O Catecismo da Igreja Católica, promulgado
por São João Paulo II (†2005) em outubro de 1992, após um breve prólogo (nn. 1-25), está dividido em quatro partes: a profissão da fé (nn. 26-1065), a celebração do mistério cristão (nn. 1066-1690), a vida em Cristo (nn. 1691-2557) e a oração cristã (nn. 2558-2865).
Na primeira parte, a seção dedicada à profissão de fé
propriamente dita, isto é, ao Creio, está estruturada
em três capítulos, conforme as três Pessoas da Santíssima Trindade: o Pai (nn. 199-421), o Filho (nn. 422-682) e o Espírito Santo (nn. 683-1065).
No início desse terceiro capítulo há uma série de parágrafos (nn. 694-701) que apresentam oito símbolos
do Espírito Santo, alguns dos quais, com efeito, estão
diretamente ligados aos sinais sacramentais (como a água ou o óleo) e estão
presentes nos textos litúrgicos (leituras, orações, hinos...) e na arte sacra:
Catecismo da Igreja Católica
Os símbolos do Espírito Santo
694. A água
O simbolismo da água é significativo da ação do Espírito
Santo no Batismo, pois após a invocação do Espírito Santo ela se torna o sinal
sacramental eficaz do novo nascimento: assim como a gestação de nosso primeiro
nascimento se operou na água, da mesma forma também a água batismal significa
realmente que nosso nascimento para a vida divina nos é dado no Espírito Santo.
Mas, “batizados em um só Espírito”, também “bebemos de um só Espírito” (1Cor 12,13):
o Espírito é, pois, também pessoalmente a água viva que jorra de Cristo Crucificado
(cf. Jo 19,34; 1Jo 5,8)
como de sua fonte e que em nós jorra em vida eterna (cf. Jo 4,10-14; 7,38: Ex 17,1-6; Is 55,1;
Zc 14,8; 1Cor 10,4; Ap 21,6; 22,17).
O Espírito como "água viva" (Batistério do Santuário Nacional de Aparecida) |
695. A unção
O simbolismo da unção com óleo também é significativo do
Espírito Santo, a ponto de tornar-se sinônimo dele (cf. 1Jo 2,20.27; 2Cor 1,21). Na
Iniciação Cristã, ela é o sinal sacramental da Confirmação, chamada com acerto nas
Igrejas do Oriente de “crismação”. Mas, para perceber toda a força deste
simbolismo, há que retornar à unção primeira realizada pelo Espírito Santo: a
de Jesus. Cristo (“Messias” a partir do hebraico) significa “Ungido” pelo
Espírito de Deus. Houve “ungidos” do Senhor na Antiga Aliança (cf. Ex 30,22-32), de
modo eminente o rei Davi (cf. 1Sm 16,13).
Mas Jesus é o Ungido de Deus de uma forma única: a humanidade que o Filho
assume é totalmente “ungida pelo Espírito Santo”. Jesus é constituído “Cristo”
pelo Espírito Santo (cf. Lc 4,18-19; Is 61,1).
A Virgem Maria concebe Cristo do Espírito Santo, que pelo anjo O anuncia como
Cristo por ocasião do seu nascimento (cf. Lc 2,11)
e leva Simeão a vir ao Templo ver o Cristo do Senhor (Lc 2,26-27); é
Ele que plenifica o Cristo (cf. Lc 4,1),
é o poder d’Ele que sai de Cristo em seus atos de cura e de salvação (cf. Lc 6,19; 8,46). É finalmente
Ele que ressuscita Jesus dentre os mortos (cf.
Rm 1,4; 8,11). Então, constituído plenamente “Cristo” em sua Humanidade
vencedora da morte (cf. At 2,36),
Jesus difunde em profusão o Espírito Santo até “os santos” constituírem, em sua
união com a Humanidade do Filho de Deus, esse “homem perfeito... que realiza a
plenitude de Cristo” (Ef 4,13): “o Cristo total”, segundo a
expressão de Santo Agostinho [1].
696. O fogo
Enquanto a água significa o nascimento e a fecundidade da
vida dada no Espírito Santo, o fogo simboliza a energia transformadora dos atos
do Espírito Santo. O profeta Elias, que “surgiu como um fogo cuja palavra
queimava como uma tocha” (Eclo 48,1),
por sua oração atrai o fogo do céu sobre o sacrifício do monte Carmelo (cf. 1Rs 18,38-39), figura
do fogo do Espírito Santo que transforma o que toca. João Batista, “que caminha
diante do Senhor com o espírito e o poder de Elias” (Lc 1,17), anuncia o Cristo como Aquele que “batizará
com o Espírito Santo e com o fogo” (Lc 3,16),
esse Espírito do qual Jesus dirá: “Vim trazer fogo à terra, e quanto desejaria
que já estivesse acesso!” (Lc 12,49).
É sob a forma de línguas “que se diriam de fogo” que o Espírito Santo pousa
sobre os discípulos na manhã de Pentecostes e os enche de Si (cf. At 2,3-4). A
tradição espiritual manterá este simbolismo do fogo como um dos mais
expressivos da ação do Espírito Santo [2]. “Não extingais o Espírito!” (1Ts 5,19).
O Espírito como "fogo" (As chamas remetem também aqui ao símbolo da pomba) |
697. A nuvem e a luz
Estes dois símbolos são inseparáveis nas manifestações do
Espírito Santo. Desde as teofanias do Antigo Testamento, a Nuvem, ora escura, ora
luminosa, revela o Deus vivo e salvador, escondendo a transcendência de
sua Glória: com
Moisés sobre a montanha do Sinai (cf. Ex 24,15-18),
na Tenda da Reunião (cf. Ex 33,9-10)
e durante a caminhada no deserto (cf. Ex 40,36-38; 1Cor 10,1-2);
com Salomão por ocasião da dedicação do Templo (cf. 1Rs 8,10-12). Ora, estas figuras são cumpridas por
Cristo no Espírito Santo. É este que paira sobre a Virgem Maria e a cobre “com
sua sombra”, para que ela conceba e dê à luz Jesus (cf. Lc 1,35). No monte da Transfiguração, é Ele
que “sobrevém na nuvem que toma” Jesus, Moisés e Elias, Pedro, Tiago e João
debaixo de sua sombra”; da Nuvem sai uma voz que diz: “Este é meu Filho, o Eleito,
ouvi-O sempre” (Lc 9,34-35).
É finalmente essa Nuvem que “subtrai Jesus aos olhos” dos discípulos no dia da
Ascensão (cf. At 1,9)
e que O revelará como Filho do Homem em sua glória no Dia de sua Vinda (cf. Lc 21,27).
698. O selo
O selo é um
símbolo próximo ao da unção. Com efeito, é Cristo que “Deus marcou com seu selo” (Jo 6,27) e é n’Ele que também
o Pai nos marca com seu selo» (cf. 2Cor 1,22;
Ef 1,13; 4,30.). Por indicar o efeito indelével da unção do Espírito
Santo nos sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem, a imagem do selo (sphragis) tem sido utilizada em certas
tradições teológicas para exprimir o “caráter” indelével impresso por estes
três sacramentos que não podem ser reiterados.
699. A mão
É impondo as mãos que Jesus cura os doentes (cf. Mc 6,5; 8,23) e
abençoa as criancinhas (cf. Mc 10,16).
Em nome d’Ele, os Apóstolos farão o mesmo (cf. Mc 16,18;
At 5,12; 14,3). Melhor ainda: é pela imposição das mãos dos Apóstolos
que o Espírito Santo é dado (cf. At 8,17-19;
13,3; 19,6). A Epístola aos Hebreus inclui
a imposição das mãos entre os “artigos fundamentais” de seu ensinamento (cf. Hb 6,2). A Igreja
conservou este sinal da efusão onipotente do Espírito Santo em suas epicleses
sacramentais.
O Espírito como "mão criadora e vivificadora" |
700. O dedo
“É pelo dedo de Deus que [Jesus] expulsa os demônios” (cf. Lc 11,20.). Se a
Lei de Deus foi escrita em tábuas de pedra “pelo dedo de Deus” (Ex 31,18),
a “letra de Cristo”, entregue aos cuidados dos Apóstolos, “é escrita com o Espírito
de Deus vivo não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, nos corações” (2Cor 3,3). O hino Veni, Creator Spíritus (Vinde, Espírito
Criador) invoca o Espírito Santo como “dedo da direita paterna” (digitus
paternae dexterae) [3].
701. A pomba
No fim do dilúvio (cujo simbolismo está ligado ao Batismo),
a pomba solta por Noé volta com um ramo novo de oliveira no bico, sinal de que
a terra é de novo habitável (cf. Gn 8,8-12)
Quando Cristo volta a subir da água de seu batismo, o Espírito Santo, em forma
de uma pomba, desce sobre Ele e sobre Ele permanece (cf. Mt 3,16 e paralelos). O Espírito desce e
repousa no coração purificado dos batizados. Em certas igrejas, a santa Reserva
eucarística é conservada em um recipiente metálico em forma de pomba (o columbarium) suspenso acima do altar.
O símbolo da pomba para sugerir o Espírito Santo é tradicional na iconografia
cristã.
O célebre vitral do Espírito Santo representado como "pomba" (Basílica de São Pedro no Vaticano) |
Notas:
[1] Santo Agostinho, Sermão
341, 1, 1: PL 39, 1493; ibid., 9, 11:
PL 39. 1499.
[2] cf. São João
da Cruz, A chama viva do amor.
[3] Dominica Pentecostes, Hymnus ad I et II Vesperas: Liturgia
Horarum, v. 2, Tipografia
Poliglota Vaticana, 1974, pp. 795.812.
Fonte:
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição revisada de acordo com o texto oficial em latim. São Paulo:
Loyola, 1999, pp. 200-203.
Postagem publicada originalmente em 26 de maio de 2012.
Revista e ampliada em 10 de maio de 2022.
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