sábado, 23 de março de 2019

Homilia: III Domingo da Quaresma - Ano C

Santo Agostinho
Sermão 205
“Esta cruz não é cruz somente de quarenta dias, mas de toda a vida”

Começamos hoje a observância quaresmal, novamente apresentada com rito solene, e nesta ocasião também a vós é necessária uma solene exortação de nossa parte, a fim de que a Palavra de Deus, apresentada por nosso ministério, alimente o coração dos que jejuam no corpo. Desta maneira o homem interior, alimentado com o seu manjar especial, poderá completar a maceração do homem exterior, e suportá-lo com maior integridade.  Pois é muito conveniente à nossa devoção que nos disponhamos a celebrar a Paixão do Senhor crucificado que já está próxima, e façamos para nós mesmos a cruz da repressão dos prazeres carnais, como diz o Apóstolo: Os que são de Jesus Cristo crucificaram sua carne com suas paixões e concupiscências.
Desta cruz o cristão deve continuamente pender durante toda esta vida que percorre entre tentações. Este tempo não é de arrancar cravos, dos quais se fala no salmo: Transpassa minhas carnes com os cravos de teu temor. As carnes são as concupiscências carnais; os cravos, os preceitos da justiça: com estes cravos nos transpassa o temor de Deus, porque nos crucifica como vítima agradável a ele. Por isso, novamente nos diz o Apóstolo: Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a apresentar vossos corpos como hóstia viva, santa, agradável a Deus. É, pois, aquela cruz da qual o servo de Deus não se envergonha; pelo contrário, gloria-se dela, dizendo: Deus me livre de gloriar-me a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, na qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.
Esta cruz não é uma cruz somente de quarenta dias, mas de toda a vida. Por isso, Moisés, Elias e o próprio Senhor jejuaram quarenta dias, para insinuar-nos em Moisés, em Elias e no próprio Senhor, isto é, na lei, nos profetas e no próprio Evangelho, que nós vamos proceder da mesma forma, para que não nos acomodemos nem nos apeguemos a este mundo, mas que crucifiquemos ao homem velho.
Vive sempre assim, ó cristão! Se não queres que teus pés se afundem na lama, não baixes da cruz. E se temos de fazer isto durante toda a vida, muito mais durante estes dias da Quaresma, nos quais não somente se vive, mas que também está simbolizada a vida presente.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 566-567. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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