sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Ângelus: Festa de Santo Estêvão (2022)

Festa de Santo Estêvão, Protomártir
Papa Francisco
Ângelus
Segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom dia! Feliz Festa!
Ontem celebramos o Natal do Senhor, e a Liturgia, para nos ajudar a acolhê-lo melhor, prolonga a duração da festa até 01 de janeiro: por oito dias. Surpreendentemente, porém, nestes mesmos dias lembramo-nos de algumas figuras dramáticas de Santos mártires. Hoje, por exemplo, Santo Estêvão, o primeiro mártir cristão; depois de amanhã, os Santos Inocentes, as crianças que o rei Herodes mandou matar porque tinha medo que Jesus lhe tirasse o trono (cf. Mt 2,1-18). Em síntese, parece realmente que a Liturgia nos quer afastar do mundo das luzes, dos almoços e dos presentes em que nestes dias poderíamos acomodar-nos um pouco. Por quê?

Porque o Natal não é o conto de fadas do nascimento de um rei, mas a vinda do Salvador, que nos liberta do mal tomando sobre si o nosso mal: o egoísmo, o pecado, a morte. Este é o nosso mal: o egoísmo que carregamos dentro; o pecado, porque todos nós somos pecadores; e a morte. E os mártires são os mais semelhantes a Jesus. Com efeito, a palavra mártir significa testemunha: os mártires são testemunhas, isto é, irmãos e irmãs que, através da própria vida, nos mostram Jesus que venceu o mal com a misericórdia. E até os nossos dias os mártires são numerosos, mais do que nos primeiros tempos. Hoje oremos por estes irmãos e irmãs mártires perseguidos, que dão testemunho de Cristo. Mas é bom que nos interroguemos: sou testemunha de Cristo? E como podemos melhorar nisto, testemunhando melhor Cristo? Pode ajudar-nos precisamente a figura de Santo Estêvão.

Em primeiro lugar, os Atos dos Apóstolos dizem-nos que era um dos sete diáconos que a comunidade de Jerusalém tinha consagrado para o serviço à mesa, ou seja, para a caridade (cf. At 6,1-6). Isto significa que o seu primeiro testemunho não foi dado com palavras, mas através do amor com que servia os mais necessitados. Mas Estêvão não se limitava a esta obra de assistência. Àqueles que encontrava, falava de Jesus: partilhava a fé à luz da Palavra de Deus e do ensinamento dos Apóstolos (At 7,1-53.56). Esta é a segunda dimensão do seu testemunho: acolher a Palavra e comunicar a sua beleza, narrar como o encontro com Jesus muda a vida. Isto era tão importante para Estêvão, que não se deixou intimidar pelas ameaças dos perseguidores, nem sequer quando viu que as coisas corriam mal para ele (v. 54). Caridade anúncio, assim era Estêvão. Contudo, o seu maior testemunho é outro: aquele que soube unir a caridade e o anúncio. Ele deixou-nos esse testemunho na hora da morte quando, a exemplo de Jesus, perdoou os seus assassinos (v. 60; cf. Lc 23,34).

Eis, pois, a nossa resposta à pergunta: podemos melhorar o nosso testemunho através da caridade aos irmãos, da fidelidade à Palavra de Deus e do perdão. Caridade, Palavra, perdão. É o perdão que diz se realmente praticamos a caridade ao próximo e se vivemos a Palavra de Jesus. Com efeito, o “perdão” é, como indica a própria palavra, um dom maior, um dom que oferecemos aos outros porque somos de Jesus, perdoados por Ele [1]. Perdoo porque fui perdoado: não nos esqueçamos disto... Pensemos, cada um de nós pense na própria capacidade de perdoar: qual é a minha capacidade de perdoar, nestes dias em que talvez encontremos, entre outras, algumas pessoas com as quais não nos damos bem, que nos feriram, com as quais nunca resolvemos a relação. Peçamos ao recém-nascido Jesus a novidade de um coração capaz de perdoar: todos nós precisamos de um coração que perdoe! Peçamos ao Senhor esta graça: Senhor, que eu aprenda a perdoar. Peçamos a força para rezar por quem nos ofendeu, para rezar pelas pessoas que nos feriram, e para dar passos de abertura e de reconciliação. Que hoje o Senhor nos conceda esta graça!
E que Maria, Rainha dos Mártires, nos ajude a crescer na caridade, no amor à Palavra e no perdão.

Martírio de Santo Estêvão
(Menologion de Basílio II)

[1] Em italiano, a palavra “perdão” (perdono) comporta a palavra “dom” (dono).

Fonte: Santa Sé.

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