terça-feira, 19 de setembro de 2023

Ângelus: XXIV Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 17 de setembro de 2023

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje o Evangelho fala-nos de perdão (Mt 18,21-35). Pedro pergunta a Jesus: «Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?» (v. 21).

Sete, na Bíblia, é um número que indica plenitude, e por isso Pedro é muito generoso nas hipóteses da sua pergunta. Mas Jesus vai mais longe e responde-lhe: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (v. 22). Diz-lhe, portanto, que quando se perdoa não se calcula, que é bom perdoar tudo e sempre! Tal como Deus faz conosco, e como são chamados a fazer aqueles que administram o perdão de Deus: perdoar sempre. Digo isto aos padres, aos confessores: perdoai sempre como Deus perdoa.

Jesus ilustra então esta realidade através de uma parábola, que tem sempre a ver com números. Um rei, depois de que lhe implorasse, perdoa a um servo a dívida de 10.000 talentos: é um valor exagerado, imenso, que varia entre 200 e 500 toneladas de prata: exagerado. Era uma dívida impossível de saldar, mesmo trabalhando toda a vida: mas aquele senhor, que recorda o nosso Pai, perdoa-lhe por pura «compaixão» (v. 27). É assim o coração de Deus: perdoa sempre, porque Deus é compassivo. Não esqueçamos como é Deus: próximo, compassivo e terno; este é o modo de ser de Deus. Mas depois este servo, ao qual a dívida foi perdoada, não tem piedade de outro servo que lhe deve 100 denários. Também esta é uma soma substancial, equivalente a cerca de três meses de salário - como se quisesse dizer que perdoar uns aos outros tem um preço! - mas não é de modo algum comparável à quantia anterior, que o patrão tinha perdoado.

A mensagem de Jesus é clara: Deus perdoa incalculavelmente, ultrapassando todas as medidas. Ele é assim, age por amor e por gratuidade. Deus não pode ser comprado, Deus é gratuito, é todo gratuidade. Não podemos retribuir-lhe, mas quando perdoamos ao nosso irmão ou irmã, imitamo-lo. Perdoar não é, portanto, uma boa ação que se pode fazer ou deixar de fazer: perdoar é uma condição fundamental para quem é cristão. Cada um de nós, de fato, é um “perdoado” ou uma “perdoada”: não esqueçamos isto, nós somos perdoados, Deus deu a vida por nós e de modo algum podemos compensar a sua misericórdia, que Ele nunca retira do coração. Mas, correspondendo à sua gratuidade, isto é, perdoando-nos uns aos outros, podemos dar testemunho dele, semeando vida nova à nossa volta. Porque fora do perdão não há esperança, fora do perdão não há paz. O perdão é o oxigênio que purifica o ar poluído pelo ódio, o perdão é o antídoto que cura os venenos do ressentimento, é o caminho para desarmar a raiva e curar tantas doenças do coração que contaminam a sociedade.

Perguntemo-nos então: acredito que recebi de Deus o dom de um perdão imenso? Sinto a alegria de saber que Ele está sempre pronto a perdoar-me quando peco, até quando os outros não o fazem, ou até quando nem eu mesmo consigo me perdoar? Ele perdoa: acredito que Ele perdoa? E depois: sei perdoar, por minha vez, aqueles que me ofenderam? A este respeito, gostaria de vos propor um pequeno exercício: procuremos, agora, cada um de nós, pensar numa pessoa que nos ofendeu e peçamos ao Senhor a força para perdoá-la. E perdoemo-la por amor ao Senhor: irmãos e irmãs, isso nos fará bem, restaurará a paz nos nossos corações.
Maria, Mãe de Misericórdia, nos ajude a aceitar a graça de Deus e a perdoarmo-nos uns aos outros.

Parábola do servo impiedoso
(Claude Vignon)

Fonte: Santa Sé.

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