São Fulgêncio de Ruspe, Bispo
Sermão III
As armas da caridade
Ontem, celebrávamos o nascimento temporal de nosso Rei
eterno; hoje celebramos o martírio triunfal do seu soldado.
Ontem o nosso Rei, revestido de nossa carne e saindo da
morada de um seio virginal, dignou-se visitar o mundo; hoje o soldado, deixando
a tenda de seu corpo, parte vitorioso para o céu.
O nosso Rei, o Altíssimo, veio por nós na humildade, mas não
pôde vir de mãos vazias. Trouxe para seus soldados um grande dom, que não
apenas os enriqueceu imensamente, mas deu-lhes uma força invencível no combate:
trouxe o dom da caridade que leva os homens à comunhão com Deus.
Ao repartir tão liberalmente o que trouxera, nem por isso
ficou mais pobre: enriquecendo do modo admirável a pobreza dos seus fiéis, ele
conservou a plenitude dos seus tesouros inesgotáveis.
Assim, a caridade que fez Cristo descer do céu à terra,
elevou Estêvão da terra ao céu. A caridade de que o Rei dera o exemplo logo refulgiu
no soldado.
Estêvão, para alcançar a coroa que seu nome significa, tinha
por arma a caridade e com ela vencia em toda parte. Por amor a Deus não recuou
perante a hostilidade dos judeus, por amor ao próximo intercedeu por aqueles
que o apedrejavam. Por esta caridade, repreendia os que estavam no erro para
que se emendassem, por caridade orava pelos que o apedrejavam para que não
fossem punidos.
Fortificado pela caridade, venceu Saulo, enfurecido e cruel,
e mereceu ter como companheiro no céu aquele que tivera como perseguidor na
terra. Sua santa e incansável caridade queria conquistar pela oração, a quem
não pudera converter pelas admoestações.
E agora Paulo se alegra com Estêvão, com Estêvão frui da
glória de Cristo, com Estêvão exulta, com Estêvão reina. Aonde Estêvão chegou
primeiro, martirizado pelas pedras de Paulo, chegou depois Paulo, ajudado pelas
orações de Estêvão.
É esta a verdadeira vida, meus irmãos, em que Paulo não se
envergonha mais da morte de Estêvão, mas Estêvão se alegra pela companhia de
Paulo, porque em ambos triunfa a caridade. Em Estêvão, a caridade venceu a
crueldade dos perseguidores, em Paulo, cobriu uma multidão de pecados; em
ambos, a caridade mereceu a posse do reino dos céus.
A caridade é a fonte e origem de todos os bens, é a mais
poderosa defesa, o caminho que conduz ao céu.
Quem caminha na caridade não pode errar nem temer. Ela dirige, protege, leva a bom termo.
Portanto, meus irmãos, já que o Cristo nos deu a escada da
caridade pela qual todo cristão pode subir ao céu, conservai fielmente a
caridade verdadeira, exercitai-a uns para com os outros e, subindo por ela,
progredi sempre mais no caminho da perfeição.
Responsório
Ontem Cristo na terra nasceu, para que Estêvão nascesse nos
céus; ontem Cristo entrou neste mundo,
R. Para que Estêvão entrasse nos céus.
Revestido de carne humana, saindo do seio da Virgem, nosso
Rei se dignou visitar-nos.
R. Para que Estêvão entrasse nos céus.
Oração
Ensinai-nos, ó Deus, a imitar o que celebramos, amando os
nossos próprios inimigos, pois festejamos Santo Estêvão, nosso primeiro mártir,
que soube rezar por seus perseguidores. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
Fonte: Liturgia das Horas, vol. I, pp. 1082-1084.
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