depois, durante seu ministério, encontramos as palavras com as quais o próprio Jesus introduz seus ouvintes no mistério da divina Trindade, entre as quais está a “alegre declaração” que encontramos nos Evangelhos de Mateus e de Lucas. A chamamos “alegre” porque, como lemos no texto de Lucas, “naquela hora, Jesus exultou no Espírito Santo” (Lc 10,21) e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, assim foi o teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,25-27; Lc 10,21-22).

Graças a esta “exultação de Jesus no Espírito Santo”, somos introduzidos nas “profundezas de Deus” - nas “profundezas” que só o Espírito sonda (cf. 1Cor 2,10): na íntima unidade da vida de Deus, na inescrutável comunhão das Pessoas.

5. Estas palavras, relatadas por Mateus e Lucas, harmonizam-se perfeitamente com muitas afirmações de Jesus que encontramos no Evangelho de João, como vimos nas Catequeses anteriores. Sobre todas elas domina a afirmação de Jesus que revela sua unidade com o Pai: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). Esta afirmação é retomada e desenvolvida na oração sacerdotal (Jo 17) e em todo o discurso com o qual Jesus, no Cenáculo, prepara os Apóstolos para sua partida através dos acontecimentos pascais (Jo 14–16).

6. E precisamente aqui, na ótica desta “partida”, Jesus pronuncia as palavras que de maneira definitiva revelam o mistério do Espírito Santo e a relação que El mantém com o Pai e o Filho. O Cristo que diz: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,10), anuncia ao mesmo tempo aos Apóstolos a vinda do Espírito Santo e afirma: este é “o Espírito da verdade, que procede do Pai” (Jo 15,26). Jesus acrescenta que “rogará ao Pai” para que este Espírito da verdade seja dado aos discípulos, para que “permaneça com eles para sempre” como “Consolador” (cf. Jo 14,16). E assegura aos Apóstolos: “O Pai enviará o Espírito Santo em meu nome” (cf. Jo 14,26). Tudo isso, conclui Jesus, acontecerá depois da sua partida durante os acontecimentos pascais, mediante a Cruz e a Ressurreição: “Se Eu for, o enviarei a vós” (Jo 16,7).

7. “Naquele dia sabereis que Eu estou no Pai...” (cf. Jo 14,20), afirma ainda Jesus, ou seja, por obra do Espírito Santo se esclarecerá plenamente o mistério da unidade do Pai e do Filho: “Eu no Pai e o Pai em mim”. Tal mistério, com efeito, só pode ser esclarecido pelo Espírito, que “sonda as profundezas de Deus” (cf. 1Cor 2,10), onde na comunhão das Pessoas é constituída a unidade da vida divina em Deus. Assim se ilumina também o mistério da Encarnação do Filho em relação aos fiéis e à Igreja, também por obra do Espírito Santo. Diz, pois, Jesus: “Naquele dia (quando os Apóstolos receberem o Espírito da verdade) conhecereis (não só) que Eu estou em meu Pai, (mas também que) vós (estais) em mim e Eu em vós” (Jo 14,20). A Encarnação é, portanto, o fundamento da nossa filiação divina por meio de Cristo, é a base do mistério da Igreja como corpo de Cristo.

8. Aqui é importante notar que a Encarnação, embora diga respeito diretamente ao Filho, é “obra” de Deus Uno e Trino (cf. IV Concílio Lateranense). Testemunha-o já o próprio conteúdo da anunciação (cf. Lc 1,26-38). E depois, mediante todo o seu ensinamento, Jesus foi “abrindo perspectivas inacessíveis à razão humana” (como lemos na Gaudium et Spes, 24): aquelas da vida íntima de Deus Uno na Trindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Finalmente, cumprida sua missão messiânica, Jesus, ao deixar definitivamente os Apóstolos no 40º dia depois da Ressurreição, realizou até o fim o que havia anunciado: “Como o Pai me enviou, Eu também vos envio” (Jo 20,21). Com efeito, lhes diz: “Ide, pois, e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo...” (Mt 28,19).
Nestas palavras conclusivas do Evangelho, e antes do início do caminho da Igreja no mundo, Jesus Cristo entregou-lhe a verdade suprema da sua revelação: a indivisível Unidade da Trindade.

Desde então a Igreja, maravilhada e adorante, pode confessar com o evangelista João na conclusão do Prólogo do Quarto Evangelho, sempre com íntima comoção: “A Deus, ninguém jamais o viu. O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Jo 1,18).

Trindade (Guercino)

Tradução nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé (19 de agosto de 1987). 

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