sábado, 16 de março de 2019

Homilia: II Domingo da Quaresma - Ano C

São Cirilo de Alexandria
Comentário ao Evangelho de São João
“Abertamente nos é pregado o mistério de Cristo”

Suscitarei um profeta dentre teus irmãos, assim como tu. Porei minhas palavras em sua boca, e lhes dirá o que eu ordenar. A quem não escutar minhas palavras que pronuncie em meu nome, pedirei contas a ele.
O Deuteronômio é uma espécie de repetição e como que uma recapitulação dos livros de Moisés. Observa como novamente nos é anunciado aqui abertamente o mistério de Cristo, conscientemente prefigurado, por sutilíssima contemplação, na pessoa de Moisés: o Senhor teu Deus te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu. Assim, a mediação de Moisés, colocada a serviço do povo para manifestar-lhe os decretos divinos, foi instituída para indicar a debilidade dos homens da época.
Passe do tipo (imagem) para a realidade, e contemplarás através desta figura ao mediador entre Deus e os homens: Cristo, colocando em expressão humana, ao serviço dos dóceis, quando por nós nasceu de uma mulher, a inefável vontade do Pai, conhecida unicamente por ele, enquanto que, como Filho, dele procede, e enquanto ele mesmo é a sabedoria, que a tudo penetra, até a profundidade de Deus.
Entretanto, já que nossos olhos corporais não podem ver a divina, inefável, pura e simples glória da divindade que transcende a tudo - ninguém pode ver minha face, diz, e continuar com vida -, por isso foi necessário que o Verbo Unigênito de Deus assumisse nossa débil condição, se revestisse, por um inescrutável desígnio divino, deste corpo mortal, e nos manifestasse a soberana vontade de Deus Pai, dizendo: Tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer. E também: Eu não falei em meu nome; o Pai que me enviou me encarregou sobre o que devia dizer.
Portanto, temos de considerar que se Moisés, que manifestava aos filhos de Israel os decretos divinos, é o tipo de Cristo; sua mediação é uma mediação de serviço, enquanto que a de Cristo é uma mediação voluntária e mística, como aquele que toca por sua própria natureza os dois extremos dos quais é mediador e a ambos pertence, a saber: à humanidade da qual é mediador e ao Pai enquanto é Deus.
Cristo é, como se disse, o fim da instituição legal; Cristo é a plenitude da Lei e dos Profetas.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 565-566. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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