quinta-feira, 19 de maio de 2022

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Introdução 3

As “características do ensino catequético” e o “ensino da doutrina cristã” são os temas das Catequeses introdutórias do Papa São João Paulo II sobre o Creio que propomos a seguir.

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Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
INTRODUÇÃO GERAL

5. Características do ensino catequético
João Paulo II - 16 de janeiro de 1985

1. A catequese coloca-nos questões de pedagogia. Pelos textos evangélicos sabemos que também Jesus teve que enfrentá-las. Em sua pregação às multidões Ele se serviu de parábolas para comunicar a sua doutrina de maneira adequada à inteligência dos seus ouvintes. No seu ensinamento aos discípulos Ele procede progressivamente, levando em conta suas dificuldades de compreender; assim, é apenas no segundo período da sua vida pública que anuncia expressamente a sua “via dolorosa” e só ao final declara abertamente sua identidade não apenas de Messias, mas também de “Filho de Deus”. Constatamos também que, em seus diálogos mais particulares, comunica a sua revelação respondendo às preguntas dos seus interlocutores e empregando uma linguagem acessível à sua mentalidade. Às vezes Ele mesmo faz perguntas e suscita questões.
Cristo nos mostrou, assim, a necessidade de que a catequese seja adaptada de muitas formas, conforme os grupos e as pessoas às quais está dirigida. Indicou-nos igualmente a natureza e os limites dessa adaptação; apresentou a seus ouvintes toda a doutrina a qual havia sido enviado a ensinar e, diante das resistências daqueles que o escutavam, expôs sua mensagem com todas as exigências de fé que comportava. Recordemos o discurso sobre a Eucaristia, por ocasião do milagre da multiplicação dos pães: apesar das objeções e das deserções, Jesus manteve a sua doutrina e pediu a adesão dos seus discípulos (cfJo 6,60-69). Transmitindo aos seus ouvintes a integralidade da sua mensagem, contava com a ação iluminadora do Espírito Santo, que os faria compreender mais tarde o que não podiam entender de imediato (cf. Jo 14,26; 16,13). Portanto também para nós a adaptação da catequese não deve significar redução ou mutilação do conteúdo da doutrina revelada, mas sim esforço por acolhê-la com uma adesão de fé, sob a luz e com a força do Espírito Santo.

Jesus ensinando seus discípulos às margens do Mar da Galileia
(James Tissot)

2. Seguindo o exemplo do único Mestre, que é Jesus, em sua catequese a Igreja busca adaptar-se àqueles aos quais quer comunicar a luz do Evangelho. Este esforço por adaptar-se se manifestou de maneira particular em tempos recentes, marcados pelo progresso na especialização catequética: de fato, se multiplicaram os institutos de formação catequética, são estudados sistematicamente os métodos da catequese e são propostos os caminhos mais eficazes para o ensino. Espero que este esforço continue e se desenvolva ainda mais. Os problemas de adaptação são muitos e difíceis, variam segundo os lugares e os tempos, e não deixaram de apresentar-se também no futuro.
Deve-se observar que estes problemas hoje estão relacionados com os do desenvolvimento dos novos meios de comunicação social. Ao lado das formas simples e tradicionais da catequese, há lugar para um ensino catequético que utilize os meios mais modernos da difusão. A Igreja não pode deixar de encorajar as tentativas de criar novas formas de transmissão da verdade evangélica. Todas as boas iniciativas neste campo devem ser vistas com simpatia e devemos felicitar aqueles que assumem o papel de pioneiros neste campo.

3. A catequese não pretende, portanto, “fossilizar-se” naquilo que foi feito no passado. Como reconheci na Exortação Catechesi tradendae, a catequese tem necessidade “de uma renovação contínua, e mesmo de certo alargamento do seu próprio conceito, nos seus métodos, na busca de uma linguagem adaptada, na utilização dos novos meios de transmissão da mensagem” (n. 17). Podemos dizer que a catequese, como a própria Igreja, busca sempre um futuro melhor que o passado, futuro que requer uma colaboração ativa de todos os interessados e uma atenta abertura aos progressos da sociedade humana.
A necessidade de renovação requer um esforço constante de reflexão sobre os resultados obtidos. Não se pode partir do princípio de que tudo aquilo que é novo é bom e fecundo: o importante é verificar com a experiência a eficácia do caminho seguido. Se em tempos recentes houve um notável esforço de desenvolvimento dos métodos catequéticos, não se pode, todavia, ignorar que em diversos lugares se notaram frequentemente lacunas e resultados nada felizes de certos métodos novos. O Sínodo de 1977 não deixou de assinalar “os limites e as deficiências que estão em contraste com o inegável progresso na vitalidade da atividade catequética e de iniciativas promissoras” (cf. Catechesi tradendae, n. 17). Essas deficiências devem suscitar uma atenta revisão dos meios empregados e da doutrina transmitida.

4. O Sínodo destacou em particular a necessidade de um ensinamento orgânico e sistemático, não improvisado. Se é verdade que a “repetição rotineira leva à estagnação, à letargia e, por fim, à paralisia”, é preciso reconhecer também que “a improvisação desconsiderada gera a confusão dos catequizandos e de seus pais quando se trata de crianças, desvios de toda a espécie, a ruptura e, finalmente, a ruína da unidade” (ibid.).
Além do caráter sistemático, com programa e objetivo preciso, três características do ensinamento catequético foram recordadas na conclusão dos debates do Sínodo. Assim, deve ser:
a) “um ensino que se concentre no essencial, sem ter a pretensão de tratar todas as questões disputadas, nem de transformar-se em investigação teológica ou em exegese científica”;
b) “um ensino, todavia, suficientemente completo, que não se contente em ser apenas primeiro anúncio do mistério cristão, o qual nós encontramos no querigma”;
c) “uma iniciação cristã integral, aberta a todos os componentes da vida cristã” (Catechesi tradendae, n. 21).
A vontade de oferecer um ensinamento completo brota espontaneamente de uma atitude de fé e de amor, que adere a toda a Revelação e que deseja comunicá-la. O espírito de fé é essencial a toda catequese cristã.
A pesquisa e o desenvolvimento dos métodos mais adequados não são suficientes se estes não estiverem animados com tal espírito de fé. Os aspectos científicos da pedagogia não podem suprir uma falta de fé. Em realidade, é a fé que estimula o catequista a buscar o melhor método para expor e transmitir a doutrina. É a fé que forma a alma da catequese e que inspira todo o esforço da pedagogia no ensinamento religioso.
Por outro lado, a catequese, sendo um dos modos da transmissão da Revelação na Igreja, não pode não estar regulada em seus conteúdos e em seus métodos pela estrutura própria de tal transmissão, a qual comporta a conexão indissolúvel entre Sagrada Escritura, Tradição e Magistério (cf. Dei Verbum, n. 10). Sobre esta estrutura teremos ocasião de voltar nas nossas Audiências posteriores.

6. O ensino da doutrina cristã
João Paulo II - 06 de março de 1985

1. O empenho da catequese implica, para a Igreja, uma intensa obra de formação dos catequistas. Também aqui é o exemplo de Cristo que nos ilumina. Durante o seu ministério, Jesus se dedicou sobretudo a formar aqueles que deviam difundir a sua mensagem em todo o mundo. Ele consagrou muito tempo a pregar às multidões, mas reservou um tempo ainda maior à formação dos seus discípulos. Ele os fez viver em sua companhia para inculcar-lhes a verdade da sua mensagem não apenas com suas palavras, mas com o seu exemplo e os seus contatos diários. Aos seus discípulos revelou os secretos do seu reino, os fez entrar no mistério de Deus, cuja revelação Ele mesmo trazia. Suscitou neles a fé e a fez crescer progressivamente, com uma instrução cada vez mais completa. Quando lhes deu a missão de ensinar a todas as nações, podia confiar-lhes esta tarefa, porque os havia dotado da doutrina que deviam divulgar, ainda que a sua plena compreensão viesse do Espírito Santo, que lhes daria a força divina do apostolado.
Recebendo esta lição do Mestre, a Igreja atribui uma grande importância à formação daqueles que têm a tarefa de ensinar a verdade revelada. Entre eles estão em primeiro lugar os Pastores, que em virtude do sacerdócio receberam a missão de anunciar a boa-nova em nome de Cristo. Estão também todos aqueles que participam da missão de ensinar da Igreja, em particular os catequistas, seja aqueles com dedicação plena ou aqueles “voluntários”. A formação dos catequistas é um elemento essencial do empenho comum para o desenvolvimento e a vitalidade da Igreja. Essa formação é necessária em todos os lugares; seu valor é ainda mais significativo em certos países, nos quais os catequistas desempenham um importante serviço nas comunidades cristãs que não dispõem de um número suficiente de sacerdotes. Em alguns lugares pode-se dizer que a Igreja vive graças à obra dos catequistas.

2. A formação catequética é muitas vezes assumida por institutos especializados; é de desejar que os catequistas se formem sempre mais nesses institutos, onde recebem tanto a indispensável instrução doutrinal quanto a preparação nos métodos pedagógicos.
A formação doutrinal é uma necessidade fundamental, visto que a catequese não pode limitar-se a ensinar um mínimo de verdades aprendidas e repetidas mecanicamente. Se o catequista tem a missão de inculcar em seus ouvintes toda a doutrina cristã, deve primeiro tê-la aprendido bem ele mesmo. Ele não deve simplesmente testemunhar a sua fé; deve comunicar o seu conteúdo. O ensinamento que recebeu em preparação ao Batismo, a Confirmação e a Comunhão muitas vezes não é suficiente para um conhecimento exato e profundo da fé a transmitir. É indispensável um estudo mais sistemático. De fato, às vezes as circunstâncias forçaram os responsáveis da catequese a recorrer à colaboração de pessoas de boa vontade, mas sem uma adequada preparação. Tais soluções geralmente são deficitárias. Para assegurar no futuro uma catequese sólida, é necessário confiar esta obra a catequistas que adquiriram, mediante o estudo, a competência doutrinal. Esta formação doutrinal é tanto mais necessária quanto o catequista vive em um mundo onde se difundem ideias e teorias de todo tipo, muitas vezes incompatíveis com a mensagem cristã. O catequista deve estar capacitado para reagir àquilo que vê e ouve, discernindo aquilo que pode ser acolhido e o que deve ser rechaçado. Ao assimilar bem a doutrina cristã e compreender o seu significado, ele poderá ensiná-la com fidelidade, conservando ao mesmo tempo um espírito aberto.

3. Ainda que o conhecimento da doutrina revelada requeira um esforço da inteligência, a formação doutrinal deve ser ao mesmo tempo um aprofundamento da fé. A finalidade essencial da catequese é a comunicação da fé, e é esta que deve guiar o estudo da doutrina. Um estudo que coloque em discussão a fé ou que introduza dúvidas sobre a verdade revelada não pode servir à catequese. O desenvolvimento da ciência doutrinal deve estar de acordo com um desenvolvimento da fé. Por isso os institutos de formação catequética devem considerar-se antes de tudo como escolas da fé.
A responsabilidade dos professores desses institutos é ainda maior porque a sua doutrina terá uma múltipla repercussão através dos catequistas que eles formam. É a responsabilidade de uma fé que traz o próprio testemunho e que manifesta seu ardor em buscar o sentido autêntico de tudo aquilo que nos é dado pela Revelação.
Além disso, os institutos de formação catequética têm o dever de desenvolver em seus estudantes o espírito missionário. A catequese não pode ser considerada uma mera atividade profissional, pois existe para difundir a mensagem de Cristo no mundo e, por este motivo, é ao mesmo tempo vocação e missão. Vocação porque há um chamado de Cristo àqueles que querem dedicar-se a esta tarefa. Missão porque desde as origens a catequese foi instaurada na Igreja para cumprir a ordem do Salvador Ressuscitado: “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos...” (Mt 28,19).

4. O ensinamento da doutrina cristã tem por objetivo não um simples conhecimento da verdade, mas a difusão da fé; tende a suscitar uma adesão da inteligência e do coração a Cristo e a expandir a comunidade cristã. Deve assumir-se, portanto, como uma missão da Igreja e para a Igreja. Os catequistas contribuem para a edificação do Corpo Místico de Cristo, para o seu crescimento na fé e na caridade.
Espera-se que tenham este espírito de missão não só os catequistas que exercem sua atividade nos chamados “países de missão”, mas sim todos os catequistas da Igreja, qualquer que seja o lugar onde ensinam. O espírito de missão move o catequista a empregar todas as suas forças e talentos no ensino. Faz com que se torne mais consciente da importância da sua obra e o torna capaz de afrontar melhor todas as dificuldades, com uma maior confiança na graça que o sustenta.
Desejamos, pois, que os progressos na formação dos catequistas favoreçam em todos os lugares o desenvolvimento da Igreja e da vida cristã sobre a base de uma fé sincera, convicta e coerente, à qual tende a catequese.

O diálogo de Jesus com a Samaritana (Giovanni Lanfranco):
Modelo de "itinerário formativo e mistagógico" (cf. Documento n. 107 da CNBB)

Tradução nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé (16 de janeiro e 06 de março de 1985). 

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