quarta-feira, 20 de março de 2019

Angelus do Papa: II Domingo da Quaresma - Ano C

Papa Francisco
Angelus
II Domingo da Quaresma, 17 de março de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Neste segundo domingo da Quaresma, a Liturgia nos faz contemplar o evento da Transfiguração, no qual Jesus concede aos discípulos Pedro, Tiago e João pregustar a glória da Ressurreição: um recorte do céu sobre a terra. O evangelista Lucas (cf. 9,28-36) nos mostra Jesus transfigurado sobre o monte, que é o lugar da luz, símbolo fascinante da singular experiência reservada aos três discípulos. Eles sobem com o Mestre a montanha, o veem imergir-se na oração e em certo ponto «o seu rosto mudou de aspecto» (v. 29). Habituados a vê-lo quotidianamente na simples semelhança da sua humanidade, diante daquele novo esplendor, que envolve toda a sua pessoa, eles ficam espantados. E junto a Jesus aparecem Moisés e Elias, que falam com Ele do seu próximo “êxodo”, isto é, da sua Páscoa de morte e ressurreição. É uma antecipação da Páscoa. Agora Pedro exclama: «Mestre, é bom estarmos aqui» (v. 33). Quer que aquele momento de graça não termine mais!
A Transfiguração acontece em um momento bem preciso da missão de Cristo, isto é, depois que Ele confiou aos discípulos que deverá «sofrer muito (...) ser morto e ressuscitar no terceiro dia» (v. 21). Jesus sabe que eles não aceitam essa realidade – a realidade da cruz, a realidade da morte de Jesus –, e agora quer prepará-los para suportar o escândalo da paixão e da morte de cruz, porque sabemos que este é o caminho através do qual o Pai celeste fará chegar à glória o seu Filho, ressuscitando-o dos mortos. E este será também o caminho dos discípulos: ninguém chega à vida eterna senão seguindo Jesus, levando a própria cruz na vida terrena. Cada um de nós tem a própria cruz. O Senhor nos faz ver o fim deste percurso, que é a Ressurreição, a beleza, levando a própria cruz.
Assim, a Transfiguração de Cristo nos mostra a perspectiva cristã do sofrimento. Não é um sadomasoquismo o sofrimento: este é uma passagem necessária mas transitória. O ponto de chegada ao qual somos chamados é luminoso como o rosto de Cristo transfigurado: n’Ele está a salvação, a bem-aventurança, a luz, o amor de Deus sem limites. Mostrando assim a sua glória, Jesus nos assegura que a cruz, a provação, as dificuldades nas quais nos debatemos têm sua solução e sua superação na Páscoa. Por isso, nesta Quaresma, subamos também nós o monte com Jesus! Mas de que modo? Com a oração. Subamos o monte com a oração: a oração silenciosa, a oração do coração, a oração sempre buscando o Senhor. Permaneçamos alguns momentos em recolhimento, cada dia um pouquinho, fixando o olhar interior sobre o seu rosto e deixemos que a sua luz nos invada e irradie na nossa vida.
Com efeito, o evangelista Lucas insiste no fato que Jesus se transfigurou «enquanto rezava» (v. 29). Era imerso em um colóquio íntimo com o Pai, no qual ressoavam também a Lei e os Profetas – Moisés e Elias – e enquanto aderia com todo o seu ser à vontade de salvação do Pai, incluindo a cruz, a glória de Deus o invade, transparecendo também no exterior. É assim, irmãos e irmãs: a oração em Cristo e no Espírito Santo transforma a pessoa do interior e pode iluminar os outros e o mundo circundante. Quantas vezes encontramos pessoas que iluminam, que emanam luz dos olhos, que têm aquele olhar luminoso! Rezam, e a oração faz isto: nos faz luminosos com a luz do Espírito Santo.
Prossigamos com alegria o nosso itinerário quaresmal. Demos espaço à oração e à Palavra de Deus, que abundantemente a Liturgia nos propõe nestes dias. A Virgem Maria nos ensine a permanecer com Jesus também quando não o entendemos e não o compreendemos. Porque só permanecendo com Ele veremos a sua glória.


Tradução livre do original italiano.

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