quinta-feira, 7 de março de 2019

Homilia do Papa: VIII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Visita Pastoral à Paróquia Romana de São Crispim de Viterbo
Domingo, 03 de março de 2019

Ouvimos no Evangelho como Jesus explica às pessoas a sabedoria cristã, com parábolas. Por exemplo: “um cego não pode guiar outro cego” (Lc 6,39); depois: “o discípulo não é maior que o mestre” (v. 40); e ainda: “não existe árvore boa que dê frutos ruins” (v. 43). E assim, com estas parábolas, ensina às pessoas.

Eu irei me deter apenas em uma, que não repeti. Agora a digo: “Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? Como podes dizer a teu irmão: irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (vv. 41-42). E com isto o Senhor quer ensinar-nos a não andar criticando os outros, a não andar observando os defeitos dos outros: observa primeiro os teus, os teus defeitos. “Mas, Padre, eu não os tenho” - Ah, parabéns! Te asseguro que se não os perceber aqui, os encontrará no Purgatório! Melhor vê-los aqui.

Todos temos defeitos, todos. Mas estamos habituados, um pouco por inércia, um pouco pela força da gravidade do egoísmo, a olhar os defeitos dos outros: somos todos especialistas nisso. Encontramos logo os defeitos dos outros. E falamos. Porque falar mal dos outros parece uma coisa doce, prazerosa. Não, nesta paróquia talvez não aconteça [risos], mas em outros lugares é muito comum. Sempre acontece assim: “Ah, como estás?” - “Bem, bem, com este tempo, vou bem...” - “Mas você viu aquilo...?”. E imediatamente nós caímos nisso.

Não sei se vocês sentem essas coisas, mas é uma coisa feia. E não é uma coisa nova: no tempo de Jesus se fazia isto. É uma coisa que, com o pecado original que temos, nos leva a condenar os outros, a condenar. E logo nos tornamos especialistas em encontrar as coisas feias nos outros, sem ver as nossas. Mas Jesus diz: “Você condena alguém por essa pequena coisa, mas faz coisas muito piores e não as vê”. E isto é verdadeiro: a nossa maldade não nos parece tanta, porque estamos acostumados a não ver nossos limites, a não ver os nossos defeitos, mas somos especialistas em ver os defeitos dos outros.

E Jesus nos diz uma palavra muito dura, muito dura: “Se vocês andam nesta estrada, sois hipócritas”. É duro dizer hipócrita: Jesus o dizia aos fariseus, aos doutores da lei, que diziam uma coisa e faziam outra. Hipócrita. Hipócrita quer dizer alguém que tem um duplo pensamento, um duplo julgamento: um o diz abertamente, o outro secretamente, com o qual condena os outros. É ter um duplo modo de pensar, um duplo modo de fazer-se ver. Faz-se ver como pessoa boa, perfeita e por trás condena. Por isso Jesus foge dessa hipocrisia e nos aconselha: “É melhor que você olhe para os teus defeitos e deixa os outros viverem em paz. Não meta-se na vida dos outros: cuida da tua”.

E esta é uma coisa que não termina ali: a fofoca não termina na fofoca; a fofoca vai além, semeia discórdia, semeia inimizade, semeia o mal. Ouçam isso, não exagero: com a língua começam as guerras. Tu, falando mal dos outros, começa uma guerra. Um passo em direção à guerra, uma destruição. Porque é o mesmo destruir o outro com a língua e com uma bomba atômica, é o mesmo. Tu destróis. E a língua tem o poder de destruir como uma bomba atômica. É potentíssima. E isto não digo eu, diz o Apóstolo Tiago na sua Carta. Tomai a Bíblia e olhai isto. É potentíssima. É capaz de destruir. E com os insultos, com o falar mal dos outros começam tantas guerras: guerras domésticas - se começa a gritar -, guerras no bairro, no local de trabalho, na escola, na paróquia... Por isto Jesus diz: “Antes de falar dos outros, tome um espelho e olhe a si mesmo; olhe os seus defeitos e sinta vergonha de tê-los. E assim se tornará mudo sobre os defeitos dos outros”. “Não, Padre, é que tantas vezes há gente má, que tem tantos defeitos...” Mas, vá bem, sê corajoso, sê corajosa, e diga-lhe na cara. “Tu és mau, tu és má, porque está fazendo isso e isso”. Diga-lhe na cara, não pelas costas, não por trás.  Diga-lhe na cara. “Mas não quer escutar-me”. Agora diga a quem pode pôr remédio a isto, a quem pode corrigir, mas não diga na fofoca, porque a fofoca não resolve nada, pelo contrário, faz piorar as coisas e te leva à guerra.

Logo começaremos a Quaresma: seria belo que cada um de nós, nesta Quaresma, refletisse sobre isso. Como eu me comporto com as pessoas? Como é o meu coração diante das pessoas? Sou um hipócrita que dou um sorriso e depois por trás critico e destruo com a minha língua? E se nós no final da Quaresma formos capazes de corrigir um pouco isso, e não andar sempre criticando os outros por trás, vos asseguro que a Ressurreição de Jesus se verá mais bela, maior entre nós. “Eh, Padre, é muito difícil, para mim não criticar os outros” - pode dizer cada um de nós, porque é um hábito que o diabo põe em nós. É verdade, não é fácil. Mas há dois remédios que ajudam muito. Antes de tudo, a oração. Se a ti vem “descascar” o outro, criticar o outro, reza por ele, reza por ela e peça ao Senhor que resolva esse problema e, a ti, feche a boca. Primeiro remédio: a oração. Sem a oração não podemos fazer nada. E segundo, há outro remédio, também esse prático como a oração: quando sentes a vontade de falar mal de alguém, morda a língua. Forte! Porque assim se incha a língua e não poderá falar [risos]. É um remédio prático, muito prático.

Pensai a sério sobre isto que diz Jesus: “Porque olhas os defeitos dos outros e não olhas os teus, que são maiores?”. Pensai bem. Pensai que este mau hábito é o início de tantas desuniões, de tantas guerras domésticas, guerras no bairro, guerras no local de trabalho, de tantas inimizades. Pensai nisso. E rezai ao Senhor, rezai para que nos dê a graça de não falar mal dos outros. E todos os dias conservai a dentadura para que esteja sempre pronta a tomar o segundo remédio.
O Senhor vos abençoe!


Tradução livre do original italiano.

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